A influência da moeda no planejamento
da produção
Mário Persona (*)
Colaborador
Muito
bem, você pertence a essa peculiar classe cujos membros são
conhecidos como "empresários", os quais compartilham de um pensamento
em comum: todos querem ser bem sucedidos. Se você for como a grande
maioria, não só dos empresários mas dos seres humanos,
seu método de tomada de decisões para seu planejamento de
produção certamente será aquele atrelado à
moeda. Não, não estou falando de economia e nem estou tentando
insinuar que você esteja fazendo de sua produção um
instrumento de especulação. Falo de algo mais simples, ou
seja, daquele objeto metálico circular conhecido como moeda.
Isso mesmo. Todas as vezes que você
precisou tomar uma decisão que envolvesse o que produzir, em que
quantidade e usando qual maquinário ou força de trabalho,
você recorreu à boa e eficiente moeda. Um bom impulso com
a unha do polegar e lá ia ela, girando no ar e aterrissando na palma
de sua mão - a tomadora de decisões oficial da empresa. Somando
a influência da moeda à sua habilidade, experiência
e faro para negócios, você conseguia obter todos os dados
necessários para dar início à produção.
Um método não muito científico, convenhamos, mas que
serviu durante algum tempo.
novos tempos - Mas um belo
dia você viu a moeda mudando de mãos. Não a sua fiel
moedinha, mas seu ganho, seu capital, sua clientela, tudo o que sua empresa
podia considerar como valor. De uma hora para outra, você se viu
cercado da concorrência acirrada - desleal até - da abertura
de mercado, dos países menos-que-emergentes (seriam submergentes?)
com mão-de-obra a preço de banana e banana a preço
mais baixo ainda.
Você viu que para conquistar
seu espaço - ou não perder o conquistado - iria precisar
de um sistema de cálculos para planejar sua produção
que envolvesse mais variáveis que a mera cara e coroa. Por mais
sábias que tivessem sido as decisões tomadas com a ajuda
de sua moedinha no passado, você não poderia mais arriscar.
Como naqueles games de computador, tomar um caminho errado com as
poucas "vidas" que lhe restaram poderia significar o fim do jogo. E da
empresa.
É neste ponto que entra o
planejamento da produção como uma moeda de múltiplas
faces que ajuda o empresário a decidir o que produzir, quanto produzir,
e com que recursos para atender sua demanda, utilizando de modo racional
seu transporte e obtendo uma lucratividade ótima. Vamos pensar em
um exemplo bem simples, apenas para ilustrar a necessidade de um planejamento
de sua produção.
Saia justa - Digamos que você
esteja no negócio de confecções que, como qualquer
outro negócio, tem seus altos e baixos. No seu caso, ora a saia
está acima do joelho, ora abaixo, e numa terceira situação
você tem que produzir tanto saias curtas como longas como exigir
a moda.
Você fabrica uma saia curta
muito boa e consegue lucrar, digamos, R$ 10,00 por peça. A saia
longa lhe dá uma lucratividade de R$ 15,00. Faltam quatro dias para
entregar seus produtos e você precisa descobrir quantas peças
de cada uma deve fabricar. Simples? Bem, no tempo do planejamento de produção
que utilizava o processo moedinha-polegar-palma da mão você,
não hesitaria em responder. Porém, lembre-se que os orientais
não fabricam apenas quimonos. Eles sabem fazer saias, e das boas.
Você deve produzir mais saias curtas ou mais saias longas, para conseguir
um preço final competitivo a níveis globais?
Nesses quatro dias você vai
colocar o pessoal costurando quatorze horas por dia para produzir uma saia
curta a cada 15 minutos e uma saia longa a cada 30 minutos. Sem a ajuda
da moedinha você saberia dizer como distribuir o tempo de sua força
de trabalho entre os dois produtos? Como se não bastasse, há
outras variáveis em seu problema. O veículo que irá
transportar sua mercadoria tem um metro cúbico de espaço
e cada saia, curta e longa, ocupará 0,005 e 0,014 m³ respectivamente.
