Anatomia de um sucesso
Mário Persona (*)
Colaborador
Uma loja
que vende presentes na Web, inaugurada em março de 1998, prevê
uma receita de 1 milhão de dólares ainda este ano. Utopia?
Quem já passou pela experiência de abrir o bazar de seus sonhos
sabe que esta não é uma tarefa fácil, mesmo no comércio
tradicional. Quantas camisetas sobraram da última lojinha que você
montou? Seus parentes que o digam, a julgar pelo que ganharam nos últimos
cinco aniversários.
Porém o cenário está
mais cor-de-rosa para a TheGift.com,
de Jeff Swearingen. Seu bazar cibernético está fazendo o
maior sucesso, muito embora Jeff tenha ido parar atrás do balcão
virtual sem saber nada de comércio e menos ainda de Internet. A
julgar por outros casos de sucesso, a inexperiência parece ser uma
grande aliada de alguns dos novos empreendedores da rede.
Óbvio - Tentar resolver
o óbvio foi um dos ingredientes básicos da receita usada
por Jeff. Primeiro ele vestiu a camisa de quem precisa comprar um presente,
um problema enorme para quem tem alergia a compras. Então saiu em
busca de um processo de compras que fosse indolor até para o maior
inimigo de passeios por shopping centers. Se você já
acompanhou sua esposa a uma loja de calçados, sabe do que estou
falando. Porém Jeff não entrou na Web pisando nas nuvens,
mas com os dois pés no chão, sabendo que para conquistar
seu espaço seria preciso ter bons produtos a preços baixos.
Afinal seu concorrente, mesmo que estabelecido na Malásia, estaria
a apenas um clique de distância.
Como em qualquer negócio,
não seria possível queimar etapas, e um diálogo do
livro "Alice no País das Maravilhas", de Lewis Carroll, ilustra
bem a trajetória da TheGift.com, ou de qualquer aspirante a negociar
na rede:
"O Coelho Branco colocou os óculos
e perguntou: - Com licença de Vossa Majestade, devo começar
por onde? - Comece pelo começo - disse o Rei, com ar muito grave
- e vá até o fim. Então pare".
O conselho de Sua Majestade é
digno de ser seguido. Um bom começo é fator importante para
o sucesso de um negócio, e a TheGift.com não poupou esforços
na busca de uma infra-estrutura de Internet que fosse capaz de manter seu
sistema de e-commerce no ar 24 horas por dia. Neste ramo um servidor
fora do ar tem o mesmo efeito de se bater a porta na cara do cliente. Uma
vez encontrado um bom sistema de e-commerce e um provedor de serviços
digno de confiança, pode-se desobedecer parcialmente o conselho
do rei. Vá até o fim... mas não pare!
Investimento - A experiência
da TheGift.com ensina que o lucro não vem se não houver investimento.
Boa parte de seu faturamento é novamente investido no aprimoramento
de seu site, no qual Jeff calcula já ter gasto uns 500 mil dólares.
Sua despesa com hospedagem e manutenção varia de quinhentos
a mil dólares mensais, além dos cerca de 5 mil dólares
que são injetados em propaganda. Por curioso que possa parecer,
Jeff não aconselha a propaganda em banners, com os quais
obteve pouco retorno. Segundo ele, os internautas já estão
ficando condicionados a não clicar em qualquer coisa que tenha a
forma de um banner.
Mas sua forma de fazer marketing
tem dado bons resultados. À semelhança da Amazon.com, que
paga comissão a mais de cento e trinta mil sites particulares para
vender seus livros, a TheGift.com também aprendeu a lição
do trabalho em rede. Assim qualquer pessoa pode expor produtos da TheGift.com
em seu próprio site e deixar que ela cuide da venda. A empresa agora
cuida de desenvolver sistemas que permitam a um mesmo cliente escolher
diferentes papéis de embrulho, endereços de destino e formas
de envio em uma única compra. E logo entrará no ar o serviço
que ajudará o cliente a se lembrar de datas importantes, como o
aniversário da esposa. Se os outros maridos forem como eu, este
serviço será um sucesso.
O site oferece também uma
lista para casamentos, onde os noivos registram suas idéias de presentes
para facilitar a vida dos convidados. Logo virá a lista dos bebês
e também uma lista geral para cada cliente registrar idéias
do que gostaria de ganhar nas datas importantes de sua vida. Se um site
de e-commerce não estiver constantemente inovando e oferecendo
serviços a seus clientes, eles não virão. E se mesmo
assim caírem por acidente em seu site, nunca mais voltarão.
Na Internet não há lugar para aqueles comerciantes que colocam
os produtos nas prateleiras, instalam uma TV atrás do balcão
e ficam esperando que alguém entre na loja. De preferência
no intervalo da novela.
A receita do sucesso, segundo Jeff,
pode ser alcançada se o empreendedor estiver ciente de que o seu
empreendimento irá consumir mais tempo e dinheiro do que imagina
no começo. Isto fará com que ele não desista ao encontrar
as primeiras dificuldades. Automatizar ao máximo o site e os processos
de venda e envio da mercadoria é importantíssimo. Escolher
um nicho de mercado é outra providência a ser tomada logo
no início, já que agora é tarde demais para se tentar
abraçar o mundo. Outros já abraçaram. E Jeff tem mais
uma sugestão a dar para qualquer iniciante no mundo do comércio
eletrônico: Divirta-se - a época em que vivemos é uma
ocasião e tanto para se estar no mundo dos negócios.
(*) Mário
Persona é consultor, escritor e palestrante. Esta crônica
faz parte dos temas apresentados em suas palestras. Edita o boletim eletrônico
Crônicas
de Negócios e mantém endereço
próprio na Web, onde seus textos estão disponíveis. |