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Distribuído em 8/1999.
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 01/05/00 11:38:45
Velocidade dos leitores de CDs não é a especificada na caixa 

Veja o que significa realmente o número seguido da letra x nos drives

 Jefferson Ryan (*)
Colaborador

Muita gente se confunde com o significado do "x" que quantifica a velocidade dos drives de CD-ROM. Para entender seu significado vale a pena conhecer um pouco da história do CD-ROM.

O primeiro drive de CD-ROM colocado à venda para o grande público era capaz de ler CDs a uma velocidade de 150 KB por segundo (150KB/s ou 0.15MB/s); para os padrões de hoje, uma tartaruga seria mais rápida, mas como na época a capacidade de um CD era considerada monstruosa (640MB era muito mais do que o maior winchester à venda poderia conter) e os ditos winchesters da época não eram muito mais rápidos do que isso, o CD ROM tornou-se um sucesso.

A velocidade de 150KB/s não foi determinada ao acaso. Essa é a mínima velocidade necessária para se ler um CD de música (CD áudio), porque cada segundo de àudio gravado com qualidade CD ocupa 150KB (como comparação: um disquete de 1.44 MB só comporta um pouco menos de 10 segundos de gravação com qualidade de CD).

Quando o primeiro drive de CD-ROM capaz de ler a 300 KB/s foi lançado, ele foi chamado de "2X" para que o público fosse capaz de perceber mais facilmente que ele tinha o dobro da velocidade de seu predecessor. A lógica é simples: mesmo os possuidores do primeiro drive de CD-ROM não tinham o conhecimento (ou a lembrança) de que seus drives liam a 150KB/s.

Então, anunciar um drive como sendo de 300 KB/s não teria qualquer apelo para esses consumidores. Entretanto, dizer que o novo drive era capaz de ler a 2 vezes a velocidade de seu drive atual era outra coisa. "2X" então queria dizer "duas vezes" ou "o dobro".

Não é – Um ponto importante a frisar aqui é que esse drive não lia (e não lê) a "duas velocidades". Sua velocidade é única e igual a 300 KB/s. No Brasil, nos acostumamos a chamar todos os drives que atingiam essa especificação de drives de "dupla velocidade" ou drives "dois x" para simplificar.

Com o aparecimento de drives mais rápidos e com a entrada no mercado de vendedores menos especializados tornou-se comum se referir a drives de "6 velocidades", "8 velocidades", e assim por diante. Não é tecnicamente correto chamá-los assim, porque qualquer um desses drives (com exceção dos drives CAV de que falarei adiante) tem uma única velocidade: a máxima possível.

Diferentes tecnologias – Lembro-me de, quando criança, brincar colocando um bonequinho para girar sobre um LP enquanto este tocava. Quanto mais longe do centro do disco eu o colocava, mais rápido ele girava e mais difícil era mantê-lo de pé.

Esse é um efeito curioso dos objetos circulares que giram: enquanto eles giram a uma velocidade constante (uma Velocidade Angular Constante), a velocidade medida na superfície do objeto (a Velocidade Linear) aumenta gradativamente à medida que medimos pontos mais afastados do eixo.

A tecnologia usada nos drives de CD-ROM até 12X é chamada de CLV (Constant Linear Velocity ou Velocidade Linear Constante). Ela é chamada assim porque a área varrida pelo Laser no CD é sempre a mesma num mesmo intervalo de tempo. Para tornar isso possível, os fabricantes determinaram um esquema em que a velocidade angular do drive (a velocidade de seu motor principal) é reduzida à medida que o laser se afasta em direção à borda. Temos então uma Velocidade Angular que varia para permitir uma Velocidade Linear Constante. Em drives de tecnologia CLV, então, não importa em que parte do CD a informação esteja gravada.

Os drives de CD-ROM mais recentes implementam uma outra tecnologia, chamada CAV em que a velocidade do motor que gira o disco é mantida constante como em um toca-discos. À medida que o laser se afasta do centro do CD então, os dados são lidos mais rapidamente. Assim um drive pode começar a uma velocidade de 8X na sua trilha mais central e terminar em 24X na sua trilha mais externa.

Fabricantes mais honestos (ou os que se veêm obrigados a isso pelo mercado) nomeiam seus drives como 24X MAX, refletindo que é sua velocidade máxima. Não tenho conhecimento de nenhum drive de 24X reais à venda no mercado (um drive CLV) então todos os drives no mercado, quer contenham a descrição MAX ou não, são CAV.

