Velocidade dos leitores de CDs não
é a especificada na caixa
Veja o que significa realmente
o número seguido da letra x nos drives
Jefferson Ryan (*)
Colaborador
Muita
gente se confunde com o significado do "x" que quantifica a velocidade
dos drives de CD-ROM. Para entender seu significado vale a pena conhecer
um pouco da história do CD-ROM.
O primeiro drive de CD-ROM
colocado à venda para o grande público era capaz de ler CDs
a uma velocidade de 150 KB por segundo (150KB/s ou 0.15MB/s); para os padrões
de hoje, uma tartaruga seria mais rápida, mas como na época
a capacidade de um CD era considerada monstruosa (640MB era muito mais
do que o maior winchester à venda poderia conter) e os ditos
winchesters da época não eram muito mais rápidos
do que isso, o CD ROM tornou-se um sucesso.
A velocidade de 150KB/s não
foi determinada ao acaso. Essa é a mínima velocidade necessária
para se ler um CD de música (CD áudio), porque cada segundo
de àudio gravado com qualidade CD ocupa 150KB (como comparação:
um disquete de 1.44 MB só comporta um pouco menos de 10 segundos
de gravação com qualidade de CD).
Quando o primeiro drive de CD-ROM
capaz de ler a 300 KB/s foi lançado, ele foi chamado de "2X" para
que o público fosse capaz de perceber mais facilmente que ele tinha
o dobro da velocidade de seu predecessor. A lógica é simples:
mesmo os possuidores do primeiro drive de CD-ROM não tinham
o conhecimento (ou a lembrança) de que seus drives liam a 150KB/s.
Então, anunciar um drive
como sendo de 300 KB/s não teria qualquer apelo para esses consumidores.
Entretanto, dizer que o novo drive era capaz de ler a 2 vezes a velocidade
de seu drive atual era outra coisa. "2X" então queria dizer
"duas vezes" ou "o dobro".
Não é – Um ponto
importante a frisar aqui é que esse drive não lia (e não
lê) a "duas velocidades". Sua velocidade é única e
igual a 300 KB/s. No Brasil, nos acostumamos a chamar todos os drives
que atingiam essa especificação de drives de "dupla
velocidade" ou drives "dois x" para simplificar.
Com o aparecimento de drives
mais rápidos e com a entrada no mercado de vendedores menos especializados
tornou-se comum se referir a drives de "6 velocidades", "8 velocidades",
e assim por diante. Não é tecnicamente correto chamá-los
assim, porque qualquer um desses drives (com exceção
dos drives CAV de que falarei adiante) tem uma única velocidade:
a máxima possível.
Diferentes tecnologias – Lembro-me
de, quando criança, brincar colocando um bonequinho para girar sobre
um LP enquanto este tocava. Quanto mais longe do centro do disco eu o colocava,
mais rápido ele girava e mais difícil era mantê-lo
de pé.
Esse é um efeito curioso dos
objetos circulares que giram: enquanto eles giram a uma velocidade constante
(uma Velocidade Angular Constante), a velocidade medida na superfície
do objeto (a Velocidade Linear) aumenta gradativamente à medida
que medimos pontos mais afastados do eixo.
A tecnologia usada nos drives
de CD-ROM até 12X é chamada de CLV (Constant Linear Velocity
ou Velocidade Linear Constante). Ela é chamada assim porque a área
varrida pelo Laser no CD é sempre a mesma num mesmo intervalo de
tempo. Para tornar isso possível, os fabricantes determinaram um
esquema em que a velocidade angular do drive (a velocidade de seu
motor principal) é reduzida à medida que o laser se afasta
em direção à borda. Temos então uma Velocidade
Angular que varia para permitir uma Velocidade Linear Constante. Em drives
de tecnologia CLV, então, não importa em que parte do CD
a informação esteja gravada.
Os drives de CD-ROM mais recentes
implementam uma outra tecnologia, chamada CAV em que a velocidade do motor
que gira o disco é mantida constante como em um toca-discos. À
medida que o laser se afasta do centro do CD então, os dados são
lidos mais rapidamente. Assim um drive pode começar a uma
velocidade de 8X na sua trilha mais central e terminar em 24X na sua trilha
mais externa.
Fabricantes mais honestos (ou os
que se veêm obrigados a isso pelo mercado) nomeiam seus drives
como 24X MAX, refletindo que é sua velocidade máxima. Não
tenho conhecimento de nenhum drive de 24X reais à venda no
mercado (um drive CLV) então todos os drives no mercado,
quer contenham a descrição MAX ou não, são
CAV.
