PC x CPD
Uma guerrilha do passado
A questão crucial é
como harmonizar as diferenças e obter produtividade
Arlindo Silva (*)
Colaborador
Alguém
ainda se lembra do Muro de Berlim? E quem pode dar notícia sobre
aquela velha rivalidade entre os homens do Centro de Processamento de Dados
(CPD) e o pessoal da microinformática? Pois é: ao que tudo
indica, podemos parafrasear o poeta: o Muro caiu, a rixa acabou, o processamento
distribuído explodiu e a indústria de mainframe nunca
foi tão forte...
Agora, já não há
o menor sentido em se discutir se o melhor é a centralização
ou a proliferação de CPUs e unidades magnéticas na
periferia da rede. A questão crucial hoje é saber como harmonizar
as diferenças e obter produtividade a qualquer custo; ou melhor,
a custos competitivos.
E, assim, tanto os puristas do mainframe
quanto os mais eufóricos defensores do downsizing se deram
conta de uma realidade até então inusitada para muitos: a
de que a heterogeneidade deste mundo é inexorável e de que
é necessário aceitar a realidade deste mundo, mesmo que seja
para subvertê-la à custa de revoluções tecnológicas.
Paradoxo – O que se constata,
em última análise, é um aparente - porém implacável
- paradoxo: o formidável boom de processamento distribuído
destes últimos 20 anos serviu não apenas para provar as qualidades
desta distribuição, mas também para referendar a necessidade
cada vez mais premente de consoles para gerenciamento centralizado e grandes
reservatórios de dados, com requisitos de alta capacidade e alta
segurança.
Portanto, fica patente a necessidade
de uma abordagem em que o mainframe compareça com suas características
de poderosa fortaleza e grande usina de bits, enquanto os milhões
de computadores pessoais da rede global cumpram o importante papel de capilarizar
os produtos desta usinagem.
Sim, pois de que adiantaria o mais
portentoso reservatório de água fresca sem um sistema capaz
de dar acesso a este reservatório para os muitos milhões
de bocas sedentas? E como resguardar esta água contra vazamentos
indesejáveis ou contra a contaminação por estas tantas
bocas?
É esta, sem dúvida
nenhuma, a situação de perplexidade das grandes corporações
usuárias de mainframe em face da explosão da Internet. Se,
de um lado, possuem um enorme potencial de produtos/informação
baseados em seus computadores de grande porte e enxergam na Rede Global
uma miríade de oportunidades até recentemente inusitadas,
por outro, alimentam fortes dúvidas e até justificados receios
em relação a implementações Web-top.
Solução – Mas
uma correta abordagem da questão do acesso ao servidor, ao meu ver,
pode resolver em grande medida este impasse. Por exemplo, com a mais moderna
tecnologia de Web-publishing, as empresas públicas ancoradas
em grandes mainframes podem hoje implementar o sonho do computador-cidadão.
Ou seja, os aplicativos e dados do mainframe que possam se constituir
em serviços para o público são criteriosamente liberados
para acesso via web-browsers. Mas as áreas de segurança,
os cofres de dados do Tesouro, para darmos um exemplo óbvio, permanecem
com acesso restrito.
E mais: com a utilização
de subservidores (sejam NT, Unix ou Netware) num plano intermediário
entre o mainframe e o desktop-web, o administrador de TI
acaba com os riscos de contaminação (leia-se pirataria, sabotagem
etc.) e proporciona uma visitação pública efetivamente
virtual, embora com toda a sensação de realismo de que o
internauta típico não abre mão.
Através de uma cuidadosa política
de implementação e gerência de acesso ao mainframe
para estações Netscape e Internet Explorer, as telefônicas
brasileiras estão revolucionando o sistema de catalogação
de assinantes. Veja-se, por exemplo, a lista classificada e as fantásticas
listas telefônicas por hipertexto dos sites Telesp
ou Telerj.
Nestes casos, é possível,
em segundos, localizar o número de telefone de um entre milhões
e milhões de assinantes residentes em qualquer um dos milhares de
municípios destes estados.
Da mesma forma, as grandes empresas
podem realizar seu próprio sonho comercial - o de levar seus produtos
a pregão em praça pública - e o sonho dos seus clientes,
que é o de revirar os estoques e tabelas de preços do comerciante
diretamente a partir de suas janelas eletrônicas. Um passeio interessante
é o que leva ao site Banestado.
Com o mouse
– Até correntistas do Interior do Paraná, que antes precisavam
ir de caminhonete até a agência mais próxima, agora
podem movimentar suas contas e aplicações ou adquirir produtos
financeiros só com o manejo do mouse. E, de acordo com o
Banestado, o número de acessos em um ano foi seis vezes superior
ao esperado e até maior que o de algumas agências de médio
porte.
Mas nem só para as grandes
massas é que se constrói os grandes reservatórios.
Aliás, tradicionalmente, os mainframes, enquanto fortalezas
de dados, se caracterizam justamente pelas intransponíveis muralhas.
Assim, a indústria internacional também vem se ocupando de
abordagens para o acesso profissional e restrito (antes tipicamente afeito
aos terminais não-gráficos) em pleno ambiente de promiscuidade
da Internet pública.
Para estes é que se desenvolve
a nova tecnologia de emuladores de terminais baseados em plataforma PC
em que o browser acessa o mainframe em formato nativo e com
capacidade de implementação de redes privadas dentro da WWW.
Para concluir, diríamos que
a solução do paradoxo mencionado no início deste artigo
irá acontecer com um movimento ainda mais radical de aproximação
entre o mainframe e a Net. Agora, o que as corporações
estão encarando seriamente é não apenas a convivência
dos dois mundos, mas um rightsizing até pouco tempo atrás
impossível de ser cogitado.
É que a Internet do próximo
século (N.E.: século XXI) será,
em grande medida, baseada em superservidores (mainframes) sempre
que eles estiverem disponíveis. E a gigantesca implementação
do web-top mundial irá colocar por terra - finalmente - os
últimos resquícios de dualidade que ainda resistiam após
a queda das catedrais de dados (os antigos CPDs com sua aversão
ao mundo externo) e ao desmantelamento cabal dos aparatos de rebeldia da
juventude PC. Definitivamente, portanto, o conflito de gerações
- cabeludos versus engravatados - é página virada da história.
(*) Arlindo
Silva é diretor da Attachmate Brasil. |