A nova tecnologia leva a problemas óbvios. Você só se beneficia da velocidade se os dados que você usa estiverem concentrados no final do CD. Entretanto, como a gravação e a leitura em CDs começa por sua trilha central, você passa a maior parte do tempo desfrutando de sua velocidade mínima.

Nota técnica – Tenha em mente que a densidade de gravação nos CDs, ao contrário dos HDs, é constante em toda a superfície. Podemos dizer que HDs utilizam tecnologia CAV, porque a velocidade de seu motor é constante, mas a localização física dos dados em um HD não faz diferença porque os circuitos de gravação mudam a densidade de gravação à medida que a cabeça se aproxima do centro do HD. Como exemplo grosseiro, podemos dizer que se em um centímetro quadrado na extremidade do HD a cabeça grava 1 MB, no centro ela grava 5 MB.

Assim, a velocidade linear mais baixa no centro é compensada por mais dados lidos por centímetro. Pela mesma razão, toda a metodologia dos testes de velocidade tem que ser adaptada aos novos drives. Um programa que meça a velocidade de um drive de CD ROM deve colher amostras em diferentes locais do disco e drives CAV devem ser preferencialmente comparados a outros drives CAV. Um drive de CD-ROM 24X MAX que tenha uma velocidade mínima de 8 X irá ser comparado desfavoravelmente a um drive de 12 X CLV.

Os fabricantes foram obrigados a trocar a tecnologia CLV pela tecnologia CAV por vários fatores, sendo que o mais importante deles é a própria velocidade rotacional do disco. Um drive CLV de 12 X gira o disco a velocidades entre 6.360 RPM (para ler a trilha central) e 2.400 RPM (para ler a trilha mais externa). 6.360 rotações por minuto já é uma velocidade muito alta e qualquer coisa além disso pode fazer com que quaisquer imperfeições no disco ou em seu rótulo induzam o drive a vibrar. A vibração, além de provocar um ruído incômodo, dificulta o processo de focalização do laser.

Um drive CAV pode até trabalhar numa velocidade de rotação mais baixa (o suficiente para garantir uma leitura a 8X na trilha central) e mesmo assim ser mais "rápido" que um drive CLV, porque ele vai manter essa velocidade constante, ao contrário do CLV que iria reduzi-la até meros 2.400 RPM. Com velocidade reduzida, o motor recebe menor esforço e pode ser mais "barato" ou durar mais tempo.

Entretanto, não é apenas o problema de vibração que impede os fabricantes de aumentarem a velocidade dos motores para alcançar velocidades mais altas. O chip que recebe e processa os dados (chamado de DSP) recebidos pelo laser tem suas limitações também e os fabricantes de drives de CD-ROM precisam esperar que os desenvolvedores de DSPs lancem um chip mais rápido, mesmo que tenham descoberto um modo de fazer o motor girar mais rápido com pouca vibração.

É por causa da limitação nos DSPs que existem os drives p-CAV (Partial CAV ou CAV Parcial). Um drive de 20X p-CAV, por exemplo, tem um DSP que só aguenta receber dados até 20X. Assim o drive funciona como CAV até o ponto em que os dados começam a chegar a 20X e reduz sua velocidade para cada trilha seguinte (como se fosse um CLV) de modo a manter-se dentro dos limites de absorção do DSP.

Padronização – Não se assuste se o vendedor de sua loja favorita não estiver a par dessas diferenças tecnológicas. A maioria não está. E infelizmente isso está deixando de fazer alguma diferença. Hoje a maioria dos drives de CD-ROM já não é mais CLV.

Bem, se não é possível escolher, porque eu falei tudo isso? Simples: para que as pessoas que já têm um drive de CD-ROM não fiquem na expectativa de grandes melhorias na performance ao fazer um upgrade de drive. Se você tem um drive de 12X, é recomendável que você gaste o dinheiro que você usaria em um upgrade de CD em mais memória para seu computador ou em qualquer outra coisa com melhor relação custo/benefício. Trocando de drive, exceto em situações específicas, você corre o risco de ficar decepcionado com os resultados.

(*) Jefferson Ryan publica esse e outros textos em sua página no Webrecife e o tema foi também divulgado na Lista Informativa MeuPovo (contatos com Dario Mor).