Clique aqui para voltar à página inicial  http://www.novomilenio.inf.br/ano99/9912e030.htm
Artigo escrito em 1999
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 01/15/02 14:01:32
A influência da moeda no planejamento da produção 

Mário Persona (*)
Colaborador

Muito bem, você pertence a essa peculiar classe cujos membros são conhecidos como "empresários", os quais compartilham de um pensamento em comum: todos querem ser bem sucedidos. Se você for como a grande maioria, não só dos empresários mas dos seres humanos, seu método de tomada de decisões para seu planejamento de produção certamente será aquele atrelado à moeda. Não, não estou falando de economia e nem estou tentando insinuar que você esteja fazendo de sua produção um instrumento de especulação. Falo de algo mais simples, ou seja, daquele objeto metálico circular conhecido como moeda.

Isso mesmo. Todas as vezes que você precisou tomar uma decisão que envolvesse o que produzir, em que quantidade e usando qual maquinário ou força de trabalho, você recorreu à boa e eficiente moeda. Um bom impulso com a unha do polegar e lá ia ela, girando no ar e aterrissando na palma de sua mão - a tomadora de decisões oficial da empresa. Somando a influência da moeda à sua habilidade, experiência e faro para negócios, você conseguia obter todos os dados necessários para dar início à produção. Um método não muito científico, convenhamos, mas que serviu durante algum tempo.

novos tempos - Mas um belo dia você viu a moeda mudando de mãos. Não a sua fiel moedinha, mas seu ganho, seu capital, sua clientela, tudo o que sua empresa podia considerar como valor. De uma hora para outra, você se viu cercado da concorrência acirrada - desleal até - da abertura de mercado, dos países menos-que-emergentes (seriam submergentes?) com mão-de-obra a preço de banana e banana a preço mais baixo ainda. 

Você viu que para conquistar seu espaço - ou não perder o conquistado - iria precisar de um sistema de cálculos para planejar sua produção que envolvesse mais variáveis que a mera cara e coroa. Por mais sábias que tivessem sido as decisões tomadas com a ajuda de sua moedinha no passado, você não poderia mais arriscar. Como naqueles games de computador, tomar um caminho errado com as poucas "vidas" que lhe restaram poderia significar o fim do jogo. E da empresa.

É neste ponto que entra o planejamento da produção como uma moeda de múltiplas faces que ajuda o empresário a decidir o que produzir, quanto produzir, e com que recursos para atender sua demanda, utilizando de modo racional seu transporte e obtendo uma lucratividade ótima. Vamos pensar em um exemplo bem simples, apenas para ilustrar a necessidade de um planejamento de sua produção. 

Saia justa - Digamos que você esteja no negócio de confecções que, como qualquer outro negócio, tem seus altos e baixos. No seu caso, ora a saia está acima do joelho, ora abaixo, e numa terceira situação você tem que produzir tanto saias curtas como longas como exigir a moda.

Você fabrica uma saia curta muito boa e consegue lucrar, digamos, R$ 10,00 por peça. A saia longa lhe dá uma lucratividade de R$ 15,00. Faltam quatro dias para entregar seus produtos e você precisa descobrir quantas peças de cada uma deve fabricar. Simples? Bem, no tempo do planejamento de produção que utilizava o processo moedinha-polegar-palma da mão você, não hesitaria em responder. Porém, lembre-se que os orientais não fabricam apenas quimonos. Eles sabem fazer saias, e das boas. Você deve produzir mais saias curtas ou mais saias longas, para conseguir um preço final competitivo a níveis globais?

Nesses quatro dias você vai colocar o pessoal costurando quatorze horas por dia para produzir uma saia curta a cada 15 minutos e uma saia longa a cada 30 minutos. Sem a ajuda da moedinha você saberia dizer como distribuir o tempo de sua força de trabalho entre os dois produtos? Como se não bastasse, há outras variáveis em seu problema. O veículo que irá transportar sua mercadoria tem um metro cúbico de espaço e cada saia, curta e longa, ocupará 0,005 e 0,014 m³ respectivamente. Está ficando complicado, não é mesmo? Mas para otimizar sua produção, reduzir seus custos e aumentar seu lucro (ou pelo menos sobreviver) você precisaria descobrir qual a melhor forma de produzir suas saias.

