Dentro das comemorações do quinto centenário dos Descobrimentos, e acendendo a polêmica sobre a data oficial da fundação de São Vicente, já está disponível para consultas pelos internautas, a partir deste mês, um site dedicado à história da primeira cidade brasileira, desde o tempo em que Martim Afonso de Souza aportou na região. Documentos históricos, mapas antigos, telas de Benedito Calixto e um trabalho de pesquisa histórica (ainda em andamento, razão de algumas das páginas não estarem disponíveis) são a base do site Primeira Cidade.

"Mostrar a história de São Vicente para o Brasil e o mundo, resgatando a importância dessa cidade, que é a primeira do país, nas comemorações dos 500 anos do Descobrimento", é o objetivo do site que está sendo desenvolvido pelos jornalistas Sérgio Moita e Sandra Perruci.

Com material de pesquisa e ilustrações fornecidas pelo Instituto Histórico e Geográfico de São Vicente e pelo pesquisador Jaime Mesquita Caldas, o site aborda desde a chegada de Martim Afonso, em 1532, até detalhes da colonização, como o pioneirismo do município em várias atividades. São Vicente foi a primeira cidade administrativamente organizada do Brasil e, por isso, é considerada por lei federal Cidade Monumento da História Pátria e Cellula Mater da Nacionalidade.

O site pode ser percorrido em uma linha do tempo, que começa antes do desembarque de Martim Afonso e pretende chegar até aos dias atuais, mostrando a São Vicente turística. Segundo os jornalistas, esse recurso permite que o site esteja em permanente evolução, com novas matérias históricas e curiosidades a cada semana.

Foi antes – Um dos temas polêmicos é a existência do bacharel Cosme Fernandes, que alguns historiadores consideram o verdadeiro fundador da vila de São Vicente, já que ele teria habitado o local bem antes da chegada de Martim Afonso. Outro ponto polêmico é sobre o local do desembarque do fidalgo português.

Lembram os pesquisadores que os registros históricos indicam 22 de janeiro de 1532 como a data da fundação oficial de São Vicente, esquecendo o fato de que nessa data Martim Afonso encontrou no local uma povoação com cerca de 30 anos de existência, já conhecida com aquele nome, o que está documentado no diário de Pero Lopes de Souza, irmão de Martim Afonso (o site reproduz fotocópia do início desse diário de bordo, embora fosse interessante mostrar o trecho específico em que é feita a referência ao povoado brasileiro). O documento situa portanto a fundação de São Vicente imediatamente após os descobrimentos, prestes portanto a comemorar 498 anos de existência: 

"O nome São Vicente foi dado em 1502, quando uma flotilha de três navios foi mandada pelo rei D. Manuel para explorar a costa brasileira. Esta primeira expedição, comandada pelo capitão Gaspar de Lemos, teve a participação do navegador florentino Américo Vespúcio, encarregado de anotar os acidentes geográficos. Os navios chegaram a Porto Seguro em julho de 1501 e, a partir daí, foram descendo e dando nome a rios, baías e ilhas. No dia 22 de janeiro de 1502, a expedição chegou a uma ilha que era conhecida como Guayó, à qual foi dado o nome do santo do dia: São Vicente."

"Outro registro que comprova a existência do povoado é o que escreveu Alonso de Santa Cruz, cosmógrafo de Sebastião Caboto, que esteve ancorado defronte da Ilha de São Vicente em 1530, dois anos antes da chegada de Martim Afonso, quando voltava de viagem ao Rio da Prata. "Dentro do Porto de São Vicente há duas ilhas grandes, habitadas por índios e, na mais oriental, na parte ocidental, estivemos mais de mez. Na ilha ocidental têm os portugueses um povoado chamado ‘S.Vicente’, de dez ou doze casas, uma feita de pedra com seus telhados, e uma torre, para defesa contra os índios em tempo de necessidade. Estão providos de coisas da terra, de galinhas de Espanha e de porcos, com muita abundância de hortaliça. (...)", cita a página.

Também o Atlas de Kurstman de 1503 tem duas referências a São Vicente, e em 1527 Diogo Garcia também passou pela região, encontrando um povoado fundado "mucho tiempo há que ha bien 30 años", onde reabasteceu suas naus, completam os pesquisadores.