JOGOS
A Perceptum mostra a que veio
Alexandre Sobrino (*)
Colaborador
Já
fazia tempo que as empresas de software nacionais estavam nos devendo
um jogo do nível deste Incidente em Varginha. Confesso que, quando
recebi o convite para analisar este game, fiquei apreensivo: reconheço
que sou bastante exigente, motivado pela grande mesmice que atinge os jogos
de ação atualmente. Aliás, até hoje, poucos
foram os jogos de PC que realmente conseguiram prender minha atenção
até o final (até porque não tenho o hábito
de jogar com freqüência). Admito que este foi um deles.
O jogo - que roda direto no CD -
vem acondicionado em uma bonita caixa, com destaque para o logotipo impresso
em relevo, tendo ainda um manual de altíssima qualidade, totalmente
desenhado no estilo das história em quadrinhos. A idéia,
curiosa e inteligente, permite que o jogador se envolva com o enredo antes
mesmo de ligar o computador, conhecendo armas, teclas e inimigos. Ponto
para a Perceptum.
Colocado o CD, aqui vai minha primeira
dica: não pressione a tecla ESC tão logo um belo céu
azulado apareça - assista primeiramente à intro-demo do jogo,
onde a história é apresentada através de um belíssimo
trabalho de animação. O mais divertido é que as falas
dos personagens e legendas estão totalmente em português (até
que enfim: um trabalho de brasileiros para brasileiros !).
História do jogo –
09:35h. Tudo começa quando você presencia o pouso de uma nave
alienígena bem no quintal de sua casa e se torna uma testemunha
que ameaça os planos do Exército. Sinceramente, como jogador,
não tinha a menor idéia do que fazer: sem nenhuma arma nas
mãos, percebi ao longe a chegada de um comboio de jipes do Exército,
de onde montes de soldados saltavam e vinham em minha direção
atirando, enquanto os alienígenas - mais espertos do que eu… - batiam
em retirada (até descobrir o que fazer, penei um bocado). Logo nos
primeiros movimentos, já é possível perceber que a
equipe brasileira fez direitinho a lição de casa.
Na transição do primeiro
para o segundo estágio do jogo (o “Hospital”, para onde um dos alienígenas
capturados foi levado), fui capaz de identificar duas características
marcantes deste trabalho: primeiramente, as fases do jogo são radicalmente
diferentes umas das outras (cada estágio tem cenários e padrões
gráficos próprios, o que mantém o interesse do jogador
em avançar e fazer novas descobertas). Em segundo lugar, que o sucesso
neste game está justamente em pensar que você está
sendo caçado - e não caçando.
Aliás, percebe-se facilmente
que este jogo não é para adeptos do estilo “boi-louco” (jogos
onde não se costuma olhar para os lados, apenas correr e atirar).
Aqui, o que realmente importa é a sua estratégia, a sua capacidade
de avançar sem ser visto por muitos inimigos e de atingi-los à
distância, usando a arma certa no momento certo.
Dicas – Durante o “árduo”
trabalho de analisar este jogo (coisas da vida…), colecionei algumas dicas
que gostaria de compartilhar com os amigos que se propuserem a desvendar
os segredos deste Incidente em Varginha. São elas:
Na
fase “Escola de Armas”, uma boa idéia é andar abaixado o
máximo de tempo possível (lembre-se que tratam-se de soldados…)
e, quando tiver que sair de trás de alguma parede, andar de lado
(usando as teclas “<” e “>”). Assim, consegue-se pegar os soldados com
alguma surpresa, dificultando sua reação. Importante: andar
abaixado também permite que você elimine os chatíssimos
- e poderosos - soldados portando lança-mísseis com maior
facilidade;
Utilize
a opção de salvar o jogo sempre que avançar um pouco
mais. Esta pode parecer uma dica ingênua, mas o fato é que
muita gente se esquece disso e pode acabar tendo que percorrer novamente
toda a fase;
Em
fases como a do Hospital ou da Praça da Sé (a minha preferida),
é conveniente redobrar os seus cuidados ao lidar com os inimigos.
Com capacidades estratégicas, eles muitas vezes se posicionarão
de forma que você coloque em risco a vida de pessoas inocentes, o
que pode abortar a missão;
Caso
considere o jogo muito difícil, é possível regular
o nível de dificuldade (uma grande sacada dos autores). Para tanto,
pressione a tecla ESC durante o jogo e, na opção “dificuldade”,
escolha o nível desejado (desnecessário dizer que jogos muitos
fáceis perdem a graça, certo?);
O quanto mais cauteloso, melhor -
essa dica tem exatamente como alvo os jogadores que conseguirem chegar
à Stonedrome, a última - e dificílima - fase do jogo.
Nela, você vai realmente entender o porque de juntar armamentos ao
longo das fases… (os alienígenas são tão chatos quanto
indestrutíveis!). Aliás, é importante elogiar aqui
o surpreendente trabalho de animação desenvolvido pela equipe:
uma espécie de “nave giratória” serve de passagem para áreas
restritas da fase (um visual tão maravilhoso quanto aterrador).
Desafio – Não consigo
pensar em uma só palavra para definir este Incidente em Varginha:
talvez um misto de surpresa e desafio. O jogo é realmente furioso
(no ótimo sentido), há bastante estratégia envolvida
e os mecanismos de inteligência artificial criados pela Perceptum
parecem funcionar muito bem, já que grande parte dos inimigos consegue
esquivar-se e posicionar-se a partir de um ataque seu (aliás, confesso
que, por diversas vezes, cheguei a gastar boa parte da minha munição
com um único e irritante inimigo, que corria em ziguezague). Em
vez de ficar irritado com isso, só conseguia ficar ainda mais impressionado
com o ótimo trabalho de Marcos Cuzziol, responsável por esta
programação.
O enredo (de Marcos Cuzziol e Odair
Gaspar) é extremamente original, bem explorado e fiel à história
divulgada pela imprensa, mantendo o interesse do jogador até o espetacular
e totalmente inesperado final (não vou contar nenhum detalhe para
não estragar a surpresa). Aliás, a fidelidade aos enredo
e cenários é uma característica marcante deste trabalho:
dia desses, já analisando o jogo e assistindo à TV, pude
constatar que o hospital da cidade de Varginha foi fielmente retratado
pela equipe da Perceptum. As fases, completamente diferentes umas das outras,
também mantêm a curiosidade até o difícil desfecho.
Resta agora esperar que a Perceptum
se envolva de corpo e alma na divulgação do produto, como
o fez com o desenvolvimento do mesmo, que, sem dúvida, é
digno de nota - não só por ser um trabalho genuinamente nacional,
mas por apresentar aos jogadores brasileiros um produto final de qualidade
internacional. Um jogo para ser descoberto - eu garanto que você
gostar!
(*) Alexandre
Sobrino (sobrino@stcecilia.br) é bacharel em Ciências da Computação
e pós-graduado em Computação e Sistemas Digitais pela
Unisanta; é consultor de informática, web designer e professor
das faculdades de Ciências e Tecnologia e Artes e Comunicação
da Unisanta.
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