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Publicado originalmente pelo editor de Novo Milênio no caderno Informática do jornal A Tribuna de Santos, em 4/5/1999.
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 01/07/00 14:13:01
EMMY
Autômato foi construído na Unisanta 

Para ilustrar sua tese de doutorado, aprovada com distinção e louvor pela banca examinadora (de que participou também o próprio Newton Carneiro da Costa), o professor Inácio apresentou um robô móvel elaborado com base na Lógica Paraconsistente. O projeto, denominado Robô Móvel Emmy (em homenagem a Emmy Noether, eminente cientista com importantes contribuições no campo da Lógica Matemática), foi construído por quatro alunos da Faculdade de Engenharia Eletrônica da Unisanta.

Desde 11/1998, os alunos Cláudio Rodrigo Torres, Danilo de Mendonça Salles, Israel João Júnior e Alexandre César iniciaram os estudos e a construção de Emmy. Após uma palestra do professor João Inácio, os universitários resolveram mergulhar de cabeça na Lógica da Contradição. "Nós levamos a tese de doutorado do professor para casa e começamos a estudar a Lógica da Contradição. Não foi difícil assimilar o conceito, pois a tese estava muito bem escrita", afirmou Cláudio.

Todos os componentes do grupo residem na região do ABCD paulista. Por trabalharem durante o dia e estudarem à noite, decidiram renunciar às férias e aos finais de semana para desenvolver o projeto. "Os alunos de cursos noturnos às vezes são rotulados de fracos, pois não têm tempo para se dedicar aos estudos. Mas este trabalho prova que o interesse independe da carga horária de aulas. Encaramos esse desafio como se fosse uma tarefa solicitada pela indústria em que trabalho", afirmaram.

A montagem em módulos sobrepostos, separados por função, permite um estudo didático e a visualização da ação de cada parte no controle de movimentação do robô. Emmy tem 60 cm de altura e está montado numa plataforma móvel de alumínio de formato circular, com 30 cm de diâmetro. Além das placas de circuitos eletrônicos e dos sensores, possui baterias de alimentação, motores e rodas.

Fax com o esquema do sistema de controle de Emmy
Funcionamento – "As contradições ou inconsistências são comuns quando descrevemos partes do mundo real", lembra o professor: "Os sistemas de controle utilizados em Automação e Robótica funcionam em geral com base na Lógica Clássica, onde a descrição do mundo é considerada por apenas dois estados. Esses sistemas binários travam ao tentar tratar situações contraditórias. Assim, normalmente são projetados para ignorar informações que evidenciam conflito". 

"Na aplicação do controle clássico em Robótica, o tratamento de situações que fogem àquelas convencionais consume um tempo muito longo para ser processado, provocando lentidão nas respostas do robô, diminuindo assim a capacidade de reação e em muitas vezes provocando o desligamento do controle".

Porém, no projeto do professor João Inácio, o sistema de controle de deslocamento do robô funciona justamente com conceitos de inconsistência. Um Controlador Lógico Paraconsistente (CLP), construído em hardware, recebe e faz o tratamento de sinais elétricos. As informações sobre a existência ou não de obstáculos na trajetória do robô são obtidas por dois sensores de ultra-som (conhecidos como dispositivos para-sônicos), que fazem o papel do olho humano. Esses dispositivos são controlados por um circuito especial microprocessado que converte a distância de Emmy ao obstáculo em dois valores de tensão elétrica.

As amplitudes dos sinais de tensão elétrica são relacionadas proporcionalmente com as distâncias correspondentes entre o robô e os obstáculos. Para o CLP, os sinais de tensão são considerados como graus de crença e descrença. Após equacionados, os sinais recebem um tratamento conforme a Lógica Paraconsistente, que os transforma em palavras binárias compostas por 12 dígitos, que seriam as doze possibilidades de trabalho do robô.

Raciocínio – Dessa forma, o Robô Emmy pode trafegar em um ambiente não-estruturado, desviando de obstáculos e evitando colisão com quaisquer objetos presentes ou colocados repentinamente na sua trajetória, utilizando todas as condições oferecidas pela Lógica Paraconsistente. Entre os exemplos de contradições enfrentadas por Emmy estão situações como passar perto das paredes, em caminhos estreitos, curvos, em terrenos acidentados ou ainda na presença de tráfego. "O número de possibilidades de trabalho é ilimitado", explica o professor.

Ele observa que a Lógica Paraconsistente pode ter aplicações bem variadas, além de áreas como a Robótica, a Inteligência Artificial e as Redes Neurais. Na computação, por exemplo, um sistema especialista de suporte a diagnósticos médicos processaria dados contraditórios sobre as condições de saúde de um paciente, quando é impossível verificar qual deles é o verdadeiro.

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