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Publicado originalmente pelo editor de Novo Milênio no caderno Informática do jornal A Tribuna de Santos, em 24/11/1998.
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 01/10/00 10:43:13
INFO-CRIME
Cuidado com a pirataria... de hardware! 

Processadores e memória cache são os principais alvos

Paulo Eduardo Motta (*)
Colaborador

Não é de hoje que a pirataria de software corre solta e atualmente basta abrir um jornal ou revista especializada para encontrar diversos anúncios dos "piratas estabelecidos" que vendem qualquer tipo de software a preços até 50 vezes inferiores ao preço do produto vendido de forma legal.

Porém, de um tempo para cá, está havendo uma onda de falsificações de componentes eletrônicos essenciais de um computador, principalmente o microprocessador e a memória cache, ou seja, falsificação de hardware! O pior de tudo é que não é tão fácil de se identificar componentes falsificados, mesmo para usuários com alguma experiência. O resultado é que muitas vezes o usuário pensa estar comprando uma Ferrari e na realidade está levando um Corsa.

Existem 3 maneiras principais de falsificação de componentes, duas em relação aos processadores e outra que diz respeito à memoria cache. Veja a seguir os artifícios utilizados pelos falsificadores em cada caso. 

Processadores – Quanto à falsificação de processadores, o que ocorre na verdade é a sua remarcação, por exemplo um Pentium 200 ser remarcado para Pentium 233 ou 266, ou seja, é alterada sua freqüência de operação. Essa gambiarra é geralmente feita facilmente através de jumpers (pequenos conectores que funcionam como chaves liga/desliga, habilitando ou não alguma função de um periférico ou placa) na placa-mãe do computador, uma vez que é dessa maneira que se configura a freqüência em que o processador trabalha, ou seja, o seu clock.

Esse procedimento é conhecido como overclock, pois o processador está trabalhando acima de seu clock normal, o qual não está preparado para tal. Dessa maneira, o micro poderá apresentar problemas de desempenho abaixo do esperado, congelamentos, erros aleatórios, travamentos etc. É claro que as marcações estampadas no corpo do processador são alteradas, de acordo com o 'novo' processador.

Para se ter idéia da extensão do problema, a Intel, fabricante dos processadores Pentium, a partir de meados de 1996 passou a marcar seus processadores Pentium com "i75" e "i133", para o Pentium 75 e 133, respectivamente. Portanto, um processador Pentium 200 com a marcação "i133", por exemplo, é com certeza falso. Outro indício de falsificação são etiquetas coladas no processador, pois em geral têm o intuito de esconder as marcações e a Intel não cola qualquer tipo de adesivo em seus produtos.

Mais recentemente, o problema vem acontecendo com os Pentium II de 233 e 266 MHz, que recebem overclock. Porém, nesse caso, o problema é um pouco diferente, pois o overclock não pode ser feito direto na placa-mãe, tal configuração é feita dentro do cartucho do processador. Dessa forma, é necessária a abertura do cartucho, o que geralmente deixa marcas e pode indicar a falsificação. 

Outra maneira que pode ajudar na detecção de falsificação é a presença do código de correção de erros ECC no cache L2, que em todo Pentium 300 e posteriores tem que existir. Para saber se o ECC está presente no cache L2 e devidamente habilitado, existe um programinha, o CPT2INFO.EXE, que lê o registrador do processador e que indica sua presença, ou seja, qualquer Pentium II 300 sem ECC é falsificado ou remarcado.

Cache – O cache de memória é responsável direto pelo grande aumento de desempenho dos microcomputadores. Portanto, um micro sem cache acaba tendo sérios problemas de desempénho, ou seja, fica lento (daí o fraco desempenho do processador Celeron, da Intel, o qual não tem memória cache).

O fato é que existem algumas placas-mãe que, no lugar dos circuitos de cache de memória (cache externa, L2), têm apenas peças plásticas ocas, que não exercem, obviamente, função alguma. Esses circuitos falsos, em geral, apresentam a inscrição "Write Back" estampada ou em baixo relevo, o que dificulta a identificação. O grande problema, além do baixo desempenho, é que o comprador foi enganado, pagando mais do que deveria, ou seja, comprou "gato por lebre", como se diz por aí.

Às vezes é possível trocar os módulos de memória cache falsos, caso estes sejam encaixados em soquete, caso contrário, se eles forem soldados na placa-mãe e esta não tiver um soquete COAST próprio para expansão desse tipo de memória, no qual pode ser instalado um nódulo do mesmo tipo com cache verdadeira, o único jeito seria trocar a placa-mãe por uma de origem conhecida e de boa qualidade. Vale notar que para os Pentium II esse problema não existe, pois o cache L2 é integrado ao cartucho do processador.

Infelizmente, isso tem ocorrido com grande freqüência, pegando muita gente desprevenida, uns achando que "isso só acontece com os outros" e outros nem desconfiando que tal problema possa existir. O fato é que existe e está aí. Portanto, devemos cada vez mais nos certificar da qualidade do produto comprado, exigir nota fiscal e deixar de acreditar em papo de vendedor, que na maioria das vezes quer vender a qualquer custo". Afinal, por quê você acha que tem aparecido preços milagrosos de computadores por aí? Apesar dos preços de computadores e componentes caírem constantemente, uma coisa é certa, há limites e ninguém faz milagre; então, desconfie daquele anúncio de um computador de ponta completo por um precinho pequenininho. Portanto, tome cuidado com a pirataria de hardware.

(*) Paulo Eduardo Motta é engenheiro, com pós-graduação em Computação e Sistemas Digitais, consultor de sistemas e professor do Senac.

N.E.: Algumas revendas e/ou marcas ameaçam com a perda de garantia se o gabinete do computador for aberto pelo usuário, às vezes com a legítima preocupação de que ele faça alterações indevidas ou danifique componentes, mas em muitos casos como forma de esconder adulterações. O comprador do equipamento tem o direito de solicitar da loja a abertura do gabinete para a verificação dos componentes instalados, sem qualquer ônus ou prejuízo no prazo de garantia. Se a revenda se recusar a fazê-lo, é preferível o usuário desistir da compra.