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Artigo escrito em 1999
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 01/15/02 14:09:44
Cada macaco no seu galho 

Mário Persona (*)
Colaborador

Li certa vez um conto sobre um cientista que vivia em uma pequena cidade do interior e trabalhava em uma experiência envolvendo macacos. Ele precisava de um ou dois macacos para o seu trabalho e enviou um telegrama a uma empresa que fornecia animais para serem usados como cobaias. A mensagem dizia: 

"FAVOR ENVIAR 1 OU 2 MACACOS PARA MINHAS EXPERIÊNCIAS" 

As dificuldades de comunicação na época eram imensas e no processo de cópia do telegrama alguém trocou "1 OU 2" por "1002". Quando o trem chegou, trazia em seus vagões mil e dois chimpanzés que iriam infernizar a vida dos moradores do local. 

Teria a ficção algum fundo de verdade? Com certeza, especialmente para quem trabalha no departamento de compras de uma grande empresa e já amargou as conseqüências de uma falha na comunicação de um pedido. Verdadeiros pesadelos são desencadeados por um fax ilegível ou um telefonema mal entendido. Aqueles compradores mais experientes, que já têm um ombro mais alto que o outro depois de anos segurando o telefone com o queixo, saberão do que estou falando.

EDI - Os avanços na transmissão de dados têm, até certo ponto, resolvido boa parte do problema de comunicação entre empresas. Fala-se muito em EDI como a solução para muitos males de comunicação, porém a sigla para Electronic Data Interchange, ou troca eletrônica de dados, cobre uma gama muito vasta de aplicações, nem todas facilitando especificamente a área de compras. 

Se você amarrar um disquete no pescoço de um cão São Bernardo e mandá-lo de uma empresa para outra estará praticando uma forma de "troca eletrônica de dados", mas não estará otimizando seu departamento de compras, nem reduzindo seus custos (vai precisar de ração!). E tampouco estará facilitando a vida de seus funcionários. A menos, é claro, que o cachorrão leve também o barrilzinho de conhaque na coleira para amenizar o stress do pessoal.

A Internet tornou possível comunicar informações de compra de uma forma muito mais rápida, clara e precisa do que o telegrama, telex, telefone ou fax utilizados no passado. Ela possibilitou o EDI em tempo real, algo que a área de compras das empresas que já utilizam o sistema aplaude com muito mais entusiasmo do que a chegada de um São Bernardo com barrilzinho no pescoço. Ou, digamos, com igual entusiasmo.

O fato é que a possibilidade de se fazer EDI pela Internet em tempo real resultou em um menor tempo de resposta no processo de compra, maior precisão nos pedidos e um controle de estoque mais enxuto, além de pavimentar o caminho para a administração da cadeia de suprimentos. Também conhecida como supply-chain, ela é responsável por interligar eletronicamente desde o pé de trigo do campo até o pão que está em sua mesa. Deste modo, produção, processamento, transporte, distribuição, venda e pesquisa de mercado acabam formando uma cadeia que se assemelha a um monstruoso novelo de dados, tão integrado que é quase impossível identificar a ponta.

Precisão - Mas sua forma de fazer uma sociedade construída sobre os alicerces da comunicação não pode se dar ao luxo de conviver com gritos de "Alô, Alô" e a repetição de tarefas do tipo: "O fax não chegou? Eu envio outra vez...". Todo meio de transmissão de informação que for impreciso ou sujeito a fraudes e atrasos pode e deve ser eliminado do processo de compras de uma empresa que queira competir em tempos bicudos e se integrar numa cadeia de suprimentos. O transporte inadequado da informação pode gerar o transporte inadequado dos insumos de uma indústria. E no lugar de um ou dois, a fábrica acaba recebendo mil e dois macacos. Neste caso hidráulicos, evidentemente.

Um grande fabricante de copiadoras no Brasil percebeu a vantagem do EDI em tempo real quando colocou toda a sua equipe de compradores frente a frente com dezenas de fornecedores que alimentam a produção com peças que vão desde parafusos até componentes eletrônicos. Usando a Internet como meio, e o browser ou navegador como interface, os fornecedores podem ter, na tela de seus micros, as informações de estoque relativas aos produtos que lhes dizem respeito. O uso da Internet tornou o processo de compras e controle de estoques muito mais racional.

Tendência - Macacos me mordam se eu estiver errado, mas a verdade é que muito em breve a maioria das empresas estará acordando para a necessidade de um sistema assim, passando a transferir para seus fornecedores a responsabilidade de manter estoques. O baixo custo de comunicação entre empresas, decretado pela popularização da Internet, e a universalidade dessa interface que é o browser de navegação, o qual dispensa treinamentos e adaptações dispendiosas, são vantagens indiscutíveis nesta revolução na área de negócios entre empresas.

Obviamente, sistemas assim introduzem elementos novos na paisagem empresarial. Passou a ser uma necessidade vital de todo negócio fazer da Internet o seu habitat e contar com a ajuda de empresas de desenvolvimento e hospedagem de sistemas para garantir o fluxo ininterrupto de seus dados. O resultado é, inegavelmente, um aumento na produtividade e redução dos custos. Tudo por conta da racionalização de processos. O comprador pode dedicar mais tempo e energia à sua atividade principal, que é gerenciar o processo de compra, livrando-se do problema da comunicação. Esta passa a ocorrer nos bastidores, invisível ao comprador, já que passa a ser responsabilidade de empresas especializadas em Internet. Afinal, cada macaco no seu galho.

(*) Mário Persona é consultor, escritor e palestrante. Esta crônica faz parte dos temas apresentados em suas palestras. Edita o boletim eletrônico Crônicas de Negócios e mantém endereço próprio na Web, onde seus textos estão disponíveis.