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Publicado originalmente pelo editor de Novo Milênio no caderno Informática do jornal A Tribuna de Santos, em 20/4/1999
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 01/07/00 14:11:50
HISTÓRIA
Internet descobre o Brasil 

Novos sites destacam a festa pelos 500 anos do Descobrimento

À semelhança do que aconteceu em 1992, quando foi bastante controvertida a comemoração pela passagem dos 500 anos da descoberta da América por Colombo, incluindo protestos devido às conseqüências da chegada dos europeus ao Novo Mundo, também o quinto século após a chegada de Cabral ao Brasil já é registrado na Internet, com opções tanto para quem pretende festejar a data, como para quem acha que ela deveria ser esquecida.

Vários endereços novos estão aparecendo na Web, com material relativo ao Descobrimento do Brasil, que amanhã (21/4/1999) completa 499 anos (não considerada a diferença entre os calendários Juliano e Gregoriano, pois o certo seria comemorar em 1º de maio, como foi explicado por Informática na edição de 21/4/1998 -, nem as teorias que defendem a descoberta por outros navegadores).

Além dos sites mais antigos, já citados por Informática nos anos anteriores, merece destaque o da revista eletrônica brasileira "Cabral, o Viajante do Rei", que está em sua sexta edição (mas inclui as anteriores). A publicação é dividida em temas, como Portugal - País Descobridor de Mundos; Belmonte - Cidade Natal; O Homem - Pedro Álvares Cabral; A Viagem do Descobrimento; Novo Mundo - A Colonização do Brasil; Santarém - Casa de Cabral; e um espaço especialmente dedicado ao público infantil, Era Uma Vez, que tem acesso direto.

O trabalho é parte do Projeto Memória, iniciativa conjunta da Fundação Banco do Brasil e da construtora Odebrecht, que objetiva homenagear personalidades e fatos marcantes do cenário brasileiro, como os 150 anos de nascimento do poeta Castro Alves, em 1997, e o 50º aniversário da morte do escritor Monteiro Lobato, em 1998. A publicação é bimestral, partindo de extensa pesquisa, que deverá resultar ainda num documentário em vídeo a ser exibido na televisão e distribuído para escolas e instituições, além de ser elaborado um livro de cunho histórico-artístico sobre os Descobrimentos e organizada uma exposição itinerante para a rede escolar pública.

Os responsáveis pelo site mantêm contato constante com o comitê responsável pela recuperação da Casa do Brasil/Casa de Cabral, na cidade portuguesa de Santarém; com a câmara municipal de Santarém e com estudiosos e instituições de Belmonte, terra natal de Pedro Álvares Cabral. 

Na Globo – Já o Projeto 500 Anos foi lançado em 1º/1/1998 pela Rede Globo de Televisão, e ainda apresenta uma página desatualizada que relaciona os diversos eventos programados no Brasil e em outros países. Entre eles, a partida de Lisboa, dia 23/12/1999, de um navio transportando a Tocha do Descobrimento, para chegar à praia de Copacabana durante as comemorações da passagem de ano, iniciando depois uma viagem pelo País até chegar a Porto Seguro no dia 22/4/2000, em meio a grande festa - para a qual já está sendo feita a contagem regressiva, num relógio criado pelo designer Hans Donner, naquela cidade e em outras onde está sendo instalado. Tóquio, Paris, Nova Iorque e Lisboa também terão eventos em 2000 destacando os 500 anos do Descobrimento do Brasil.

Em 1999, está sendo organizada a Copa 500 Anos, reunindo a Seleção Brasileira e equipes representantes das nações que colonizaram o Brasil ou de onde vieram grandes levas de imigrantes. E haverá um jogo no estádio do Maracanã, em abril de 2000, entre a Seleção do Brasil e uma equipe de jogadores de outros países.

Sem festa – Como contraponto às festas oficiais, e para aumentar seu nível de consciência em relação aos problemas brasileiros, vale conhecer ainda o protesto feito no início do ano passado por Omar F. Reis em sua revista eletrônica 3x4. Comemorar o quê, pergunta ele, se o primeiro ato dos colonizadores foi derrubar uma árvore, etapa inicial de uma devastação que já atinge 97% da Mata Atlântica? No primeiro centenário do descobrimento, 95% dos índios da região costeira do Brasil já haviam desaparecido, escravizados e usados como objetos sexuais da corte portuguesa, ou em conseqüência das guerras e doenças trazidas pelos europeus (sarampo, malária, febre amarela etc.).

O protesto continua, lembrando que os europeus destruíram a cultura indígena, inclusive as informações - hoje preciosas - sobre milhares de espécies vegetais e animais da floresta, de valor medicinal e alimentício - estas também saqueadas pelos colonizadores. Em troca, Cabral deixou aqui dois condenados à morte ("Um belo início de colonização!"). Séculos depois, foram exploradas as riquezas minerais do Brasil.
Por tudo isso, Omar comenta: "Talvez não seja o caso de comemorar esses 500 anos. Quem sabe, seja mais o caso de romper com a tradição eurocêntrica." E completa, dizendo que talvez se devesse comemorar no ano 2000 "o ano zero de uma nova era de convivência com a natureza e de respeito ao ser humano".