PROTESTO
Provedores e internautas debatem
o custo do acesso nacional à Internet
Ambos concordam que a Embratel
precisa mudar política de preços
Através
de correntes de e-mail, principalmente, está sendo difundido
em todo o Brasil um ato de repúdio às tarifas nacionais para
acesso à Internet, caracterizado por uma greve no uso do sistema
durante o dia de amanhã (13/1//1999).
A própria Associação
Brasileira dos Provedores de Acesso, Serviços e Informações
da Rede Internet (Abranet)
está divulgando em seu site um comunicado em que afirma aceitar
"tal movimento como um momento de reflexão, extremamente útil,
válido e necessário" (grifos originais), embora peque em
dois pontos fundamentais, a data num meio de semana, quando muitas empresas
não podem aderir, e a informação errônea de
que nos Estados Unidos o preço para acesso ilimitado seja US$ 10
(na verdade, segundo explica, a tarifa fica em cerca de US$ 21). A entidade
dos provedores concorda, entretanto, em que a Embratel precisa rever suas
tarifas.
Sua principal crítica é
que em quatro anos a Embratel reduziu seus preços apenas uma vez,
não repassando aos provedores, por exemplo, a redução
nas tarifas havida em abril de 1997. Assim, desde setembro de 1995 a redução
nos valores praticados pela empresa oscilou entre 16% e 30%, mantendo-se
inalterados desde novembro de 1997.
Além disso, o provedor que
pretender aumentar seu link com a Embratel de 2 para 4 MBPS tem
seus custos elevados de forma linear (2 x R$ 22.680,00), não conseguindo
obter descontos por volume. "Os preços praticados pela Embratel
refletem não apenas a conexão, mas também os serviços
IP, que todos sabemos, são exageradamente altos no Brasil", critica
a Abranet, lembrando também que como os outros backbones nacionais
são dependentes da Embratel, em função da estrutura
monopolista anterior, as outras opções de fornecimento são
mais caras do que a Embratel.
Outro fator que eleva as tarifas
dos provedores nacionais, segundo a associação, é
o custo dos equipamentos (roteadores, servidores, modems), geralmente importados
dos Estados Unidos, com preços gravados em 100% devido à
política de importação vigente no Brasil.
Inércia – Segundo a
Abranet, 1998 teve duas situações atípicas, devido
à privatização dos serviços de comunicações:
de janeiro a junho, "nada se resolvia porque iria acontecer a privatização",
e no segundo semestre "continuou nada se resolvendo porque se estavam estruturando
e conhecendo as companhias adquiridas... E o mercado que espere..."
Em São Paulo, a Telefônica
herdou um déficit de atendimento a provedores de mais de 50 mil
linhas telefônicas, denuncia a Abranet, comentando: "A menos que
possamos estar redondamente enganados, além de alguma desorganização,
quem sabe estejam tentando ganhar tempo para se estabelecer como provedores
de acesso através de sua coligada T Interactiva, tal como já
acontece em outros locais".
O comunicado prossegue: "Esperamos
que a Telefônica não se olvide de que tem responsabilidades
e obrigações a cumprir, como a de atender a demanda reprimida
antes de se lançar como provedora e ainda de que atos discriminatórios
poderão custar muito caro às empresas privatizadas."
Sem oferta de linhas, equipamentos
e tarifas adequadas de links, a Abranet não vê como
o mercado possa caminhar rapidamente para o acesso ilimitado, pois "em
muitos casos, a prática de tais estratégias resulta numa
significativa redução de qualidade na prestação
de serviços de acesso (linhas ocupadas constantemente)".
Concluindo, a entidade, "consciente
de que provedores e usuários precisam de rápidas definições,
se coloca a par dos usuários nas reivindicações para
a redução de preços dos insumos e a liberação
de linhas telefônicas, de forma a permitir aos provedores repassar
tais vantagens aos usuários e assistir ao crescimento da Internet
como ferramenta de negócios, lazer e essencialmente de cultura."
Posições – No
extenso comunicado, a Abranet lembra as posições que vem
defendendo: "Os provedores querem competição, mas que seja
plena e transparente e não uma competição predatória."
Nesse sentido, tem enfrentado os governos estaduais, via Conselho Fazendário
Nacional (Confaz), quando eles pretendem transformar provedores em empresas
prestadoras de serviços de telecomunicações (em vez
do disposto na Lei Geral de Telecomunicações, pela qual eles
são classificados como provedores de serviços de valor adicionado),
como forma de aumentar de 5% para 25% a aliquota de cobrança do
ICMS.
No documento, assinado pelos dirigentes
António A.V.Tavares, Álvaro Marques e Demi Getschko, a Abranet
lembra ainda ter contestado as tentativas de criação de privilégios
para os detentores das redes físicas de televisão a cabo
e para as empresas telefônicas, entendendo que o sistema deve ser
"transparente o bastante para que privilégios não provoquem
a criação de cartéis que a todos deixariam como reféns.
Que essas empresas criem suas subsidiárias equivalentes aos provedores
de acesso e que os preços praticados sejam semelhantes àqueles
com que suprem os provedores. E que nada disso possa acontecer antes que
a demanda reprimida possa ser atendida." |