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*Publicado originalmente pelo editor de Novo Milênio no caderno Informática do jornal A Tribuna de Santos, em 20/4/1999.
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 01/07/00 14:12:08
TRABALHO
Profissional da computação precisa ter domínio pleno até de nosso idioma

Especialista do ITA falou na Unimes sobre as carreiras ligadas à informática

Nem toda máquina com um circuito eletrônico que execute um algoritmo é um computador. Ele pode ser definido como uma máquina cujo chip executa qualquer algoritmo apresentado pelo programador, permitindo assim ampla interação com o usuário. Por exemplos como esse, pode-se verificar como a palavra Computação tem um significado bastante vago e indefinido, segundo o professor Duarte Lopes de Oliveira. Titular do Departamento de Eletrônica do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), ele esteve em 13/4/1999 no auditório da Universidade Metropolitana de Santos (Unimes) para falar sobre "O profissional da computação e os seus desafios".

Recepcionado pelo diretor da área de Computação da Unimes, Mário Sérgio Ribeiro, e outros professores, Duarte iniciou a palestra lembrando a diferença entre computadores de uso geral (como os PCs de mesa padrão) e os equipamentos de uso dedicado (como os vários computadores existentes a bordo de um avião, com um conjunto de algoritmos para analisar as condições de vôo, trajetória, temperaturas etc.). Explicou então que a área de Engenharia de Computação é voltada principalmente aos sistemas computacionais dedicados, projetados especificamente para uma finalidade.

Origens – Nos anos 60, um programa com 10 mil linhas de código era considerado para uso em máquinas de grande porte, com incríveis 200 KB de memória randômica (RAM) e do tamanho de uma sala. Devido ao alto custo dos equipamentos, o programa era considerado de importância mínima. Hoje, um computador comum de mesa, de baixo custo, processa programas com um milhão de linhas de código. Daí, o crescimento da importância da programação, hoje bem mais onerosa.

Enquanto um programa comercial vem com uma cláusula contratual em que os criadores não se responsabilizam por bugs (erros na programação) e suas conseqüências para o usuário, os programas desenvolvidos para finalidades específicas - especialmente os que envolvem risco a vidas humanas, como os usados em aeronaves - têm outro tratamento: passam por uma ampla e onerosa bateria de testes, que pode ser mais demorada que o próprio tempo de desenvolvimento do programa. Caso haja uma falha durante o uso, os testes serão refeitos, para se verificar se houve negligência nesse exame, e aperfeiçoados, para evitar a futura liberação de programas com aquela falha.

Em 1967, um satélite norte-americano não tripulado mudou de trajetória devido a um erro de programa (uma vírgula indevida numa variável de programação Fortran), que não fora detectado nos  testes prévios (não havia a necessidade de declarar as variáveis do programa). Então, o governo estadunidense começou a se conscientizar da necessidade de se dar tratamento de ciência exata à nascente Engenharia de Software. Até hoje, não conseguiu, este é o desafio para os próximos anos, segundo o palestrante. 

Disciplina – Programar exige muita disciplina: a documentação do programa, indicando que parte do programa faz o quê, é muito importante, tanto quanto se obter uma versão estável, sem falhas. O grande programador é o que faz um programa e os colegas entendem o que foi feito. Se apenas o autor entende o funcionamento do programa, então ele é mau programador. A criação de um bom programa não exige apenas conhecimento, mas também que o autor seja talentoso, com boas idéias.

Explicou o professor Duarte que não basta conhecer a fundo uma linguagem de programação, pois um programa de computador, de per si, não faz nada, ele precisa ser aplicado em alguma atividade. Por isso, o programador precisa entender a computação como uma ferramenta que é para a realização de alguma coisa, e ter experiência nas áreas comercial, científica ou de suporte, nas quais vai aplicar seu conhecimento de computação.

Quando ele começou a trabalhar em computação, bastava possuir o curso Colegial (atual 2º Grau). Nos anos 70, começaram a surgir as escolas de Tecnologia em Processamento de Dados, e nos anos 80 as especializações, como analista de sistemas, engenharia de sistemas etc. 

A Engenharia de Computação veio suprir uma lacuna entre a Engenharia Eletrônica e a Ciência da Computação, pois um projeto normalmente envolve equipamentos e programas e é preciso ter na equipe desenvolvedora alguém que (além de características inatas como capacidade de liderança e gosto pela atividade) una os conhecimentos  de sistemas operacionais em termos de distribuição otimizada entre equipamentos e programas (certas rotinas podem ser melhor desempenhadas por um chip dedicado que por um programa), possa desenvolver projetos que envolvam tempo real e sistemas distribuídos (algo diferente de redes comuns de computadores, pois num sistema distribuído os vários computadores se comunicam entre si, trocando informações e cada um executando uma parte do trabalho).

Mercado – Em baixa nos anos 70 com os microchips e nos anos 80 com a globalização, a Engenharia de Computação vem ganhando novo espaço nesta década, mas para isso exige uma nova categoria de profissionais: os prestadores de serviço autônomos, com empresas próprias, que fornecem consultoria, possuem conhecimentos de Direito (por causa dos contratos que precisam assinar com os clientes), de Contabilidade (para administrarem suas empresas) e de Mercadologia (para apresentarem suas atividades e conquistarem os clientes), entre outras habilidades. Precisam ter ainda grande capacidade de adaptação às novas tecnologias, pois este é o setor da Engenharia que mais rapidamente se altera.

Quanto maior o clock do computador, mais precisos os chips, também são maiores os problemas eletromagnéticos que surgem afetando o desempenho das máquinas, daí a importância crescente das aulas de Física/Eletromagnetismo. O engenheiro de computação também precisa ter forte formação em Matemática, para desenvolver e corrigir os programas. E até para redigir os relatórios aos clientes e compreender rapidamente as explicações existentes nos manuais dos sistemas que precisará consultar, o profissional precisa ter um perfeito domínio, se não de outros idiomas, pelo menos do... Português!