TRABALHO
Profissional da computação
precisa ter domínio pleno até de nosso idioma
Especialista do ITA falou
na Unimes sobre as carreiras ligadas à informática
Nem toda
máquina com um circuito eletrônico que execute um algoritmo
é um computador. Ele pode ser definido como uma máquina cujo
chip
executa qualquer algoritmo apresentado pelo programador, permitindo assim
ampla interação com o usuário. Por exemplos como esse,
pode-se verificar como a palavra Computação tem um significado
bastante vago e indefinido, segundo o professor Duarte Lopes de Oliveira.
Titular do Departamento de Eletrônica do Instituto Tecnológico
da Aeronáutica (ITA), ele esteve em 13/4/1999 no auditório
da Universidade Metropolitana de Santos (Unimes) para falar sobre "O profissional
da computação e os seus desafios".
Recepcionado pelo diretor da área
de Computação da Unimes, Mário Sérgio Ribeiro,
e outros professores, Duarte iniciou a palestra lembrando a diferença
entre computadores de uso geral (como os PCs de mesa padrão) e os
equipamentos de uso dedicado (como os vários computadores existentes
a bordo de um avião, com um conjunto de algoritmos para analisar
as condições de vôo, trajetória, temperaturas
etc.). Explicou então que a área de Engenharia de Computação
é voltada principalmente aos sistemas computacionais dedicados,
projetados especificamente para uma finalidade.
Origens – Nos anos 60, um
programa com 10 mil linhas de código era considerado para uso em
máquinas de grande porte, com incríveis 200 KB de memória
randômica (RAM) e do tamanho de uma sala. Devido ao alto custo dos
equipamentos, o programa era considerado de importância mínima.
Hoje, um computador comum de mesa, de baixo custo, processa programas com
um milhão de linhas de código. Daí, o crescimento
da importância da programação, hoje bem mais onerosa.
Enquanto um programa comercial vem
com uma cláusula contratual em que os criadores não se responsabilizam
por bugs (erros na programação) e suas conseqüências
para o usuário, os programas desenvolvidos para finalidades específicas
- especialmente os que envolvem risco a vidas humanas, como os usados em
aeronaves - têm outro tratamento: passam por uma ampla e onerosa
bateria de testes, que pode ser mais demorada que o próprio tempo
de desenvolvimento do programa. Caso haja uma falha durante o uso, os testes
serão refeitos, para se verificar se houve negligência nesse
exame, e aperfeiçoados, para evitar a futura liberação
de programas com aquela falha.
Em 1967, um satélite norte-americano
não tripulado mudou de trajetória devido a um erro de programa
(uma vírgula indevida numa variável de programação
Fortran), que não fora detectado nos testes prévios
(não havia a necessidade de declarar as variáveis do programa).
Então, o governo estadunidense começou a se conscientizar
da necessidade de se dar tratamento de ciência exata à nascente
Engenharia de Software. Até hoje, não conseguiu, este
é o desafio para os próximos anos, segundo o palestrante.
Disciplina – Programar exige
muita disciplina: a documentação do programa, indicando que
parte do programa faz o quê, é muito importante, tanto quanto
se obter uma versão estável, sem falhas. O grande programador
é o que faz um programa e os colegas entendem o que foi feito. Se
apenas o autor entende o funcionamento do programa, então ele é
mau programador. A criação de um bom programa não
exige apenas conhecimento, mas também que o autor seja talentoso,
com boas idéias.
Explicou o professor Duarte que não
basta conhecer a fundo uma linguagem de programação, pois
um programa de computador, de per si, não faz nada, ele precisa
ser aplicado em alguma atividade. Por isso, o programador precisa entender
a computação como uma ferramenta que é para a realização
de alguma coisa, e ter experiência nas áreas comercial, científica
ou de suporte, nas quais vai aplicar seu conhecimento de computação.
Quando ele começou a trabalhar
em computação, bastava possuir o curso Colegial (atual 2º
Grau). Nos anos 70, começaram a surgir as escolas de Tecnologia
em Processamento de Dados, e nos anos 80 as especializações,
como analista de sistemas, engenharia de sistemas etc.
A Engenharia de Computação
veio suprir uma lacuna entre a Engenharia Eletrônica e a Ciência
da Computação, pois um projeto normalmente envolve equipamentos
e programas e é preciso ter na equipe desenvolvedora alguém
que (além de características inatas como capacidade de liderança
e gosto pela atividade) una os conhecimentos de sistemas operacionais
em termos de distribuição otimizada entre equipamentos e
programas (certas rotinas podem ser melhor desempenhadas por um chip
dedicado que por um programa), possa desenvolver projetos que envolvam
tempo real e sistemas distribuídos (algo diferente de redes comuns
de computadores, pois num sistema distribuído os vários computadores
se comunicam entre si, trocando informações e cada um executando
uma parte do trabalho).
Mercado – Em baixa nos anos
70 com os microchips e nos anos 80 com a globalização,
a Engenharia de Computação vem ganhando novo espaço
nesta década, mas para isso exige uma nova categoria de profissionais:
os prestadores de serviço autônomos, com empresas próprias,
que fornecem consultoria, possuem conhecimentos de Direito (por causa dos
contratos que precisam assinar com os clientes), de Contabilidade (para
administrarem suas empresas) e de Mercadologia (para apresentarem suas
atividades e conquistarem os clientes), entre outras habilidades. Precisam
ter ainda grande capacidade de adaptação às novas
tecnologias, pois este é o setor da Engenharia que mais rapidamente
se altera.
Quanto maior o clock do computador,
mais precisos os chips, também são maiores os problemas
eletromagnéticos que surgem afetando o desempenho das máquinas,
daí a importância crescente das aulas de Física/Eletromagnetismo.
O engenheiro de computação também precisa ter forte
formação em Matemática, para desenvolver e corrigir
os programas. E até para redigir os relatórios aos clientes
e compreender rapidamente as explicações existentes nos manuais
dos sistemas que precisará consultar, o profissional precisa ter
um perfeito domínio, se não de outros idiomas, pelo menos
do... Português! |