Álcool, talco ou velva?
Mário Persona (*)
Colaborador
Esta
pergunta sempre foi comum nas barbearias tradicionais após uma barba
bem feita com a navalha afiada. E o que poderia levar alguém a sentar-se
em uma cadeira reclinada, olhando para o teto, com os braços semi
imobilizados por uma toalha e quinze centímetros de lâmina
passeando por seu pescoço? Obviamente o prazer de estar sendo bem
tratado. Mas este sentimento só poderia surgir a partir do momento
em que o barbeiro conquistasse a confiança de seu cliente. E no
conjunto todo de gentilezas que contribuíam para isto estava deixar
ao cliente a escolha do que passar em seu rosto após a barba.
Ainda não apareceu uma barbearia
na Internet, mas a lição do barbeiro permanece. Pode ser
este o grande segredo que irá fazer a diferença entre os
gigantes do comércio e a dona Maria que resolveu vender sua geléia
de mocotó na Web. O pequeno não precisa se preocupar em parecer
grande, mas precisa conquistar a confiança do cliente.
Diferencial - Mas existe mercado
para o pequeno na Internet? Bem, se não existisse as mercearias
já teriam desaparecido e ninguém mais faria a barba nas barbearias.
E veja que os supermercados podem ter preços melhores, e até
uma criança consegue fazer a barba com um barbeador elétrico,
mas é tudo impessoal demais para o gosto de alguns. O grande diferencial
do barbeiro, quitandeiro ou pequeno comerciante da esquina foi conquistar
a confiança de sua clientela. E isto é algo que às
vezes dura anos.
Você talvez não vá
abrir uma barbearia na Internet, mas que tal um escritório de advocacia?
Ou uma consultoria de negócios? Para qualquer atividade, conquistar
a confiança do cliente é essencial. E nada melhor para se
conquistar a confiança do que uma conversa franca com o cliente.
Como o barbeiro que comenta as notícias do dia ou o dono da mercearia
que se importa com o que acontece no bairro, na Internet é possível
você iniciar uma conversa fornecendo informação amigável
e a possibilidade do visitante interagir com você.
Chamo de informação
amigável aquela mão amiga que faz seu visitante querer voltar
ao site. É a livraria que cria um ambiente para aqueles que adoram
ler, com salas de leitura gratuita, chat com autores do momento
ou listas de discussões para temas variados. Dicionários
online e boletins gratuitos por e-mail sobre novos lançamentos
completam o quadro.
Humanos - Infelizmente muita
gente tem tamanha fixação pelo produto ou por vender milhões,
que acaba se esquecendo de que são seres humanos e não números
que estão sendo atendidos. É muita ingenuidade pensar que
todas as pessoas entram na Internet querendo comprar alguma coisa. Ao contrário,
comprar é seguramente a última coisa que passa pela cabeça
de quem navega.
As pessoas navegam em busca de informação,
entretenimento ou simplesmente porque querem fazer algo diferente. É
a busca por opções, mas dentro de um ambiente confiável.
Há muito que o barbeiro descobriu isso, daí a pergunta: "Álcool,
Talco ou Velva?" Ele não impõe, mas apresenta opções.
O comerciante na Web deveria fazer o mesmo. A frase já consagrada
no comércio deveria ocupar um lugar de honra na mente de cada aspirante
ao comércio virtual: "Em que posso servi-lo?".
Exemplos - Doug Stewart, proprietário
de uma revenda especializada
em impressoras, conta que seu primeiro site de vendas se restringia
a apresentar as informações básicas de seus produtos.
Todos os seus concorrentes faziam assim. Foi então que resolveu
rechear seu site com informações úteis para os visitantes,
detalhes e soluções que geralmente não eram encontradas
em um site de e-commerce. Suas vendas dispararam. Embora em seu
site as vendas não sejam processadas on-line, o site de Doug
tornou-se parada obrigatória para quem quer saber onde está
pisando antes de escolher uma impressora. O segredo foi conquistar a confiança
do cliente, preocupando-se com suas necessidades e criando uma atmosfera
que o ajudasse a tomar decisões.
Mas não pense que conquistar
a confiança do cliente seja algo simples e rápido. Não
é. Como em qualquer outro negócio, é preciso investir,
não apenas no design, mas muito mais em tempo e informação.
Veja o caso da Land Send, uma loja de
roupas. Vale a pena um passeio por lá. Escolha um sapato qualquer
e você vai aprender o tipo de forma que a fábrica usou e como
as diferentes peças de couro foram costuradas.
E não se surpreenda ao descobrir
que eles tem assunto suficiente para gastar quase uma lauda de texto ao
descrever uma simples cueca! Exagero? Não. Eles vendem e muito,
mas para chegar a tal ponto foi preciso trabalho, muito trabalho. O resultado
para quem visita o site é aquele sentimento de que tem sempre alguém
perto de você para atender suas necessidades.
Talvez ainda demore até você
encontrar barbeiros na Internet, mas alguns sites já conseguem criar
o clima agradável dos tradicionais salões: um ambiente que
inspira confiança. Lá você pode ler o jornal do dia,
bater um papo amigável - que hoje chamamos de "chat" - e
quase sentir o cheiro do pós-barba.
Não acredita? Bem, então
deixe-me perguntar: Existe algum site que você costuma visitar com
freqüência? E por que vai lá? Se descobrir a razão
dessa atração que é exercida sobre você, já
estará a meio caminho para entender como criar a atmosfera - o aroma
cibernético - que atraia seus clientes. Então você
terá descoberto a versão virtual do "álcool, talco
ou velva".
(*) Mário
Persona é consultor, escritor e palestrante. Esta crônica
faz parte dos temas apresentados em suas palestras. Edita o boletim eletrônico
Crônicas
de Negócios e mantém endereço
próprio na Web, onde seus textos estão disponíveis. |