Clique aqui para voltar à página inicial  http://www.novomilenio.inf.br/ano98/9811bcpd.htm
*Publicado originalmente pelo editor de Novo Milênio no caderno Informática do jornal A Tribuna de Santos, em 10/11/1998.
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 01/10/00 10:42:02
PC x CPD
Uma guerrilha do passado 

A questão crucial é como harmonizar as diferenças e obter produtividade

Arlindo Silva (*)
Colaborador

Alguém ainda se lembra do Muro de Berlim? E quem pode dar notícia sobre aquela velha rivalidade entre os homens do Centro de Processamento de Dados (CPD) e o pessoal da microinformática? Pois é: ao que tudo indica, podemos parafrasear o poeta: o Muro caiu, a rixa acabou, o processamento distribuído explodiu e a indústria de mainframe nunca foi tão forte...

Agora, já não há o menor sentido em se discutir se o melhor é a centralização ou a proliferação de CPUs e unidades magnéticas na periferia da rede. A questão crucial hoje é saber como harmonizar as diferenças e obter produtividade a qualquer custo; ou melhor, a custos competitivos. 

E, assim, tanto os puristas do mainframe quanto os mais eufóricos defensores do downsizing se deram conta de uma realidade até então inusitada para muitos: a de que a heterogeneidade deste mundo é inexorável e de que é necessário aceitar a realidade deste mundo, mesmo que seja para subvertê-la à custa de revoluções tecnológicas.

Paradoxo – O que se constata, em última análise, é um aparente - porém implacável - paradoxo: o formidável boom de processamento distribuído destes últimos 20 anos serviu não apenas para provar as qualidades desta distribuição, mas também para referendar a necessidade cada vez mais premente de consoles para gerenciamento centralizado e grandes reservatórios de dados, com requisitos de alta capacidade e alta segurança.

Portanto, fica patente a necessidade de uma abordagem em que o mainframe compareça com suas características de poderosa fortaleza e grande usina de bits, enquanto os milhões de computadores pessoais da rede global cumpram o importante papel de capilarizar os produtos desta usinagem.

Sim, pois de que adiantaria o mais portentoso reservatório de água fresca sem um sistema capaz de dar acesso a este reservatório para os muitos milhões de bocas sedentas? E como resguardar esta água contra vazamentos indesejáveis ou contra a contaminação por estas tantas bocas?

É esta, sem dúvida nenhuma, a situação de perplexidade das grandes corporações usuárias de mainframe em face da explosão da Internet. Se, de um lado, possuem um enorme potencial de produtos/informação baseados em seus computadores de grande porte e enxergam na Rede Global uma miríade de oportunidades até recentemente inusitadas, por outro, alimentam fortes dúvidas e até justificados receios em relação a implementações Web-top.

Solução – Mas uma correta abordagem da questão do acesso ao servidor, ao meu ver, pode resolver em grande medida este impasse. Por exemplo, com a mais moderna tecnologia de Web-publishing, as empresas públicas ancoradas em grandes mainframes podem hoje implementar o sonho do computador-cidadão. Ou seja, os aplicativos e dados do mainframe que possam se constituir em serviços para o público são criteriosamente liberados para acesso via web-browsers. Mas as áreas de segurança, os cofres de dados do Tesouro, para darmos um exemplo óbvio, permanecem com acesso restrito.

E mais: com a utilização de subservidores (sejam NT, Unix ou Netware) num plano intermediário entre o mainframe e o desktop-web, o administrador de TI acaba com os riscos de contaminação (leia-se pirataria, sabotagem etc.) e proporciona uma visitação pública efetivamente virtual, embora com toda a sensação de realismo de que o internauta típico não abre mão.

Através de uma cuidadosa política de implementação e gerência de acesso ao mainframe para estações Netscape e Internet Explorer, as telefônicas brasileiras estão revolucionando o sistema de catalogação de assinantes. Veja-se, por exemplo, a lista classificada e as fantásticas listas telefônicas por hipertexto dos sites Telesp ou Telerj.

Nestes casos, é possível, em segundos, localizar o número de telefone de um entre milhões e milhões de assinantes residentes em qualquer um dos milhares de municípios destes estados.

Da mesma forma, as grandes empresas podem realizar seu próprio sonho comercial - o de levar seus produtos a pregão em praça pública - e o sonho dos seus clientes, que é o de revirar os estoques e tabelas de preços do comerciante diretamente a partir de suas janelas eletrônicas. Um passeio interessante é o que leva ao site Banestado.

Com o mouse – Até correntistas do Interior do Paraná, que antes precisavam ir de caminhonete até a agência mais próxima, agora podem movimentar suas contas e aplicações ou adquirir produtos financeiros só com o manejo do mouse. E, de acordo com o Banestado, o número de acessos em um ano foi seis vezes superior ao esperado e até maior que o de algumas agências de médio porte.

Mas nem só para as grandes massas é que se constrói os grandes reservatórios. Aliás, tradicionalmente, os mainframes, enquanto fortalezas de dados, se caracterizam justamente pelas intransponíveis muralhas. Assim, a indústria internacional também vem se ocupando de abordagens para o acesso profissional e restrito (antes tipicamente afeito aos terminais não-gráficos) em pleno ambiente de promiscuidade da Internet pública.

Para estes é que se desenvolve a nova tecnologia de emuladores de terminais baseados em plataforma PC em que o browser acessa o mainframe em formato nativo e com capacidade de implementação de redes privadas dentro da WWW.
Para concluir, diríamos que a solução do paradoxo mencionado no início deste artigo irá acontecer com um movimento ainda mais radical de aproximação entre o mainframe e a Net. Agora, o que as corporações estão encarando seriamente é não apenas a convivência dos dois mundos, mas um rightsizing até pouco tempo atrás impossível de ser cogitado.

É que a Internet do próximo século (N.E.: século XXI) será, em grande medida, baseada em superservidores (mainframes) sempre que eles estiverem disponíveis. E a gigantesca implementação do web-top mundial irá colocar por terra - finalmente - os últimos resquícios de dualidade que ainda resistiam após a queda das catedrais de dados (os antigos CPDs com sua aversão ao mundo externo) e ao desmantelamento cabal dos aparatos de rebeldia da juventude PC. Definitivamente, portanto, o conflito de gerações - cabeludos versus engravatados - é página virada da história.

(*) Arlindo Silva é diretor da Attachmate Brasil.