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*Publicado originalmente pelo editor de Novo Milênio no caderno Informática do jornal A Tribuna de Santos, em 30/3/1999.
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 01/07/00 09:17:03
JOGOS
A Perceptum mostra a que veio 

Alexandre Sobrino (*)
Colaborador

Já fazia tempo que as empresas de software nacionais estavam nos devendo um jogo do nível deste Incidente em Varginha. Confesso que, quando recebi o convite para analisar este game, fiquei apreensivo: reconheço que sou bastante exigente, motivado pela grande mesmice que atinge os jogos de ação atualmente. Aliás, até hoje, poucos foram os jogos de PC que realmente conseguiram prender minha atenção até o final (até porque não tenho o hábito de jogar com freqüência). Admito que este foi um deles.

O jogo - que roda direto no CD - vem acondicionado em uma bonita caixa, com destaque para o logotipo impresso em relevo, tendo ainda um manual de altíssima qualidade, totalmente desenhado no estilo das história em quadrinhos. A idéia, curiosa e inteligente, permite que o jogador se envolva com o enredo antes mesmo de ligar o computador, conhecendo armas, teclas e inimigos. Ponto para a Perceptum.

Colocado o CD, aqui vai minha primeira dica: não pressione a tecla ESC tão logo um belo céu azulado apareça - assista primeiramente à intro-demo do jogo, onde a história é apresentada através de um belíssimo trabalho de animação. O mais divertido é que as falas dos personagens e legendas estão totalmente em português (até que enfim: um trabalho de brasileiros para brasileiros !). 

História do jogo – 09:35h. Tudo começa quando você presencia o pouso de uma nave alienígena bem no quintal de sua casa e se torna uma testemunha que ameaça os planos do Exército. Sinceramente, como jogador, não tinha a menor idéia do que fazer: sem nenhuma arma nas mãos, percebi ao longe a chegada de um comboio de jipes do Exército, de onde montes de soldados saltavam e vinham em minha direção atirando, enquanto os alienígenas - mais espertos do que eu… - batiam em retirada (até descobrir o que fazer, penei um bocado). Logo nos primeiros movimentos, já é possível perceber que a equipe brasileira fez direitinho a lição de casa.

Na transição do primeiro para o segundo estágio do jogo (o “Hospital”, para onde um dos alienígenas capturados foi levado), fui capaz de identificar duas características marcantes deste trabalho: primeiramente, as fases do jogo são radicalmente diferentes umas das outras (cada estágio tem cenários e padrões gráficos próprios, o que mantém o interesse do jogador em avançar e fazer novas descobertas). Em segundo lugar, que o sucesso neste game está justamente em pensar que você está sendo caçado - e não caçando. 

Aliás, percebe-se facilmente que este jogo não é para adeptos do estilo “boi-louco” (jogos onde não se costuma olhar para os lados, apenas correr e atirar). Aqui, o que realmente importa é a sua estratégia, a sua capacidade de avançar sem ser visto por muitos inimigos e de atingi-los à distância, usando a arma certa no momento certo.

Dicas – Durante o “árduo” trabalho de analisar este jogo (coisas da vida…), colecionei algumas dicas que gostaria de compartilhar com os amigos que se propuserem a desvendar os segredos deste Incidente em Varginha. São elas:

Na fase “Escola de Armas”, uma boa idéia é andar abaixado o máximo de tempo possível (lembre-se que tratam-se de soldados…) e, quando tiver que sair de trás de alguma parede, andar de lado (usando as teclas “<” e “>”). Assim, consegue-se pegar os soldados com alguma surpresa, dificultando sua reação. Importante: andar abaixado também permite que você elimine os chatíssimos - e poderosos - soldados portando lança-mísseis com maior facilidade;

Utilize a opção de salvar o jogo sempre que avançar um pouco mais. Esta pode parecer uma dica ingênua, mas o fato é que muita gente se esquece disso e pode acabar tendo que percorrer novamente toda a fase;

Em fases como a do Hospital ou da Praça da Sé (a minha preferida), é conveniente redobrar os seus cuidados ao lidar com os inimigos. Com capacidades estratégicas, eles muitas vezes se posicionarão de forma que você coloque em risco a vida de pessoas inocentes, o que pode abortar a missão;

Caso considere o jogo muito difícil, é possível regular o nível de dificuldade (uma grande sacada dos autores). Para tanto, pressione a tecla ESC durante o jogo e, na opção “dificuldade”, escolha o nível desejado (desnecessário dizer que jogos muitos fáceis perdem a graça, certo?);

O quanto mais cauteloso, melhor - essa dica tem exatamente como alvo os jogadores que conseguirem chegar à Stonedrome, a última - e dificílima - fase do jogo. Nela, você vai realmente entender o porque de juntar armamentos ao longo das fases… (os alienígenas são tão chatos quanto indestrutíveis!). Aliás, é importante elogiar aqui o surpreendente trabalho de animação desenvolvido pela equipe: uma espécie de “nave giratória” serve de passagem para áreas restritas da fase (um visual tão maravilhoso quanto aterrador).

Desafio – Não consigo pensar em uma só palavra para definir este Incidente em Varginha: talvez um misto de surpresa e desafio. O jogo é realmente furioso (no ótimo sentido), há bastante estratégia envolvida e os mecanismos de inteligência artificial criados pela Perceptum parecem funcionar muito bem, já que grande parte dos inimigos consegue esquivar-se e posicionar-se a partir de um ataque seu (aliás, confesso que, por diversas vezes, cheguei a gastar boa parte da minha munição com um único e irritante inimigo, que corria em ziguezague). Em vez de ficar irritado com isso, só conseguia ficar ainda mais impressionado com o ótimo trabalho de Marcos Cuzziol, responsável por esta programação.

O enredo (de Marcos Cuzziol e Odair Gaspar) é extremamente original, bem explorado e fiel à história divulgada pela imprensa, mantendo o interesse do jogador até o espetacular e totalmente inesperado final (não vou contar nenhum detalhe para não estragar a surpresa). Aliás, a fidelidade aos enredo e cenários é uma característica marcante deste trabalho: dia desses, já analisando o jogo e assistindo à TV, pude constatar que o hospital da cidade de Varginha foi fielmente retratado pela equipe da Perceptum. As fases, completamente diferentes umas das outras, também mantêm a curiosidade até o difícil desfecho.

Resta agora esperar que a Perceptum se envolva de corpo e alma na divulgação do produto, como o fez com o desenvolvimento do mesmo, que, sem dúvida, é digno de nota - não só por ser um trabalho genuinamente nacional, mas por apresentar aos jogadores brasileiros um produto final de qualidade internacional. Um jogo para ser descoberto - eu garanto que você gostar!

(*) Alexandre Sobrino (sobrino@stcecilia.br) é bacharel em Ciências da Computação e pós-graduado em Computação e Sistemas Digitais pela Unisanta; é consultor de informática, web designer e professor das faculdades de Ciências e Tecnologia e Artes e Comunicação da Unisanta.

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