Agora peça para a unha de seu polegar dar o impulso adequado para fazer decolar a moedinha em um giro no ar que leve em conta variáveis como, quatro dias de produção utilizando sua força produtiva quatorze horas por dia, produzindo uma peça de saia curta a cada quinze minutos e uma de saia longa a cada trinta minutos, cujos pacotes ocuparão respectivamente preciosos 0,005 e 0,014 de um metro cúbico da capacidade de carga de seu veículo sem precisar dar duas viagens. 

Na sorte? - Você não irá querer tomar uma decisão importante assim na base da cara ou coroa. Não importa se você fabrica saias que são transportadas em peruas, ou máquinas que são exportadas em contêiners, o princípio se aplica a qualquer caso. O planejamento de sua produção pode salvar o dia de sua empresa. E não deixar sua moeda rolar para o bueiro.

O cálculo para resolver problemas assim não é novo. Ele começou a ser utilizado durante a Segunda Guerra para otimizar o planejamento de ações militares e serve como uma luva para atacar de frente problemas de produção em uma economia de guerra competitiva como esta em que vivemos. Você pode fabricar móveis em uma linha de produção que envolva fabricação, montagem, acabamento e embalagem, ou pode ser um fabricante de ração para frangos buscando a relação ótima entre os diversos ingredientes, seus nutrientes, a disponibilidade de mercado e o peso ideal dos penados. Ou quem sabe seu nível de decisão envolva uma montadora de veículos com centenas de peças e processos envolvidos. 

Um sistema assim de planejamento de produção pode ser aplicado em um sem número de situações com resultados que permitem tomadas de decisão seguras para a melhor distribuição de sua força produtiva entre os produtos que pretende fabricar, utilizando os insumos disponíveis. Tudo sem perder de vista a demanda existente.

Internet - Mas onde entra a Internet em tudo isso? Ora, pense só no número de variáveis possíveis em um processo produtivo e tente imaginar o poder de processamento de um micro para rodar um programa cruzando todas essas possibilidades e calculando a otimização de sua produção. Dependendo da extensão do planejamento envolvido, você iria precisar um equipamento robusto demais para obter os melhores resultados. É aqui - e em outros casos semelhantes - que a Internet abre uma nova área de, digamos, democratização de recursos. Isso porque o acesso a um sistema assim, que antes só estaria disponível a grandes corporações, fica hoje ao alcance de pequenas e médias empresas.

De sua mesa, agora mesmo, você pode acessar um endereço na Web e utilizar um serviço de otimização da produção que teria sido apenas objeto de seus sonhos há algum tempo. Ao invés de pagar por um programa sofisticado e adquirir um micro mais caro que seu automóvel, a Internet criou a possibilidade de sua empresa desfrutar disso tudo de modo compartilhado com dezenas de outros usuários. Obviamente o custo é também diluído na mesma proporção.

O sistema roda em um servidor que você acessa de qualquer lugar do planeta e seu browser de navegação na Web conversa com ele, enviando os dados que você digita e retornando os resultados em questão de segundos. Você pode experimentar diversas alternativas de input e selecionar as melhores opções que o programa irá gerar. E quando tomar a decisão de como direcionar sua produção, estará tão tranqüilo com os resultados que irá querer me convidar para um café. Quem paga? Ora, você! Afinal para que serve aquela moeda que você tem no bolso?

(*) Mário Persona é consultor, escritor e palestrante. Esta crônica faz parte dos temas apresentados em suas palestras. Edita o boletim eletrônico Crônicas de Negócios e mantém endereço próprio na Web, onde seus textos estão disponíveis.