Cliente, onde está você?
Mário Persona (*)
Colaborador
Então
você tem um excelente produto para vender na Internet? Você
não está sozinho. Milhões de pessoas estão
saindo pelo mundo afora com suas malas cibernéticas cheias de mercadorias
para todos os gostos. Com a adrenalina que receberam dos livros e seminários
de motivação para o sucesso, e orgulhosos de um produto que
é a menina de seus olhos, lá vão eles para a Web com
um site no qual não faltam apelos do tipo "Compre! Compre! Compre!"
Mas ninguém compra nada.
O que foi que saiu errado? Há
vários fatores que podem causar a ruína de um empreendimento
na Internet. Um dos erros mais comuns dos novos mercadores da virada do
século está em começarem colocando todo o foco no
produto que querem vender, para depois saírem à caça
de compradores que se encaixem ao seu produto.
Às vezes funciona, às
vezes não. Se o elemento sorte não for um dos componentes
de seu planejamento, é melhor ir pensando na possibilidade de inverter
o rumo da estratégia a ser adotada. Primeiro procure um mercado,
depois descubra o que ele quer comprar. Ao invés de procurar saber
que tipo de pessoa irá comprar seu produto, tente descobrir que
tipo de produto as pessoas estão querendo comprar.
Universo - Mas, primeiro procure
reduzir um pouco o seu universo. A Internet é um mercado muito grande
e você não conseguirá abraçá-lo totalmente.
Isso é algo que você deve deixar para as grandes corporações.
Elas podem se dar ao luxo de atirar para todos os lados, mas pequenos e
médios empreendedores não. Daí a necessidade de colocar
seu foco em um nicho de mercado que caiba na sua mão.
Mesmo agindo assim, você logo
irá descobrir que estará tratando com milhões de clientes
em potencial. Uma dona de casa apostou naqueles que gostam de comer comida
mais quente do que o normal. E decidiu vender molho de pimenta pela Internet,
alcançando um sucesso de dar água na boca - ou azia - nos
concorrentes.
Nicho ardido - E por falar
em pimenta, o americano Joe Arditi, cujo sobrenome parece vir do italiano
"ardito", que significa tanto "ardido" como "audacioso", adotou o que pode
ser o nicho de um nicho de mercado. Ele não vende pimenta. Vende
sementes de pimenta produzidas organicamente! Quer nicho mais restrito
do que este? Sua loja pode ser encontrada em http://www.pepperjoe.com.
Mas há outra estratégia
que Joe adotou ao conhecer o tipo de público no qual focalizou seu
negócio. Como a clientela que desejava atingir era formada de pequenos
agricultores ou pessoas ligadas a uma vida mais natural, apostou em uma
imagem ecológica. O catálogo impresso que acompanha os pedidos
é feito de papel reciclado e impresso com tinta à base de
óleo vegetal não poluente.
Ele ainda faz alarde do fato de que
todas as sementes que tem o prazo vencido são doadas a uma instituição
de caridade, além de distribuir gratuitamente cartões postais
com motivos apimentados. Além disso Joe reserva parte de seu tempo
para ajudar em jantares beneficentes de comida mexicana (apimentadas, é
claro) e dá palestras gratuitas sobre plantio orgânico. Não
é à toa que ele se orgulha de assinar "Pepper Joe", ou o
equivalente a "João Pimenta" em nossa língua.
Mirando no alvo - Você
pode não querer um negócio tão quente quanto o de
Joe, mas ainda existem milhares de nichos de mercado com pessoas ávidas
por comprar algo que agrade A ELAS, não exatamente a você.
Mas ainda que você procure atingir uma tribo de consumidores da qual
você não faça parte, é importante que ao menos
conheça o tipo de pessoa para a qual quer vender. Se logo de início
você não souber como se comunicar com essa gente, ou nem conseguir
descobrir em que gruta se escondem, esqueça.
