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Publicado originalmente pelo editor de Novo Milênio no caderno Informática do jornal santista A Tribuna em 11/8/1998.
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 10/05/01 14:42:54
CONFLITO
Lendária Caxemira mostra sua história e pede socorro na Internet 

Seu território é disputado por Índia e Paquistão, mas povo quer independência

Imagine um lugar onde um tecelão pode ter a paciência de trabalhar 40 anos para fazer um tapete, usando fios de barba de bode; onde parte da população cultiva jardins flutuantes e, quando se muda, leva o jardim junto com sua casa, também flutuante; um lugar pobre, mas onde os verdadeiros marajás passam as férias, e criados mudam seus palácios flutuantes de posição para que os senhores, ao despertar, vejam pela janela paisagens sempre diferentes. No sopé do Himalaia, essa assim chamada Veneza do Oriente, a milenar Caxemira, está buscando na Internet a atenção mundial para a luta que Índia e Paquistão - agora com armas atômicas testadas - travam por sua posse. O paradisíaco lugar - que um imperador mongol chamou de "Vale Feliz" no século XVII - é hoje palco de seguidos massacres, mas a censura indiana vinha evitando que essas informações chegassem ao conhecimento mundial.

Conforme relata o governo paquistanês, a região formalmente conhecida como Estado de Jammu e Kashmir é limitada ao Norte pela China, a Leste pela região autônoma do Tibete, ao Sul pelos estados indianos de Himachal Pradesh e Punjab, e a Oeste pelo Paquistão. De seus 151.360 metros quadrados de território, 63% estão sob ocupação indiana, e os restantes 37% estão com o Paquistão, compreendendo a região independente de Azad mais Jammu e Kashmir (AJK). Na região controlada pela Índia, vivem 7,7 milhões de pessoas conforme o último censo realizado (1991), enquanto na região AJK vivem 2,58 milhões (dados de 1990), registrando-se ainda 1,5 milhão de refugiados no Paquistão e 1,5 milhão de expatriados.

Considerada a mais antiga disputa internacional não resolvida no mundo atual, a Caxemira vem se destacando no noticiário agora porque os dois contendores, Índia e Paquistão, estão realizando explosões nucleares para mostrar sua força, ao mesmo tempo em que acirram os conflitos fronteiriços na área, criando assim um potencial desastre nuclear na Ásia.

Página do governo paquistanês sobre a Cachemira
Tudo começou no momento em que, terminado o controle britânico sobre a região, em 26 de outubro de 1947 foram criados dois países, a Índia e o Paquistão. Nessa mesma data, segundo a Índia, teria sido assinado um documento com o marajá de Caxemira, em que ele obteria ajuda militar indiana contra a insurgência popular. O Paquistão contesta até mesmo a existência de tal documento. 

Iniciada a guerra pela posse do território, o Conselho de Segurança das Nações Unidas interveio, com a resolução de 21 de abril de 1948, estabeleceu que os dois países deveriam deixar que um plebiscito livre e imparcial entre os habitantes da região decidisse o destino de Jammu e Caxemira, que até lá deveriam ser considerados como uma região com status especial. Porém, em 1957, a nova Constituição Indiana incorporou aquela região, sem que houvesse o plebiscito previsto.

No site Web, o governo paquistanês relata - apresentando os documentos comprobatórios de suas afirmações - a história subsequente, inclusive que em 1997 voltaram a ser feitas novas negociações para tentar uma solução, através de um grupo de trabalho conjunto, porém "o governo nacionalista indiano do primeiro-ministro Atal Behari Vajpaee não tem aceitado qualquer mediação internacional sobre Caxemira". 

Página eletrônica do jornal 'The Times of India' de 5/8/1998
Enquanto isso, desde 1989 a situação na Caxemira ocupada vem se deteriorando, com a Índia adotando medidas de força e opressão, aumentando a ocupação militar e contendo severamente os insurgentes com leis draconianas, como ato anti-terrorismo TADA e outras normas, todas datadas de 1990. Atualmente, há cerca de 600 mil soldados indianos na região ocupada, fora as tropas paramilitares e de fronteira e as forças policiais. 

Estimativas do próprio governo indiano calculam em 15.002 o número de pessoas mortas (inclusive sob tortura) na Caxemira Ocupada de 1989 a 1996, mas há estimativas de até 50 mil mortos (as organizações internacionais de direitos humanos e agências de notícias consideram mais realístico o número de 20 mil mortos no período). Vale recordar que o governo indiano vem proibindo ultimamente o acesso de organizações como a Anistia Internacional aos territórios ocupados.

Na página http://www.pak.gov.pk/govt/kashmir/facts-kashmir.htm, o governo do Paquistão lembra que a solução para o problema passa pelo cumprimento das resoluções da ONU, com a desmilitarização e retirada de todas as tropas da Caxemira, seguida pela imediata realização de um plebiscito com a população para decidir o destino do território. E lembra que, se a comunidade internacional não se movimentar logo para isso, a situação política - que continua se degradando - acabará levando a uma nova guerra entre Índia e Paquistão, com grande possibilidade de uso do arsenal nuclear.

Censura - Continua disponível na Web, agora em novo endereço, o texto em inglês do jornalista Francois Gautier, de 17/2/1994, com "A verdade sobre direitos humanos na Caxemira", que o governo indiano censurou na imprensa daquele país, por denunciar o verdadeiro genocídio praticado naquela região ocupada, lembrando de perto os horrores nazistas. A tal ponto que um povo - que, durante cinco mil anos de história, aceitou a convivência pacífica com outras crenças religiosas - tem agora de se insurgir, para sobreviver à sistemática limpeza étnica ali realizada: em 1941, 15% da população da Caxemira era hindu, caindo para 5% em 1981 e para 0,1% dez anos depois. 

Ao mesmo tempo, segundo a detalhada denúncia de Gautier, o governo indiano age na política internacional de forma a que o assunto seja convenientemente esquecido, da mesma forma que os Estados Unidos, auto-proclamados defensores dos valores democráticos, convenientemente ignoram a ação chinesa de supressão dos tibetanos do Tibete, entre outros exemplos.

A matéria pode ser acessada também pela página da Global Hindu Electronic Network (GHEN), que está preparando uma mensagem de protesto ao primeiro-ministro indiano contra os assassinatos (como os de 29 hindus da Caxemira que não aceitaram se converter ao islamismo), que pode ser assinada pelos internautas.

Página eletrônica do jornal paquistanês 'Dawn', de Karachi, em 5/8/1998
Sites - Existem atualmente muitos outros sites sobre a Caxemira na Internet. Em http://www.jammu-kashmir.com/, por exemplo, há informes específicos sobre a região, enquanto em http://web.syr.edu/~fsqazi/ podem ser vistas fotos e pinturas de Fozia Qasi sobre a região - além de uma série de fotos que agradarão aos amantes da Natureza.

Também em inglês, existe um amplo documentário multimídia produzido pela rede norte-americana CNN sobre os 50 anos da independência de Índia e Paquistão. Aliás, o tema foi abordado por Informática na edição de 16/9/1997). A mesma CNN tem uma abrangente lista de sites importantes da região Ásia/Pacífico.

Quem quiser acompanhar o conflito entre os dois países, tem diversos sites de jornais à disposição, também em inglês: o India Daily, The Hindustan Times e especialmente The Times of India, que tem um amplo suplemento especial sobre a questão nuclear indiana. Já a imprensa paquistanesa é representada na Internet pelo diário Dawn, de Karachi.

Página do governo paquistanês sobre a Cachemira
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