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Artigo escrito em 1999
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 01/15/02 13:11:40
O telefone está mudo - mas só para quem está cego

Mário Persona (*)
Colaborador

Com as mudanças no sistema DDD, muitas empresas começam a contabilizar o prejuízo causado pela falta de comunicação com clientes e fornecedores. Negócios deixaram de ser efetuados, pagamentos sofreram atrasos e até linhas de produção pararam por falta da matéria-prima que não pôde ser encomendada. Em momentos assim é que os empresários percebem o quanto dependem dos meios de comunicação tradicionais como telefone e fax.

Com a impossibilidade de se fazer interurbanos para determinadas áreas, muitas empresas sentiram-se ilhadas, incapazes de se comunicar e realizar negócios. Para algumas, a salvação foi a Internet, usada principalmente para a comunicação via e-mail. Nunca foi tão verdadeiro o ditado que diz que em terra de cego quem tem um olho é rei. Mas o "um olho" de quem se livrou de um prejuízo maior já é visão panorâmica para as empresas mais modernas, que há um bom tempo enxergam o que está acontecendo no panorama dos negócios.

Mudanças - Há sinais bem claros de que já entramos com tudo na era da informação digital. Segundo o Wally Bock's Monday Memo, um boletim semanal enviado pela Internet, o governo norte-americano anunciava, na última semana, que iniciaria a qualificação para a distribuição de fundos às universidades com cursos pela Internet. 

Paralelamente, segundo o mesmo boletim, a revista Windows Magazine previa o fim de sua edição impressa em Agosto de 1999, permanecendo a versão digital on-line. E mais: a AOL e a Prodigy anunciavam a distribuição, nos Estados Unidos, de equipamentos E-Machines para usuários de planos especiais. Esses micros de US$ 399,00, especialmente produzidos para acessar a Internet, podem invadir os lares e empresas que ainda não estão plugados à Rede.

Tudo isso revela o impacto que a Internet está tendo nos mais diversos segmentos da sociedade. E quem abriu os olhos já percebeu que, de agora em diante, a Internet vai ser o meio predominante na comunicação pessoal e empresarial. Com as mudanças ocorrendo em um piscar de olhos, até para quem já usa a Internet comercialmente é importante não ficar parado. Não apenas as empresas que ainda não possuem uma estratégia de Internet precisam correr, mas até aquelas que já estão na Rede devem manter um aprimoramento constante. Do contrário ficarão a ver navios.

Realidade - Mas estar na Internet não é apenas ter uma home page institucional ou trocar e-mails com parceiros de negócios. A Internet tornou viável a computação em rede a preço de banana. O que antes era apenas um sonho impossível agora é realidade. Qualquer empresa pode ter um terminal ligado a seus clientes ou fornecedores bem na mesa de seu departamento comercial. 

Não faz muito tempo que a tecnologia para algo assim custava uma fortuna e só estava acessível a bancos ou grandes corporações. O resto tinha que se virar na base do "Alô! Alô!", mandando fax de um lado para o outro, amargando os erros gerados por pedidos verbais ou mal transmitidos e ainda pagar uma conta salgada de interurbano no final do mês. Sem falar na surpresa de ficar na mão por conta de problemas na mudança do DDD. 

Ilhas - Nos últimos dias, enquanto algumas empresas ficaram ilhadas com a falta do interurbano, outras se revelaram como verdadeiras ilhas de tecnologia da comunicação em um mar de telefones mudos. Foi o caso de empresas como a Xerox do Brasil, Freios Varga e outras que, há algum tempo, trocam informações de compra com seus fornecedores, utilizando um sistema de programação de entrega que funciona através da Internet. Com a comunicação garantida com os fornecedores que participam do sistema, empresas assim têm seus processos de produção muito menos prejudicados pela falta do telefone e do fax na área de compras.

Na outra ponta do processo, fornecedores que utilizam sistemas semelhantes de troca de dados com seus clientes, via Internet, puderam garantir o seu fluxo de produção ininterrupto. Aliás, estamos vivendo em uma época em que o fluxo da produção depende diretamente do fluxo de informação. Qualquer interrupção no segundo afeta imediatamente o primeiro. É a informação assumindo seu papel de um bem de valor na nova economia desta virada de milênio.

A reestruturação que já ocorre a olhos vistos, no panorama empresarial, é inevitável. Os dinossauros mudos da ineficácia vão cedendo lugar a empresas mais ágeis, com uma eficiência de resposta mais rápida aos estímulos gerados pela cadeia de negócios. Como acontece em toda época de mudanças, só irão sobreviver aqueles que se adaptarem com rapidez ao novo meio ambiente. E enxergar longe é uma característica essencial na nova economia, onde continua valendo a máxima que ensina que o pior cego é aquele que não quer ver. Mário Persona é diretor de comunicação da Widesoft Sistemas Ltda., uma empresa que desenvolve sistemas para negócios na Internet.

(*) Mário Persona é consultor, escritor e palestrante. Esta crônica faz parte dos temas apresentados em suas palestras. Edita o boletim eletrônico Crônicas de Negócios e mantém endereço próprio na Web, onde seus textos estão disponíveis.