O telefone está mudo - mas
só para quem está cego
Mário Persona (*)
Colaborador
Com as
mudanças no sistema DDD, muitas empresas começam a contabilizar
o prejuízo causado pela falta de comunicação com clientes
e fornecedores. Negócios deixaram de ser efetuados, pagamentos sofreram
atrasos e até linhas de produção pararam por falta
da matéria-prima que não pôde ser encomendada. Em momentos
assim é que os empresários percebem o quanto dependem dos
meios de comunicação tradicionais como telefone e fax.
Com a impossibilidade de se fazer interurbanos
para determinadas áreas, muitas empresas sentiram-se ilhadas, incapazes
de se comunicar e realizar negócios. Para algumas, a salvação
foi a Internet, usada principalmente para a comunicação via
e-mail.
Nunca foi tão verdadeiro o ditado que diz que em terra de cego quem
tem um olho é rei. Mas o "um olho" de quem se livrou de um prejuízo
maior já é visão panorâmica para as empresas
mais modernas, que há um bom tempo enxergam o que está acontecendo
no panorama dos negócios.
Mudanças - Há
sinais bem claros de que já entramos com tudo na era da informação
digital. Segundo o Wally Bock's Monday
Memo, um boletim semanal enviado pela Internet, o governo norte-americano
anunciava, na última semana, que iniciaria a qualificação
para a distribuição de fundos às universidades com
cursos pela Internet.
Paralelamente, segundo o mesmo boletim,
a revista Windows Magazine previa o fim de sua edição
impressa em Agosto de 1999, permanecendo a versão
digital
on-line. E mais: a AOL e a Prodigy anunciavam a distribuição,
nos Estados Unidos, de equipamentos E-Machines
para usuários de planos especiais. Esses micros de US$ 399,00, especialmente
produzidos para acessar a Internet, podem invadir os lares e empresas que
ainda não estão plugados à Rede.
Tudo isso revela o impacto que a
Internet está tendo nos mais diversos segmentos da sociedade. E
quem abriu os olhos já percebeu que, de agora em diante, a Internet
vai ser o meio predominante na comunicação pessoal e empresarial.
Com as mudanças ocorrendo em um piscar de olhos, até para
quem já usa a Internet comercialmente é importante não
ficar parado. Não apenas as empresas que ainda não possuem
uma estratégia de Internet precisam correr, mas até aquelas
que já estão na Rede devem manter um aprimoramento constante.
Do contrário ficarão a ver navios.
Realidade - Mas estar na Internet
não é apenas ter uma home page institucional ou trocar
e-mails
com parceiros de negócios. A Internet tornou viável a computação
em rede a preço de banana. O que antes era apenas um sonho impossível
agora é realidade. Qualquer empresa pode ter um terminal ligado
a seus clientes ou fornecedores bem na mesa de seu departamento comercial.
Não faz muito tempo que a
tecnologia para algo assim custava uma fortuna e só estava acessível
a bancos ou grandes corporações. O resto tinha que se virar
na base do "Alô! Alô!", mandando fax de um lado para o outro,
amargando os erros gerados por pedidos verbais ou mal transmitidos e ainda
pagar uma conta salgada de interurbano no final do mês. Sem falar
na surpresa de ficar na mão por conta de problemas na mudança
do DDD.
Ilhas - Nos últimos
dias, enquanto algumas empresas ficaram ilhadas com a falta do interurbano,
outras se revelaram como verdadeiras ilhas de tecnologia da comunicação
em um mar de telefones mudos. Foi o caso de empresas como a Xerox do Brasil,
Freios Varga e outras que, há algum tempo, trocam informações
de compra com seus fornecedores, utilizando um sistema de programação
de entrega que funciona através da Internet. Com a comunicação
garantida com os fornecedores que participam do sistema, empresas assim
têm seus processos de produção muito menos prejudicados
pela falta do telefone e do fax na área de compras.
Na outra ponta do processo, fornecedores
que utilizam sistemas semelhantes de troca de dados com seus clientes,
via Internet, puderam garantir o seu fluxo de produção ininterrupto.
Aliás, estamos vivendo em uma época em que o fluxo da produção
depende diretamente do fluxo de informação. Qualquer interrupção
no segundo afeta imediatamente o primeiro. É a informação
assumindo seu papel de um bem de valor na nova economia desta virada de
milênio.
A reestruturação que
já ocorre a olhos vistos, no panorama empresarial, é inevitável.
Os dinossauros mudos da ineficácia vão cedendo lugar a empresas
mais ágeis, com uma eficiência de resposta mais rápida
aos estímulos gerados pela cadeia de negócios. Como acontece
em toda época de mudanças, só irão sobreviver
aqueles que se adaptarem com rapidez ao novo meio ambiente. E enxergar
longe é uma característica essencial na nova economia, onde
continua valendo a máxima que ensina que o pior cego é aquele
que não quer ver. Mário Persona é diretor de comunicação
da Widesoft Sistemas Ltda., uma empresa que desenvolve sistemas para negócios
na Internet.
(*) Mário
Persona é consultor, escritor e palestrante. Esta crônica
faz parte dos temas apresentados em suas palestras. Edita o boletim eletrônico
Crônicas
de Negócios e mantém endereço
próprio na Web, onde seus textos estão disponíveis. |