Cada macaco no seu galho
Mário Persona (*)
Colaborador
Li certa
vez um conto sobre um cientista que vivia em uma pequena cidade do interior
e trabalhava em uma experiência envolvendo macacos. Ele precisava
de um ou dois macacos para o seu trabalho e enviou um telegrama a uma empresa
que fornecia animais para serem usados como cobaias. A mensagem dizia:
"FAVOR ENVIAR 1 OU 2 MACACOS PARA
MINHAS EXPERIÊNCIAS"
As dificuldades de comunicação
na época eram imensas e no processo de cópia do telegrama
alguém trocou "1 OU 2" por "1002". Quando o trem chegou, trazia
em seus vagões mil e dois chimpanzés que iriam infernizar
a vida dos moradores do local.
Teria a ficção algum fundo
de verdade? Com certeza, especialmente para quem trabalha no departamento
de compras de uma grande empresa e já amargou as conseqüências
de uma falha na comunicação de um pedido. Verdadeiros pesadelos
são desencadeados por um fax ilegível ou um telefonema mal
entendido. Aqueles compradores mais experientes, que já têm
um ombro mais alto que o outro depois de anos segurando o telefone com
o queixo, saberão do que estou falando.
EDI - Os avanços na
transmissão de dados têm, até certo ponto, resolvido
boa parte do problema de comunicação entre empresas. Fala-se
muito em EDI como a solução para muitos males de comunicação,
porém a sigla para Electronic Data Interchange, ou troca eletrônica
de dados, cobre uma gama muito vasta de aplicações, nem todas
facilitando especificamente a área de compras.
Se você amarrar um disquete
no pescoço de um cão São Bernardo e mandá-lo
de uma empresa para outra estará praticando uma forma de "troca
eletrônica de dados", mas não estará otimizando seu
departamento de compras, nem reduzindo seus custos (vai precisar de ração!).
E tampouco estará facilitando a vida de seus funcionários.
A menos, é claro, que o cachorrão leve também o barrilzinho
de conhaque na coleira para amenizar o stress do pessoal.
A Internet tornou possível
comunicar informações de compra de uma forma muito mais rápida,
clara e precisa do que o telegrama, telex, telefone ou fax utilizados no
passado. Ela possibilitou o EDI em tempo real, algo que a área de
compras das empresas que já utilizam o sistema aplaude com muito
mais entusiasmo do que a chegada de um São Bernardo com barrilzinho
no pescoço. Ou, digamos, com igual entusiasmo.
O fato é que a possibilidade
de se fazer EDI pela Internet em tempo real resultou em um menor tempo
de resposta no processo de compra, maior precisão nos pedidos e
um controle de estoque mais enxuto, além de pavimentar o caminho
para a administração da cadeia de suprimentos. Também
conhecida como supply-chain, ela é responsável por
interligar eletronicamente desde o pé de trigo do campo até
o pão que está em sua mesa. Deste modo, produção,
processamento, transporte, distribuição, venda e pesquisa
de mercado acabam formando uma cadeia que se assemelha a um monstruoso
novelo de dados, tão integrado que é quase impossível
identificar a ponta.
Precisão - Mas sua
forma de fazer uma sociedade construída sobre os alicerces da comunicação
não pode se dar ao luxo de conviver com gritos de "Alô, Alô"
e a repetição de tarefas do tipo: "O fax não chegou?
Eu envio outra vez...". Todo meio de transmissão de informação
que for impreciso ou sujeito a fraudes e atrasos pode e deve ser eliminado
do processo de compras de uma empresa que queira competir em tempos bicudos
e se integrar numa cadeia de suprimentos. O transporte inadequado da informação
pode gerar o transporte inadequado dos insumos de uma indústria.
E no lugar de um ou dois, a fábrica acaba recebendo mil e dois macacos.
Neste caso hidráulicos, evidentemente.
Um grande fabricante de copiadoras
no Brasil percebeu a vantagem do EDI em tempo real quando colocou toda
a sua equipe de compradores frente a frente com dezenas de fornecedores
que alimentam a produção com peças que vão
desde parafusos até componentes eletrônicos. Usando a Internet
como meio, e o browser ou navegador como interface, os fornecedores
podem ter, na tela de seus micros, as informações de estoque
relativas aos produtos que lhes dizem respeito. O uso da Internet tornou
o processo de compras e controle de estoques muito mais racional.
Tendência - Macacos
me mordam se eu estiver errado, mas a verdade é que muito em breve
a maioria das empresas estará acordando para a necessidade de um
sistema assim, passando a transferir para seus fornecedores a responsabilidade
de manter estoques. O baixo custo de comunicação entre empresas,
decretado pela popularização da Internet, e a universalidade
dessa interface que é o browser de navegação,
o qual dispensa treinamentos e adaptações dispendiosas, são
vantagens indiscutíveis nesta revolução na área
de negócios entre empresas.
Obviamente, sistemas assim introduzem
elementos novos na paisagem empresarial. Passou a ser uma necessidade vital
de todo negócio fazer da Internet o seu habitat e contar com a ajuda
de empresas de desenvolvimento e hospedagem de sistemas para garantir o
fluxo ininterrupto de seus dados. O resultado é, inegavelmente,
um aumento na produtividade e redução dos custos. Tudo por
conta da racionalização de processos. O comprador pode dedicar
mais tempo e energia à sua atividade principal, que é gerenciar
o processo de compra, livrando-se do problema da comunicação.
Esta passa a ocorrer nos bastidores, invisível ao comprador, já
que passa a ser responsabilidade de empresas especializadas em Internet.
Afinal, cada macaco no seu galho.
(*) Mário
Persona é consultor, escritor e palestrante. Esta crônica
faz parte dos temas apresentados em suas palestras. Edita o boletim eletrônico
Crônicas
de Negócios e mantém endereço
próprio na Web, onde seus textos estão disponíveis. |