Está ficando complicado, não é mesmo? Mas para otimizar
sua produção, reduzir seus custos e aumentar seu lucro (ou
pelo menos sobreviver) você precisaria descobrir qual a melhor forma
de produzir suas saias.
Agora peça para a unha de
seu polegar dar o impulso adequado para fazer decolar a moedinha em um
giro no ar que leve em conta variáveis como, quatro dias de produção
utilizando sua força produtiva quatorze horas por dia, produzindo
uma peça de saia curta a cada quinze minutos e uma de saia longa
a cada trinta minutos, cujos pacotes ocuparão respectivamente preciosos
0,005 e 0,014 de um metro cúbico da capacidade de carga de seu veículo
sem precisar dar duas viagens.
Na sorte? - Você não
irá querer tomar uma decisão importante assim na base da
cara ou coroa. Não importa se você fabrica saias que são
transportadas em peruas, ou máquinas que são exportadas em
contêiners, o princípio se aplica a qualquer caso. O planejamento
de sua produção pode salvar o dia de sua empresa. E não
deixar sua moeda rolar para o bueiro.
O cálculo para resolver problemas
assim não é novo. Ele começou a ser utilizado durante
a Segunda Guerra para otimizar o planejamento de ações militares
e serve como uma luva para atacar de frente problemas de produção
em uma economia de guerra competitiva como esta em que vivemos. Você
pode fabricar móveis em uma linha de produção que
envolva fabricação, montagem, acabamento e embalagem, ou
pode ser um fabricante de ração para frangos buscando a relação
ótima entre os diversos ingredientes, seus nutrientes, a disponibilidade
de mercado e o peso ideal dos penados. Ou quem sabe seu nível de
decisão envolva uma montadora de veículos com centenas de
peças e processos envolvidos.
Um sistema assim de planejamento
de produção pode ser aplicado em um sem número de
situações com resultados que permitem tomadas de decisão
seguras para a melhor distribuição de sua força produtiva
entre os produtos que pretende fabricar, utilizando os insumos disponíveis.
Tudo sem perder de vista a demanda existente.
Internet - Mas onde entra
a Internet em tudo isso? Ora, pense só no número de variáveis
possíveis em um processo produtivo e tente imaginar o poder de processamento
de um micro para rodar um programa cruzando todas essas possibilidades
e calculando a otimização de sua produção.
Dependendo da extensão do planejamento envolvido, você iria
precisar um equipamento robusto demais para obter os melhores resultados.
É aqui - e em outros casos semelhantes - que a Internet abre uma
nova área de, digamos, democratização de recursos.
Isso porque o acesso a um sistema assim, que antes só estaria disponível
a grandes corporações, fica hoje ao alcance de pequenas e
médias empresas.
De sua mesa, agora mesmo, você
pode acessar um endereço na Web e utilizar um serviço de
otimização da produção que teria sido apenas
objeto de seus sonhos há algum tempo. Ao invés de pagar por
um programa sofisticado e adquirir um micro mais caro que seu automóvel,
a Internet criou a possibilidade de sua empresa desfrutar disso tudo de
modo compartilhado com dezenas de outros usuários. Obviamente o
custo é também diluído na mesma proporção.
O sistema roda em um servidor que
você acessa de qualquer lugar do planeta e seu browser de
navegação na Web conversa com ele, enviando os dados que
você digita e retornando os resultados em questão de segundos.
Você pode experimentar diversas alternativas de input e selecionar
as melhores opções que o programa irá gerar. E quando
tomar a decisão de como direcionar sua produção, estará
tão tranqüilo com os resultados que irá querer me convidar
para um café. Quem paga? Ora, você! Afinal para que serve
aquela moeda que você tem no bolso?
(*) Mário
Persona é consultor, escritor e palestrante. Esta crônica
faz parte dos temas apresentados em suas palestras. Edita o boletim eletrônico
Crônicas
de Negócios e mantém endereço
próprio na Web, onde seus textos estão disponíveis. |