INFO-CRIME
Cuidado com a pirataria... de hardware!
Processadores e memória
cache são os principais alvos
Paulo Eduardo Motta (*)
Colaborador
Não
é de hoje que a pirataria de software corre solta e atualmente
basta abrir um jornal ou revista especializada para encontrar diversos
anúncios dos "piratas estabelecidos" que vendem qualquer tipo de
software a preços até 50 vezes inferiores ao preço
do produto vendido de forma legal.
Porém, de um tempo para cá,
está havendo uma onda de falsificações de componentes
eletrônicos essenciais de um computador, principalmente o microprocessador
e a memória cache, ou seja, falsificação de hardware!
O pior de tudo é que não é tão fácil
de se identificar componentes falsificados, mesmo para usuários
com alguma experiência. O resultado é que muitas vezes o usuário
pensa estar comprando uma Ferrari e na realidade está levando um
Corsa.
Existem 3 maneiras principais de
falsificação de componentes, duas em relação
aos processadores e outra que diz respeito à memoria cache. Veja
a seguir os artifícios utilizados pelos falsificadores em cada caso.
Processadores – Quanto à
falsificação de processadores, o que ocorre na verdade é
a sua remarcação, por exemplo um Pentium 200 ser remarcado
para Pentium 233 ou 266, ou seja, é alterada sua freqüência
de operação. Essa gambiarra é geralmente feita
facilmente através de jumpers (pequenos conectores que funcionam
como chaves liga/desliga, habilitando ou não alguma função
de um periférico ou placa) na placa-mãe do computador, uma
vez que é dessa maneira que se configura a freqüência
em que o processador trabalha, ou seja, o seu clock.
Esse procedimento é conhecido
como overclock, pois o processador está trabalhando acima
de seu clock normal, o qual não está preparado para tal.
Dessa maneira, o micro poderá apresentar problemas de desempenho
abaixo do esperado, congelamentos, erros aleatórios, travamentos
etc. É claro que as marcações estampadas no corpo
do processador são alteradas, de acordo com o 'novo' processador.
Para se ter idéia da extensão
do problema, a Intel, fabricante dos processadores Pentium, a partir de
meados de 1996 passou a marcar seus processadores Pentium com "i75" e "i133",
para o Pentium 75 e 133, respectivamente. Portanto, um processador Pentium
200 com a marcação "i133", por exemplo, é com certeza
falso. Outro indício de falsificação são etiquetas
coladas no processador, pois em geral têm o intuito de esconder as
marcações e a Intel não cola qualquer tipo de adesivo
em seus produtos.
Mais recentemente, o problema vem
acontecendo com os Pentium II de 233 e 266 MHz, que recebem overclock.
Porém, nesse caso, o problema é um pouco diferente, pois
o overclock não pode ser feito direto na placa-mãe,
tal configuração é feita dentro do cartucho do processador.
Dessa forma, é necessária a abertura do cartucho, o que geralmente
deixa marcas e pode indicar a falsificação.
Outra maneira que pode ajudar na
detecção de falsificação é a presença
do código de correção de erros ECC no cache L2, que
em todo Pentium 300 e posteriores tem que existir. Para saber se o ECC
está presente no cache L2 e devidamente habilitado, existe um programinha,
o CPT2INFO.EXE, que lê o registrador do processador e que indica
sua presença, ou seja, qualquer Pentium II 300 sem ECC é
falsificado ou remarcado.
Cache – O cache de memória
é responsável direto pelo grande aumento de desempenho dos
microcomputadores. Portanto, um micro sem cache acaba tendo sérios
problemas de desempénho, ou seja, fica lento (daí o fraco
desempenho do processador Celeron, da Intel, o qual não tem memória
cache).
O fato é que existem algumas
placas-mãe que, no lugar dos circuitos de cache de memória
(cache externa, L2), têm apenas peças plásticas ocas,
que não exercem, obviamente, função alguma. Esses
circuitos falsos, em geral, apresentam a inscrição "Write
Back" estampada ou em baixo relevo, o que dificulta a identificação.
O grande problema, além do baixo desempenho, é que o comprador
foi enganado, pagando mais do que deveria, ou seja, comprou "gato por lebre",
como se diz por aí.
Às vezes é possível
trocar os módulos de memória cache falsos, caso estes sejam
encaixados em soquete, caso contrário, se eles forem soldados na
placa-mãe e esta não tiver um soquete COAST próprio
para expansão desse tipo de memória, no qual pode ser instalado
um nódulo do mesmo tipo com cache verdadeira, o único jeito
seria trocar a placa-mãe por uma de origem conhecida e de boa qualidade.
Vale notar que para os Pentium II esse problema não existe, pois
o cache L2 é integrado ao cartucho do processador.
Infelizmente, isso tem ocorrido com
grande freqüência, pegando muita gente desprevenida, uns achando
que "isso só acontece com os outros" e outros nem desconfiando que
tal problema possa existir. O fato é que existe e está aí.
Portanto, devemos cada vez mais nos certificar da qualidade do produto
comprado, exigir nota fiscal e deixar de acreditar em papo de vendedor,
que na maioria das vezes quer vender a qualquer custo". Afinal, por quê
você acha que tem aparecido preços milagrosos de computadores
por aí? Apesar dos preços de computadores e componentes caírem
constantemente, uma coisa é certa, há limites e ninguém
faz milagre; então, desconfie daquele anúncio de um computador
de ponta completo por um precinho pequenininho. Portanto, tome cuidado
com a pirataria de hardware.
(*) Paulo
Eduardo Motta é engenheiro, com pós-graduação
em Computação e Sistemas Digitais, consultor de sistemas
e professor do Senac.
N.E.: Algumas
revendas e/ou marcas ameaçam com a perda de garantia se o gabinete
do computador for aberto pelo usuário, às vezes com a legítima
preocupação de que ele faça alterações
indevidas ou danifique componentes, mas em muitos casos como forma de esconder
adulterações. O comprador do equipamento tem o direito de
solicitar da loja a abertura do gabinete para a verificação
dos componentes instalados, sem qualquer ônus ou prejuízo
no prazo de garantia. Se a revenda se recusar a fazê-lo, é
preferível o usuário desistir da compra. |