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Artigo escrito em 1999
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 01/15/02 13:36:40
O que pode vir depois

O Bug do Milênio Revisitado

Mário Persona (*)
Colaborador

O Bug do Milênio parece andar em círculos. Depois de termos lido tudo sobre o assunto, alguém se lembra de cantar "Começar de Novo" e lá vamos nós, embarcados em mais uma rodada de prognósticos do que pode e não pode acontecer na virada do ano. Fazendo de conta que ninguém ainda explicou isso, o Bug do Milênio é causado por uma economia de espaço em programas mais antigos, quando os programadores utilizavam apenas dois dígitos para expressar o ano. Isso levará muitos sistemas a interpretarem o ano 00 como 1900 e não como 2000. A este bug foi dado o nome de Y2K ("Y" de year, "2K" de 2000). A sigla é pequena, mas o problema é grande.

Todo final de século é prato cheio para previsões alarmistas, e estamos nos aproximando de um final de século que coincide com um final de milênio. Sim, eu sei que isso só irá ocorrer na passagem de 2000 para 2001, mas todo mundo decretou que a comemoração deve acontecer um ano antes da data tecnicamente correta. E para o bug do milênio a data para ele revelar se é pulga ou escorpião está correta. Em 31 de dezembro de 1999 alguns sistemas de computador simplesmente cruzarão os braços.

Tem muita gente envolvida na solução do problema. Programadores e analistas de sistemas correm contra o tempo procurando corrigir milhões de linhas de programa e evitar que o final do ano traga surpresas maiores que a usual visita da sogra e do cunhado. Batalhões de reservistas, veteranos de linguagens emboloradas, voltaram à ativa ganhando honestamente salários de quatro ou mais dígitos por conta dos dois dígitos economizados nos primórdios da computação.

Boa parte das medidas parece estar resolvendo o grosso do problema. Um técnico responsável pelo ensaio feito em todos os aeroportos canadenses comentou que foi até chato - não aconteceu nada de mais. Muitos bancos e outros sistemas críticos já estão com tudo funcionando em conformidade com a mudança de data. E pessoas que antes soavam o alarme de colisão iminente, hoje consideram o problema do bug como, no máximo, um solavanco na viagem. Vamos sentir sua passagem, mas ninguém deverá ser jogado fora do carro.

Conjunção - Acredito que o problema mais grave seja o pânico causado pela conjunção do bug com uma data que por si só já tinha todos os ingredientes necessários para criar um clima de fogo no cinema. Tudo indica que o bug que mais devemos temer é a histeria em massa, a qual pode causar mais danos que o colapso dos sistemas informatizados. É a vaca correndo o risco de morrer de enfarte por medo do carrapato.

Enquanto muita gente séria trabalha para eliminar o problema, uma horda de mercadores oportunistas aposta no caos. Especialistas de última hora escrevem livros alarmistas e vendem kits de sobrevivência querendo tirar o máximo proveito da situação. No primeiro dia do ano 2000 eles poderão ser aclamados salvadores da pátria ou vigaristas, dependendo de como as coisas ocorrerem. Os que apostaram no bug todas as suas cartas estão torcendo para que tudo dê errado. Para que, para eles, tudo dê certo.

Gary North, que nos Estados Unidos assumiu o papel de porta-voz do desastre, prevê o colapso de bancos e usinas atômicas, e a ruína do padrão de vida americano com setenta porcento da população caindo no desemprego. Tudo isso com direito a um clima de anarquia total. Não é à toa que já existam americanos adotando medidas absurdas como comprar carros velhos por precaução. Na passagem do ano pretendem incendiar os carros na frente de suas garagens para que grupos de vândalos pensem que o local já foi previamente saqueado!

Se os bugs humanos não conseguirem detonar o que nem o bug cibernético seria capaz, vejo uma luz no fim do túnel e não é o trem em sentido contrário. O pós-bug promete ser promissor para a informática em geral e a Internet em particular. Hoje a fatia maior do orçamento de tecnologia da informação das empresas está comprometida na temporada de caça ao bug, mas no próximo ano estará disponível para a modernização de equipamentos e desenvolvimento de novos sistemas.

Estes estarão cada vez mais voltados para a Web, tanto para a geração de novos negócios como na gestão dos já existentes. Mesmo porque logo será inconcebível que uma empresa permaneça ilhada, sem participar dos negócios que começam a acontecer a nível global. Então, do mesmo modo como as empresas que não resolveram o problema do bug terão um péssimo reveillon, outras serão vítimas da ressaca pós-bug - o prejuízo da demora em adotar uma visão voltada para a Web.

(*) Mário Persona é consultor, escritor e palestrante. Esta crônica faz parte dos temas apresentados em suas palestras. Edita o boletim eletrônico Crônicas de Negócios e mantém endereço próprio na Web, onde seus textos estão disponíveis.