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*Publicado originalmente pelo editor de Novo Milênio no caderno Informática do jornal A Tribuna de Santos, em 14/9/1999.
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 01/05/00 11:05:13
INTERNET
Torne seu computador útil à Humanidade
Participe de projetos científicos ou assistenciais com um clique do mouse

Carlos Pimentel Mendes
Editor

Não é necessário gastar seu dinheiro nem seu tempo. Tudo o que você tem a fazer é dar um clique no mouse para reduzir um pouco a fome no mundo. Para participar de um projeto científico internacional, nem isso: depois de instalado um programa obtido pela Internet, é o seu computador que vai fazer tudo, quando você não o estiver usando. Tão simples assim que muita gente, em todo o mundo, já está participando de projetos como os dois citados nesta página: os projetos Seti e WFP.

Seti é sigla de Search for Extraterrestrial Intelligence (busca por inteligência extraterrestre) e WFP, de World Food Programme (programa mundial de alimentos). Ambos são os melhores e mais conhecidos exemplos em seus setores (existem muitos outros), e mostram como a criatividade, aliada à poderosa ferramenta de interligação mundial de computadores Internet, podem estar delineando um novo mundo. O que hoje é raro, muito em breve poderá ser comum.

Seti – Exemplo mais conhecido do que se costuma chamar de Informática Colaborativa, o Projeto Phoenix do Seti Institute (Seti@home) utiliza uma rede mundial de computadores para fazer o processamento dos sinais recebidos pelo maior radiotelescópio do mundo (o de Arecibo, em Porto Rico), em busca de sinais que possam indicar vida inteligente em algum planeta. 

Ao instalar em seu computador um programa tipo salva-tela especialmente desenvolvido, o internauta passa a colaborar nessa busca, usando o poder de processamento desperdiçado em seu computador - isto é, aquele período em que o computador fica ligado, inativo, à espera de algum comando, enquanto o usuário saiu para tomar um cafezinho.

Funciona assim: durante os acessos à Internet, automaticamente o programa recebe um bloco de dados para analisar. Quando o computador fica em descanso (ligado mas sem uso), entra em ação o salva-tela especial, que enquanto protege o monitor contra o desgaste (como os demais screen savers do mercado) vai analisando os dados recebidos. Na vez seguinte em que for feito o acesso à internet, o programa automaticamente retransmite ao Seti os dados já processados e pega outro bloco de dados para continuar o serviço. O único trabalho do internauta é no início, para instalar o programa no computador.

A idéia funciona bem, pois os pesquisadores descobriram que é mais eficiente e barato  distribuir o processamento dos dados pelos computadores disponíveis no mundo, que obter um supercomputador para fazer o processamento das informações. Afinal, eles também têm dificuldades, como nós, para obter verbas oficiais para um projeto desse porte.

A página principal do Seti@home está na universidade norte-americana de Berkeley. Escolha o idioma nessa página, ou vá diretamente para a página do idioma Português Padrão. Procure pelo vínculo de download, de acordo com o seu tipo de computador e ambiente operacional. Em breve, o site incluirá um mapa-mundi mostrando como pontos de luz todos os internautas participantes do projeto. 

Só não espere ser o primeiro a descobrir sinal de vida inteligente em outro planeta. Mesmo que a descoberta seja feita no bloco de dados processado pelo seu computador, os dados criptografados serão enviados normalmente à coordenação do Seti. Você nunca ficará sabendo que aquele seu equipamento de casa ou do escritório terá respondido conclusivamente, pela primeira vez na História, à velha dúvida da Humanidade: estamos sós, neste vasto Universo?

WFP – Para participar do World Food Programme (WFP), o internauta só precisa acessar a página The Hunger Site e dar um clique (só um clique por dia e por internauta é considerado). Para cada clique seu, uma entidade fará uma doação para o programa WFP - que é reconhecido pelas Nações Unidas, não é uma daquelas correntes da felicidade que circulam por aí e insistem em atulhar sua caixa postal eletrônica. Desde que o site foi criado no dia 1/6/1999, abrangendo 80 países, o Brasil é o segundo maior doador de alimentos através desse sistema (perde apenas para os Estados Unidos e está muito à frente de Alemanha, Reino Unido, Canadá e Austrália, que praticamente empatam no terceiro lugar).

A simplicidade do sistema - tanta que muitos internautas adotaram como prática, ao acessarem a Internet pela primeira vez no dia, passarem pelo site do WFP e darem uma clicadinha - é que faz dele um dos maiores sucessos de marketing da história da Web. Ao clicar na página, você passa a uma página com a mensagem de agradecimento, assinada pelas entidades e empresas que se comprometeram a fazer a doação (equivalente a um copo e meio de arroz e outros alimentos, com os atuais seis patrocinadores, e a meta atual é obter mais três). Fazer com que você saiba que essas empresas e instituições estão realizando um trabalho contra a fome, quem sabe com o tempo se lembrando de seus nomes, é a recompensa que elas obtêm pela doação feita.

Essa é a mágica. Que se completa com um curioso design: na tela principal do site aparece um mapa-mundi branco. A cada instante (o intervalo é de 3,6 segundos), um país pisca na cor negra: significa que naquele momento, alguém nesse país morreu de fome. A legenda dessa imagem informa que 3/4 dessas mortes são de crianças abaixo dos cinco anos de idade. Há mais estatísticas no site (existe uma página em português, no vínculo Translations): são 24 mil mortes/dia causadas pela fome total ou por problemas dela decorrentes, que afligem 800 milhões de pessoas em todo o mundo. É preciso dizer mais?