Homepages? Meu sobrinho faz...
Mário Persona (*)
Colaborador
De política
e futebol, todo mundo entende e discute com autoridade. Ou pelo menos entendia.
É que agora, com o advento da Internet, o cidadão médio
acaba de acrescentar mais uma especialidade em seu rol de conhecimentos:
hoje qualquer um consegue fazer uma homepage... Ou tem um sobrinho
que faz.
Sem duvidar da competência dos
sobrinhos - eu mesmo sou sobrinho de alguém -, seria sensato analisar
o que está em jogo quando uma empresa entrega a alguém a
responsabilidade de criar sua homepage. A rigor, uma homepage é
a página principal de um website que, por sua vez, normalmente
vem recheado de webpages. E é inegável que hoje existem
dezenas de excelentes programas, alguns deles freeware, que permitem
a qualquer criança criar e manter um site na Web. Do mesmo modo,
há dezenas de bons softwares que permitem a qualquer um criar
um catálogo de seus produtos ou uma propaganda para publicar em
uma revista.
Normalmente a preocupação
com a qualidade do site é menor por ser menor também o custo
da veiculação. Investe-se pouco na criação
do site para depois abandoná-lo em algum beco virtual da Web. Mas
a mesma empresa que trata com leviandade sua presença na Internet
jamais entregaria para um sobrinho qualquer a responsabilidade de criar
suas propagandas e catálogos impressos. A razão é
simples: os custos gráficos e de veiculação em jornais
e revistas são elevados demais para deixar o trabalho nas mãos
de um aprendiz.
Amadores - A mesma facilidade
para criar webpages existe também para a criação
de anúncios e catálogos, porém neste caso a maioria
das empresas já entendeu que não basta ter à mão
centenas de fontes e alguns CDs de imagens. É fácil identificar
o trabalho de um amador em editoração eletrônica. Normalmente
ele usa todos os tipos de letra que encontra no Windows, e aquilo que deveria
ser uma propaganda acaba ficando mais parecido com um bilhete de sequestrador.
Insisto neste ponto. Você que
gasta uma fortuna com profissionais de marketing, agências
de publicidade e gráficas para produzir seus catálogos, iria
deixar sua vitrine na Web nas mãos de um amador? Já sei a
resposta.
Não, você não
iria querer queimar a imagem de sua empresa diante de milhares de pessoas
e empresas com um site feito por qualquer um. Aliás é bem
provável que isto não acontecesse mesmo - não haveria
milhares de pessoas visitando seu site - já que existem técnicas
de visibilidade na Web que um iniciante não iria saber aplicar.
E seu site, como acontece com os problemas familiares, acabaria sendo conhecido
apenas dos parentes mais íntimos. Incluindo seu sobrinho.
A filial - É comum
o caso de empresas que querem fincar bandeira na Web, mas começam
a explicar o que desejam nestes termos: "Só quero uma homepage
com a foto da empresa, algo que não seja muito caro..." Essas empresas
não conseguem enxergar sua presença na Web como uma filial
aberta 24 horas por dia, sete dias por semana, sempre pronta para receber
clientes em potencial vindos de qualquer parte do planeta.
Se entendessem o potencial da Internet
não iriam querer oferecer aos clientes uma filial do tipo "mesa-cadeira-telefone".
Iriam querer criar um site atraente, voltado para o cliente, repleto de
informações úteis. As possibilidades são ilimitadas.
Manuais e catálogos on-line, listas de representantes, formulários
de resposta, mapas de localização das filiais e o que mais
a imaginação puder alcançar.
Recursos - Mais que um cartão
de visitas, seu site pode se tornar uma extensão de sua empresa
que chegue até clientes, representantes e fornecedores. No primeiro
caso, sua empresa pode anunciar e vender seus produtos on-line mesmo
quando todos os seus vendedores estão dormindo. Seus representantes
podem dispor de sistemas que lhes permitam colocar os pedidos de modo a
desencadear automaticamente seu processo produtivo, sem passar pela digitação
de fax ilegíveis, quase sempre acompanhados de interurbanos do tipo
"Recebeu? Pode repetir as quantidades para eu conferir?"
Seus representantes, ao se identificarem
por usernames e senhas, podem ser atendidos com páginas personalizadas
no idioma adequado e com os preços e condições válidos
para sua área de atuação. E depois de feito o pedido,
podem fazer um follow up do estágio de atendimento em que
se encontra, conferir a nota fiscal, receber informações
relativas ao frete e muitas outras coisas.
Seus fornecedores? Você pode
disponibilizar para eles informações de estoque e suas necessidades
imediatas de compra, reduzindo o tempo de consulta e efetivação
dos pedidos, o que leva à redução dos níveis
de estoque e - palavra doce essa - redução de seus custos.
Muitos empresários ficariam surpresos se pudessem conhecer o que
é possível fazer hoje por meio de um site na Web.
Seu sobrinho seria capaz de fazer
tudo isso? É provável que não, pois sistemas assim
exigem um trabalho de equipe envolvendo profissionais de diversas áreas,
desde projeto e desenvolvimento até o domínio de tecnologias
de rede, bancos de dados e servidores seguros. Além disso é
preciso o know-how e a infra-estrutura adequada para implementar
e manter tudo isso em um ambiente Web. O fato do portal de seu site receber
o nome de homepage não significa que possa ser homemade.
Isso dá certo quando o assunto é pão ou geléia,
não quando o que está em jogo é a imagem de seu negócio.
Bancos - Para ter uma idéia
da diferença entre que pode ser feito em casa e o que é um
trabalho profissional, pense na evolução do serviço
bancário. No início da automatização dos bancos
tudo o que você podia fazer era consultar seu saldo por telefone
e escutar a resposta de uma mulher que parecia presa dentro de uma lata
soletrando o valor aos trancos.
Faça um paralelo disso com
as simples homepages que fizeram seu debut na Web há
alguns anos e que conseguiam, no máximo, ser um cartão de
visitas virtual. Hoje você pode ir a um caixa eletrônico e
ter à disposição quase todos os serviços que
encontraria em uma agência, desde a simples consulta a saldos, até
pagamentos de contas, saques e impressão de talões de cheques.
E os bancos estão investindo pesado na Web, transferindo seus serviços
para o mundo virtual.
Mas esteja certo de que não
são os sobrinhos dos banqueiros que estão criando todas aquelas
funcionalidades na tela de seu micro. Os bancos sabem que o futuro dos
negócios está na Internet. E, como diria meu sobrinho, se
você vir um banqueiro pulando pela janela do prédio, pule
atrás porque é um bom negócio.
(*) Mário
Persona é consultor, escritor e palestrante. Esta crônica
faz parte dos temas apresentados em suas palestras. Edita o boletim eletrônico
Crônicas
de Negócios e mantém endereço
próprio na Web, onde seus textos estão disponíveis. |