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Artigo escrito em 1999
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 01/15/02 11:51:16
Pensando no futuro 
 
"Eu nasci assim, eu cresci assim e sou mesmo assim, vou ser sempre assim, Gabriela..." 
("Modinha para Gabriela" - Dorival Caymmi)
Mário Persona (*)
Colaborador

Entrar na rede não significa deitar nela, achando que lá as coisas nunca mudam. O que você fez hoje pode não servir para amanhã, graças à enorme velocidade com que as coisas acontecem no mundo virtual. Se quiser que seu empreendimento tenha sucesso, será preciso ficar atento às mudanças que acontecem na Web, e acompanhá-las para não deixar a peteca cair. Se parar onde está, tudo o que investiu terá o efeito de uma fachada de loja pintada no muro de um terreno baldio. As pessoas passam, vêem, e fica por isso mesmo. Veja aqui o rumo que seu negócio virtual deverá tomar.

Seu primeiro passo foi conectar sua empresa à rede mundial. Muita coisa começou a mudar a partir de então. Pesquisas de fornecedores, clientes e concorrentes ficaram mais rápidas. A comunicação melhorou. Longas cartas comerciais cheias de "Prezado" para cá, e "Por meio desta" para lá, foram substituídas por práticas mensagens de e-mail que já iam direto ao assunto. Seu pessoal ficou melhor informado, com o jornal do dia a um clique de distância. 

Depois, foi a vez de garantir sua presença na Internet, um cartão de visitas que, para alguns, evoluiu até um catálogo virtual com produtos da empresa. Sua empresa começou a ser encontrada e pedidos de informação, vindos não se sabe de onde, acabaram gerando negócios e abrindo a fronteira para novos e inesperados mercados. Talvez você tenha até se aventurado a vender seus produtos on-line, e escutou sua registradora virtual tilintar. Não demorou para que você, seus clientes e concorrentes tivessem a certeza de que a Internet era o lugar onde todas as empresas deveriam estar. E uma vez lá, ninguém iria querer estagnar.

Ano Internet - Você deve estar estranhando por eu estar escrevendo em estilo de retrospectiva. Como se conexão, e-mail, sites de Internet ou comércio eletrônico fossem águas passadas. E são. No calendário da Internet, um ano vale por dez. Ou valiam quando comecei a escrever. Agora vale por onze. E em doze anos as coisas mudam muito. Você deve sentir isso quando olha como tudo era diferente há treze anos. São quatorze primaveras, quinze verões, dezesseis outonos e dezessete invernos! Não irá demorar para que até o que lê aqui ficar desatualizado. Não ficou?

Tudo o que você ler no jornal de amanhã sobre empresas e Internet já é história. Daí a necessidade de se antecipar, não de correr atrás de modismos. Para saber o que vem depois, basta seguir o impulso criado pelo clique do mouse de um navegante. Cada impulso em busca de informação o leva ao site de sua empresa ou de outra qualquer. Encontrando o que procura, surge o desejo de compra. E poucos cliques depois, o navegante, transformado em cliente, estará exercendo um poder como nunca teve antes. Sua decisão estará influenciando linhas de produção de dezenas de empresas. Empresas que nunca venderam para o consumidor final, agora irão vender. Porque estarão integradas a uma cadeia produtiva da qual só ficam de fora os inaptos.

Isto porque uma compra hoje já não é uma relação a dois. Não fica confinada ao comprador e ao vendedor. Pense em um automóvel. Quantos insumos estão envolvidos na sua fabricação. Desde um complexo chip para controlar a ignição, até o pigmento da tinta usada na pintura ou o fio do qual é feito o tecido que reveste os bancos. Em uma economia de rede, dezenas ou centenas de indústrias acabam sendo afetadas por cada estímulo gerado pelo consumidor final. Uma grande cadeia produtiva que começa a ficar organicamente interligada.

Integração - Se ontem, em tempo de Internet, foi a vez de sua empresa conquistar uma presença virtual e iniciar seus negócios on-line, hoje é o momento dela se integrar ao ambiente de e-business. De negócios entre empresas participantes de sua comunidade de negócios. Chegou a hora de ter todos os seus parceiros - fornecedores, representantes, distribuidores, vendedores, transportadoras, bancos - integrados como se fossem diferentes departamentos de uma única empresa. Uma comunidade produtiva com um poder jamais sonhado por empresas isoladas.

Enquanto isso, sua empresa se tornará cada vez mais virtual. Se hoje você depende de outros para a obter a matéria prima que transforma em produto, logo estará dependendo de outros para serviços que hoje executa internamente. Porque o internamente deixa de fazer sentido quando sua empresa trabalha em uma rede. 

Produzir é cada vez mais uma capacidade de gerenciar informação do que de transformar matéria. Fornecedores de serviços e sistemas via Internet, que funcionarão para você como se estivessem na sala ao lado, fazem parte da próxima onda para a qual você já deve se preparar. Da sua capacidade de escolher esses fornecedores estratégicos e formar sua comunidade irá depender o sucesso de sua empresa.

Então a competição deixará de ser entre empresa e empresa, e passará a ser entre comunidades de negócios. Você está preparado para encarar as mudanças? Se chegou até aqui, é porque está desejoso de enfrentá-las. Se eu consegui despertar em você esta consciência, me dou por satisfeito. Agora é sua vez de agir, ainda que isto venha a causar uma mudança completa na cultura de sua empresa. Afinal, sua empresa não é Gabriela. Se nasceu assim, cresceu assim, se foi sempre assim, não irá querer morrer assim.

(*) Mário Persona é consultor, escritor e palestrante. Esta crônica faz parte dos temas apresentados em suas palestras. Edita o boletim eletrônico Crônicas de Negócios e mantém endereço próprio na Web, onde seus textos estão disponíveis.