CONFLITO
Lendária Caxemira mostra
sua história e pede socorro na Internet
Seu território é
disputado por Índia e Paquistão, mas povo quer independência
Imagine
um lugar onde um tecelão pode ter a paciência de trabalhar
40 anos para fazer um tapete, usando fios de barba de bode; onde parte
da população cultiva jardins flutuantes e, quando se muda,
leva o jardim junto com sua casa, também flutuante; um lugar pobre,
mas onde os verdadeiros marajás passam as férias, e criados
mudam seus palácios flutuantes de posição para que
os senhores, ao despertar, vejam pela janela paisagens sempre diferentes.
No sopé do Himalaia, essa assim chamada Veneza do Oriente, a milenar
Caxemira, está buscando na Internet a atenção mundial
para a luta que Índia e Paquistão - agora com armas atômicas
testadas - travam por sua posse. O paradisíaco lugar - que um imperador
mongol chamou de "Vale Feliz" no século XVII - é hoje palco
de seguidos massacres, mas a censura indiana vinha evitando que essas informações
chegassem ao conhecimento mundial.
Conforme relata
o governo paquistanês, a região formalmente conhecida
como Estado de Jammu e Kashmir é limitada ao Norte pela China, a
Leste pela região autônoma do Tibete, ao Sul pelos estados
indianos de Himachal Pradesh e Punjab, e a Oeste pelo Paquistão.
De seus 151.360 metros quadrados de território, 63% estão
sob ocupação indiana, e os restantes 37% estão com
o Paquistão, compreendendo a região independente de Azad
mais Jammu e Kashmir (AJK). Na região controlada pela Índia,
vivem 7,7 milhões de pessoas conforme o último censo realizado
(1991), enquanto na região AJK vivem 2,58 milhões (dados
de 1990), registrando-se ainda 1,5 milhão de refugiados no Paquistão
e 1,5 milhão de expatriados.
Considerada a mais antiga disputa
internacional não resolvida no mundo atual, a Caxemira vem se destacando
no noticiário agora porque os dois contendores, Índia e Paquistão,
estão realizando explosões nucleares para mostrar sua força,
ao mesmo tempo em que acirram os conflitos fronteiriços na área,
criando assim um potencial desastre nuclear na Ásia.
Tudo começou no momento em que,
terminado o controle britânico sobre a região, em 26 de outubro
de 1947 foram criados dois países, a Índia e o Paquistão.
Nessa mesma data, segundo a Índia, teria sido assinado um documento
com o marajá de Caxemira, em que ele obteria ajuda militar indiana
contra a insurgência popular. O Paquistão contesta até
mesmo a existência de tal documento.
Iniciada a guerra pela posse do território,
o Conselho de Segurança das Nações Unidas interveio,
com a resolução de 21 de abril de 1948, estabeleceu que os
dois países deveriam deixar que um plebiscito livre e imparcial
entre os habitantes da região decidisse o destino de Jammu e Caxemira,
que até lá deveriam ser considerados como uma região
com status especial. Porém, em 1957, a nova Constituição
Indiana incorporou aquela região, sem que houvesse o plebiscito
previsto.
No site Web, o governo paquistanês
relata - apresentando os documentos comprobatórios de suas afirmações
- a história subsequente, inclusive que em 1997 voltaram a ser feitas
novas negociações para tentar uma solução,
através de um grupo de trabalho conjunto, porém "o governo
nacionalista indiano do primeiro-ministro Atal Behari Vajpaee não
tem aceitado qualquer mediação internacional sobre Caxemira".
Enquanto isso, desde 1989 a situação
na Caxemira ocupada vem se deteriorando, com a Índia adotando medidas
de força e opressão, aumentando a ocupação
militar e contendo severamente os insurgentes com leis draconianas, como
ato anti-terrorismo TADA e outras normas, todas datadas de 1990. Atualmente,
há cerca de 600 mil soldados indianos na região ocupada,
fora as tropas paramilitares e de fronteira e as forças policiais.
Estimativas do próprio governo
indiano calculam em 15.002 o número de pessoas mortas (inclusive
sob tortura) na Caxemira Ocupada de 1989 a 1996, mas há estimativas
de até 50 mil mortos (as organizações internacionais
de direitos humanos e agências de notícias consideram mais
realístico o número de 20 mil mortos no período).
Vale recordar que o governo indiano vem proibindo ultimamente o acesso
de organizações como a Anistia Internacional aos territórios
ocupados.
Na página http://www.pak.gov.pk/govt/kashmir/facts-kashmir.htm,
o governo do Paquistão lembra que a solução para o
problema passa pelo cumprimento das resoluções da ONU, com
a desmilitarização e retirada de todas as tropas da Caxemira,
seguida pela imediata realização de um plebiscito com a população
para decidir o destino do território. E lembra que, se a comunidade
internacional não se movimentar logo para isso, a situação
política - que continua se degradando - acabará levando a
uma nova guerra entre Índia e Paquistão, com grande possibilidade
de uso do arsenal nuclear.
Censura
- Continua disponível na Web, agora em novo
endereço, o texto em inglês do jornalista Francois Gautier,
de 17/2/1994, com "A verdade sobre direitos humanos na Caxemira", que o
governo indiano censurou na imprensa daquele país, por denunciar
o verdadeiro genocídio praticado naquela região ocupada,
lembrando de perto os horrores nazistas. A tal ponto que um povo - que,
durante cinco mil anos de história, aceitou a convivência
pacífica com outras crenças religiosas - tem agora de se
insurgir, para sobreviver à sistemática limpeza étnica
ali realizada: em 1941, 15% da população da Caxemira era
hindu, caindo para 5% em 1981 e para 0,1% dez anos depois.
Ao mesmo tempo, segundo a detalhada
denúncia de Gautier, o governo indiano age na política internacional
de forma a que o assunto seja convenientemente esquecido, da mesma forma
que os Estados Unidos, auto-proclamados defensores dos valores democráticos,
convenientemente ignoram a ação chinesa de supressão
dos tibetanos do Tibete, entre outros exemplos.
A matéria pode ser acessada
também pela página da Global
Hindu Electronic Network (GHEN), que está preparando uma mensagem
de protesto ao primeiro-ministro indiano contra os assassinatos (como os
de 29 hindus da Caxemira que não aceitaram se converter ao islamismo),
que pode ser assinada pelos internautas.
Sites
- Existem atualmente muitos outros sites sobre a Caxemira na Internet.
Em http://www.jammu-kashmir.com/,
por exemplo, há informes específicos sobre a região,
enquanto em http://web.syr.edu/~fsqazi/
podem ser vistas fotos e pinturas de Fozia Qasi sobre a região -
além de uma série de fotos que agradarão aos amantes
da Natureza.
Também em inglês, existe
um amplo documentário
multimídia produzido pela rede norte-americana CNN sobre os
50 anos da independência de Índia e Paquistão. Aliás,
o tema foi abordado por Informática na edição
de 16/9/1997). A mesma CNN tem uma abrangente lista de sites
importantes da região Ásia/Pacífico.
Quem quiser acompanhar o conflito
entre os dois países, tem diversos sites de jornais à disposição,
também em inglês: o India
Daily,
The
Hindustan Times e especialmente The
Times of India, que tem um amplo suplemento especial sobre a questão
nuclear indiana. Já a imprensa paquistanesa é representada
na Internet pelo diário Dawn,
de Karachi.
Veja mais:
Imagens
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