Procure outro alvo ao alcance de
sua mira. Uma boa idéia é fazer uma visita à banca
de jornais e anotar para onde apontam os títulos das revistas em
exposição. Geralmente as editoras fazem exatamente isso,
ou seja, procuram descobrir nichos de mercado e depois lançam revistas
especificamente dirigidas para aquele público. Eles não lançam,
por exemplo, uma revista especializada em arame farpado, para depois ficarem
esperando para ver quem vai comprar. Talvez você identifique um nicho
que já seja atingido por alguma revista, o que já é
meio caminho andado. Além do marketing na Internet, você
saberá onde colocar seus anúncios impressos e o que aquele
tipo de público gosta.
Depois de encontrar o público
alvo, o que é que eles estão querendo comprar? Como a Internet
é sua praia, uma boa idéia é tentar descobrir onde
o pessoal se reúne, ou seja, que sites visitam, de que listas de
discussão participam, etc. Aí você veste a camisa e
vai surfar com eles nas ondas da Web. Logo estará entendendo suas
necessidades e o mercado latente para algum produto.
Você não precisa tornar-se
membro de carteirinha daquela tribo, basta ouvir o que eles têm a
dizer. Escutar o cliente é a regra número um do sucesso.
A partir daí você já estará pronto para se colocar
na posição de um aprendiz daquela seleta confraria que descobriu.
Então poderá começar a tentar extrair dela quais são
os seus anseios de consumo.
Produto - Vem então
a fase de pesquisa e desenvolvimento do produto. Se ele não existe,
você terá que desenvolvê-lo. Se for algo que alguém
já esteja produzindo, não tente reinventar a roda. Faça
uma parceria com o fabricante ou produtor para distribuir seus produtos
por comissão. Você pode tanto comprar dele para revender,
gerenciar apenas a entrega, ou deixar todo o processo de atendimento para
ele. Sua parte então será a de um representante comercial
que estará coletando pedidos por meio de sua loja eletrônica.
Todavia isso não impedirá que você crie uma marca própria
para personalizar o produto.
Mas o trabalho não termina
aí. Você descobriu seu nicho de mercado, identificou o público,
fez uma estimativa do seu potencial e desenvolveu um produto, algo que
essa gente faria qualquer coisa para possuir. Mas como atraí-los
até sua loja na Internet? Os traficantes de droga descobriram há
muito tempo que a melhor maneira de conseguir clientes é dando a
droga de graça.
Não estou sugerindo que você
vá vender cocaína pela Internet, ou que precise entorpecer
seus futuros clientes para conseguir vender. O que estou querendo mostrar
é que você deve dar a eles o que procuram. E geralmente eles
procuram mais do que apenas o que o seu produto tem a oferecer.
Ambiente - Daí a necessidade
de se criar todo um ambiente de atração para seus futuros
clientes. Se você vende CDs de música sertaneja, por que não
criar um clima country em seu site, páginas com biografias
e fotos dos artistas, calendários de shows, boletins de informações
periódicas por e-mail, ou qualquer coisa que possa cativar
seus futuros clientes?
Você pode programar eventos
e usar outras mídias, como rádios, jornais e revistas especializadas,
para tornar seu site conhecido. Um chat ao vivo com algum artista
pode atrair milhares de visitantes ao seu site. É só agendar
um telefonema com o artista, para este responder a seus fãs, e transcrever
para o micro o que ele for dizendo. Antes de tentar empurrar um produto
a eles, deixe que descubram que seu site é um lugar agradável
de se visitar. Então você começará a vender.
Bem, antes que eu me empolgue demais
e pule para fora da tela de seu micro para propor uma sociedade em seu
negócio, vou parando por aqui. Há inúmeras oportunidades
na Internet, mas não será daqueles que estão procurando
por uma forma de trabalhar menos e ganhar mais. Na Internet, você
terá que investir sua criatividade e seu tempo para ser bem sucedido
em seu negócio. Como você pode abrir sua loja virtual sem
ter estoque, é o lugar ideal para se começar um negócio
com pouco investimento. Mas não se esqueça de começar
seu negócio a partir do cliente. O produto vem depois.
(*) Mário
Persona é consultor, escritor e palestrante. Esta crônica
faz parte dos temas apresentados em suas palestras. Edita o boletim eletrônico
Crônicas
de Negócios e mantém endereço
próprio na Web, onde seus textos estão disponíveis. |