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Artigo escrito em 1999
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 01/15/02 14:02:52
Homepages? Meu sobrinho faz... 

Mário Persona (*)
Colaborador

De política e futebol, todo mundo entende e discute com autoridade. Ou pelo menos entendia. É que agora, com o advento da Internet, o cidadão médio acaba de acrescentar mais uma especialidade em seu rol de conhecimentos: hoje qualquer um consegue fazer uma homepage... Ou tem um sobrinho que faz.

Sem duvidar da competência dos sobrinhos - eu mesmo sou sobrinho de alguém -, seria sensato analisar o que está em jogo quando uma empresa entrega a alguém a responsabilidade de criar sua homepage. A rigor, uma homepage é a página principal de um website que, por sua vez, normalmente vem recheado de webpages. E é inegável que hoje existem dezenas de excelentes programas, alguns deles freeware, que permitem a qualquer criança criar e manter um site na Web. Do mesmo modo, há dezenas de bons softwares que permitem a qualquer um criar um catálogo de seus produtos ou uma propaganda para publicar em uma revista.

Normalmente a preocupação com a qualidade do site é menor por ser menor também o custo da veiculação. Investe-se pouco na criação do site para depois abandoná-lo em algum beco virtual da Web. Mas a mesma empresa que trata com leviandade sua presença na Internet jamais entregaria para um sobrinho qualquer a responsabilidade de criar suas propagandas e catálogos impressos. A razão é simples: os custos gráficos e de veiculação em jornais e revistas são elevados demais para deixar o trabalho nas mãos de um aprendiz.

Amadores - A mesma facilidade para criar webpages existe também para a criação de anúncios e catálogos, porém neste caso a maioria das empresas já entendeu que não basta ter à mão centenas de fontes e alguns CDs de imagens. É fácil identificar o trabalho de um amador em editoração eletrônica. Normalmente ele usa todos os tipos de letra que encontra no Windows, e aquilo que deveria ser uma propaganda acaba ficando mais parecido com um bilhete de sequestrador.

Insisto neste ponto. Você que gasta uma fortuna com profissionais de marketing, agências de publicidade e gráficas para produzir seus catálogos, iria deixar sua vitrine na Web nas mãos de um amador? Já sei a resposta. 

Não, você não iria querer queimar a imagem de sua empresa diante de milhares de pessoas e empresas com um site feito por qualquer um. Aliás é bem provável que isto não acontecesse mesmo - não haveria milhares de pessoas visitando seu site - já que existem técnicas de visibilidade na Web que um iniciante não iria saber aplicar. E seu site, como acontece com os problemas familiares, acabaria sendo conhecido apenas dos parentes mais íntimos. Incluindo seu sobrinho.

A filial - É comum o caso de empresas que querem fincar bandeira na Web, mas começam a explicar o que desejam nestes termos: "Só quero uma homepage com a foto da empresa, algo que não seja muito caro..." Essas empresas não conseguem enxergar sua presença na Web como uma filial aberta 24 horas por dia, sete dias por semana, sempre pronta para receber clientes em potencial vindos de qualquer parte do planeta.

Se entendessem o potencial da Internet não iriam querer oferecer aos clientes uma filial do tipo "mesa-cadeira-telefone". Iriam querer criar um site atraente, voltado para o cliente, repleto de informações úteis. As possibilidades são ilimitadas. Manuais e catálogos on-line, listas de representantes, formulários de resposta, mapas de localização das filiais e o que mais a imaginação puder alcançar.

Recursos - Mais que um cartão de visitas, seu site pode se tornar uma extensão de sua empresa que chegue até clientes, representantes e fornecedores. No primeiro caso, sua empresa pode anunciar e vender seus produtos on-line mesmo quando todos os seus vendedores estão dormindo. Seus representantes podem dispor de sistemas que lhes permitam colocar os pedidos de modo a desencadear automaticamente seu processo produtivo, sem passar pela digitação de fax ilegíveis, quase sempre acompanhados de interurbanos do tipo "Recebeu? Pode repetir as quantidades para eu conferir?"

Seus representantes, ao se identificarem por usernames e senhas, podem ser atendidos com páginas personalizadas no idioma adequado e com os preços e condições válidos para sua área de atuação. E depois de feito o pedido, podem fazer um follow up do estágio de atendimento em que se encontra, conferir a nota fiscal, receber informações relativas ao frete e muitas outras coisas. 

Seus fornecedores? Você pode disponibilizar para eles informações de estoque e suas necessidades imediatas de compra, reduzindo o tempo de consulta e efetivação dos pedidos, o que leva à redução dos níveis de estoque e - palavra doce essa - redução de seus custos. Muitos empresários ficariam surpresos se pudessem conhecer o que é possível fazer hoje por meio de um site na Web.

Seu sobrinho seria capaz de fazer tudo isso? É provável que não, pois sistemas assim exigem um trabalho de equipe envolvendo profissionais de diversas áreas, desde projeto e desenvolvimento até o domínio de tecnologias de rede, bancos de dados e servidores seguros. Além disso é preciso o know-how e a infra-estrutura adequada para implementar e manter tudo isso em um ambiente Web. O fato do portal de seu site receber o nome de homepage não significa que possa ser homemade. Isso dá certo quando o assunto é pão ou geléia, não quando o que está em jogo é a imagem de seu negócio.

Bancos - Para ter uma idéia da diferença entre que pode ser feito em casa e o que é um trabalho profissional, pense na evolução do serviço bancário. No início da automatização dos bancos tudo o que você podia fazer era consultar seu saldo por telefone e escutar a resposta de uma mulher que parecia presa dentro de uma lata soletrando o valor aos trancos. 

Faça um paralelo disso com as simples homepages que fizeram seu debut na Web há alguns anos e que conseguiam, no máximo, ser um cartão de visitas virtual. Hoje você pode ir a um caixa eletrônico e ter à disposição quase todos os serviços que encontraria em uma agência, desde a simples consulta a saldos, até pagamentos de contas, saques e impressão de talões de cheques. E os bancos estão investindo pesado na Web, transferindo seus serviços para o mundo virtual.

Mas esteja certo de que não são os sobrinhos dos banqueiros que estão criando todas aquelas funcionalidades na tela de seu micro. Os bancos sabem que o futuro dos negócios está na Internet. E, como diria meu sobrinho, se você vir um banqueiro pulando pela janela do prédio, pule atrás porque é um bom negócio.

(*) Mário Persona é consultor, escritor e palestrante. Esta crônica faz parte dos temas apresentados em suas palestras. Edita o boletim eletrônico Crônicas de Negócios e mantém endereço próprio na Web, onde seus textos estão disponíveis.