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*Publicado originalmente pelo editor de Novo Milênio no caderno Informática do jornal A Tribuna de Santos, em 29/9/1998.
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 01/10/00 10:38:54
EQUIPAMENTO
Computador PC quer ser Peter Pan na Terra do Nunca 

Até os pacotes de bolachas evoluem e se adaptam ao usuário...

Marcelo Frangetto (*)
Colaborador

A maior diferença da espécie humana para as demais é a capacidade cíclica de observar, pensar e agir, transformando o mundo com o passar do tempo, a imagem de suas atitudes e pensamentos. Assim, chegamos a inventar roda, lançar um foguete tripulado ao espaço etc... Tudo está evoluindo. Um dia, pela manhã, ao abrir um pacote de bolachas, puxei aquela bendita fita vermelha que corta a embalagem abrindo o pacote. Isso é um simples dispositivo pensado por uma pessoa criativa, que observou o problema de todos os modos e resolveu colocando uma fitinha adesiva por dentro, na borda do pacote. Demoramos muito para conhecer o que queríamos de um pacote de bolachas, pois isso sempre foi possível mas ninguém antes observou e executou.

Também com o computador teríamos de ter essas mudanças. São vinte anos (1978-98) em que se pensa em micros e não em computadores. O ciclo de evolução é o mesmo, Fabricante-Usuário, porém muito mais intenso que qualquer outro produto sendo desenvolvido; inclusive, o computador participa do desenvolvimento de inúmeros outros produtos, por tabela!

Desde que o projeto foi clonado pelo mundo asiático com aval da IBM, o PC ficou preso a interesses exclusivamente econômicos e aí surgiram muitos oportunistas no negócio, começando com o hardware e depois com o software. Um computador, hoje, está preso no que é o resultado de duas condições: máquina e sistema operacional, que é a interface entre o usuário e o hardware

Teoricamente satisfeitos – Aí é onde eu queria chegar: A Intel e demais fabricantes de acessórios de hardware para PC e a Microsoft e demais fabricantes de software apoiados nela. Na outra ponta, na condição teórica de satisfeitos, nós, usuários, que o utilizamos para trabalhar, divertir, pesquisar ou inovar o mundo ao nosso redor.

Resumindo: 
1) A IBM inventou ou PC;
2) A Intel e os asiáticos ficaram com o hardware;
3) A Microsoft ficou com o Sistema Operacional (DOS);

Evolução do PC (resumo):

Hardware: A Intel só produz processadores e dá sugestões para os asiáticos melhorarem a performance desde que comprem seus projetos; 

Software: Bill Gates observa e dá ordens para que se crie algo mais fácil de se usar do que o DOS. Sua visão destina-se em popularizar o uso do computador, tornando-o mais amigável para os leigos, surge então o Windows;

Hardware: aumentam as vendas de computadores, por se tornarem mais amigáveis, e a Intel pensa em mudanças para melhorar o desempenho da Microsoft e por conseqüência, dela mesma.

Devido a esse ciclo, Intel e Microsoft se fortaleceram economicamente, devido ao controle que faziam entre o lançamento de um produto e seu sucessor, até o Pentium de diversas velocidades (de 33 MHz em 33 MHz inclusive o Pentium 199 MHz que passa por 200 MHz) e o Win-95. Agora os caminhos se estreitam, de uma forma que o usuário não necessita fazer upgrades constantemente como antes. Isso ocorre no mundo inteiro. Quando a Microsoft lançou o Win-95, Bill Gates deu uma entrevista em que dizia não haver necessidade de ser lançado um sistema operacional a cada dois anos, referindo-se ao próximo S.O., achei até que o melhor marketing seria o Win-2000. Porém, veio o Win-98 e Bill Gates se afasta da presidência para "pensar" em outras coisas, como por exemplo uma rede de satélites.

No teto? – Será que a Intel e a Microsoft começam a bater com a cabeça no teto das evoluções? Será que não chegou o momento desse computador ser refeito, para solucionar inúmeros problemas de performance e estabilidade do S.O. que utiliza? 

Antes, não se sabia o que se queria realmente de um computador. Ninguém imaginava vídeo e áudio, muito menos Internet. Fora as aplicações em conjunto com diversas áreas. Hoje, o S.O. ainda não possui uma cara amigável. Soluções, soluções... 

O PC, de criança e adolescente, passa para a fase adulta.

Dessa vez não projetaríamos um computador e sim um Sistema Operacional, para depois projetarmos o computador que o utilizará. Todos os detalhes de uso estariam envolvidos, como navegação, integração com comunicações, multitarefa não centralizada em um único processador, portas de comunicações mais velozes, vídeo, som, CD-ROM, dispositivos de IO de 32/64 bits independentes etc. ... Depois, então, seria produzido o projeto do hardware. Primeiro atende-se ao usuário e depois o hardware

Difícil de conseguir? Compare o desempenho e custo de um PC com um videogame. A Nintendo fez parceria com a MIPS para a produção de seu console, que foi projetado em cima do que se precisava para criar jogos com qualidade. O CD-ROM do PlayStation tem 150 KB/s eqüivalendo à velocidade mais simples no PC, porém é multiprocessado e em conjunto com um poderoso descompactador de vídeo por hardware, produz vídeo em 24 fps (frames por segundo). O som possui 32 canais livres enquanto o tradicional do PC, um canal mono/estéreo. E a que custo comparativo? O PC, para fazer menos do que isso, custa oito vezes ou mais. 

Só existe talvez um caminho para esse computador: ou a Microsoft decide produzir um computador com a Intel, gastando alguns milhões em incentivos, assumindo um equipamento não compatível com o anterior – inclusive já vivemos a era dos softwares e hardwares incompatíveis há muito tempo –, ou essa mega-empresa começa a devolver mais rapidamente do que tomou, o espaço de mercado que a Mac, Silicon Graphics, Sun e Netscape estão esperando, prontas para receber, e o PC, ficará sendo um simples protótipo de computador, uma teia de emendas e remendos, para ser apreciado no futuro em um museu.

(*) Marcelo Frangetto é diretor técnico da Visual Data Informática Ltda.