A nova tecnologia leva a problemas
óbvios. Você só se beneficia da velocidade se os dados
que você usa estiverem concentrados no final do CD. Entretanto, como
a gravação e a leitura em CDs começa por sua trilha
central, você passa a maior parte do tempo desfrutando de sua velocidade
mínima.
Nota técnica – Tenha
em mente que a densidade de gravação nos CDs, ao contrário
dos HDs, é constante em toda a superfície. Podemos dizer
que HDs utilizam tecnologia CAV, porque a velocidade de seu motor é
constante, mas a localização física dos dados em um
HD não faz diferença porque os circuitos de gravação
mudam a densidade de gravação à medida que a cabeça
se aproxima do centro do HD. Como exemplo grosseiro, podemos dizer que
se em um centímetro quadrado na extremidade do HD a cabeça
grava 1 MB, no centro ela grava 5 MB.
Assim, a velocidade linear mais baixa
no centro é compensada por mais dados lidos por centímetro.
Pela mesma razão, toda a metodologia dos testes de velocidade tem
que ser adaptada aos novos drives. Um programa que meça a velocidade
de um drive de CD ROM deve colher amostras em diferentes locais do disco
e drives CAV devem ser preferencialmente comparados a outros drives CAV.
Um drive de CD-ROM 24X MAX que tenha uma velocidade mínima de 8
X irá ser comparado desfavoravelmente a um drive de 12 X CLV.
Os fabricantes foram obrigados a
trocar a tecnologia CLV pela tecnologia CAV por vários fatores,
sendo que o mais importante deles é a própria velocidade
rotacional do disco. Um drive CLV de 12 X gira o disco a velocidades entre
6.360 RPM (para ler a trilha central) e 2.400 RPM (para ler a trilha mais
externa). 6.360 rotações por minuto já é uma
velocidade muito alta e qualquer coisa além disso pode fazer com
que quaisquer imperfeições no disco ou em seu rótulo
induzam o drive a vibrar. A vibração, além
de provocar um ruído incômodo, dificulta o processo de focalização
do laser.
Um drive CAV pode até
trabalhar numa velocidade de rotação mais baixa (o suficiente
para garantir uma leitura a 8X na trilha central) e mesmo assim ser mais
"rápido" que um drive CLV, porque ele vai manter essa velocidade
constante, ao contrário do CLV que iria reduzi-la até meros
2.400 RPM. Com velocidade reduzida, o motor recebe menor esforço
e pode ser mais "barato" ou durar mais tempo.
Entretanto, não é apenas
o problema de vibração que impede os fabricantes de aumentarem
a velocidade dos motores para alcançar velocidades mais altas. O
chip que recebe e processa os dados (chamado de DSP) recebidos pelo
laser tem suas limitações também e os fabricantes
de drives de CD-ROM precisam esperar que os desenvolvedores de DSPs
lancem um chip mais rápido, mesmo que tenham descoberto um
modo de fazer o motor girar mais rápido com pouca vibração.
É por causa da limitação
nos DSPs que existem os drives p-CAV (Partial CAV ou CAV Parcial).
Um drive de 20X p-CAV, por exemplo, tem um DSP que só aguenta
receber dados até 20X. Assim o drive funciona como CAV até
o ponto em que os dados começam a chegar a 20X e reduz sua velocidade
para cada trilha seguinte (como se fosse um CLV) de modo a manter-se dentro
dos limites de absorção do DSP.
Padronização
– Não se assuste se o vendedor de sua loja favorita não estiver
a par dessas diferenças tecnológicas. A maioria não
está. E infelizmente isso está deixando de fazer alguma diferença.
Hoje a maioria dos drives de CD-ROM já não é
mais CLV.
Bem, se não é possível
escolher, porque eu falei tudo isso? Simples: para que as pessoas que já
têm um drive de CD-ROM não fiquem na expectativa de
grandes melhorias na performance ao fazer um upgrade de drive.
Se você tem um drive de 12X, é recomendável
que você gaste o dinheiro que você usaria em um upgrade
de CD em mais memória para seu computador ou em qualquer outra coisa
com melhor relação custo/benefício. Trocando de drive,
exceto em situações específicas, você corre
o risco de ficar decepcionado com os resultados.
(*) Jefferson
Ryan publica esse e outros textos em sua página no Webrecife
e o tema foi também divulgado na Lista
Informativa MeuPovo (contatos com Dario
Mor). |