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Publicado originalmente pelo autor no caderno Informática
do jornal A Tribuna de Santos, em 28 de outubro de 1997
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 05/20/00 22:33:04
POR DENTRO DO COMPUTADOR - 19
Segurança em hardware ganha importância 
Pequenos cuidados podem ser a diferença entre continuar em atividade ou ter de refazer meses de trabalho perdido

Com a diversidade de equipamentos, periféricos, suprimentos e outros itens relacionados com a computação, é quase impossível elaborar uma lista de quesitos de segurança a eles relacionados. Mas, existem cuidados básicos e outros que mesmo muitos especialistas em informática não sabem que deveriam tomar, como a troca periódica dos filtros de ozônio existentes nas impressoras a laser. Eis uma pequena lista de recomendações, algumas tão óbvias que são desdenhadas – e por isso ignoradas, causando riscos aos dados:

Cuidados básicos – O ambiente é importante para a durabilidade dos equipamentos e para evitar falhas:

1) Não fume enquanto trabalha com o computador. Ele possui um sistema de resfriamento por ventilador, que chupa a fumaça para dentro do gabinete. As partículas da fumaça, com o tempo, podem provocar corrosão nos delicados circuitos internos.

2) Não exponha o computador a mudanças bruscas de temperatura, a altas temperaturas ou diretamente ao sol (para os modernos PCs, a temperatura ambiente confortável para os humanos basta, também não é preciso instalar o computador dentro de uma geladeira).

3) Como ocorre com qualquer outro equipamento eletrônico, não exponha o computador à umidade excessiva ou mesmo à chuva. Cuidado com aquela goteira no teto... E, se derramar café no teclado, pare tudo, salve os programas e desligue o computador o mais rapidamente possível. Depois, remova o máximo de líquido que puder do teclado e espere secar antes de voltar a usar o equipamento.

4) A poeira é inimiga da informática. Um grão de poeira num disquete ou CD-ROM tem o mesmo efeito de uma grande rocha sobre uma folha de papel.

5) Insetos também são problema, e as formigas urbanas existentes na região adoram se instalar dentro dos computadores e telefones. O ácido fórmico que elas liberam é um poderoso corrosivo...

6) Evite campos magnéticos próximos ao computador. Afinal, as memórias do computador são eletromagnéticas. Só use com o micro caixas de som blindadas, pois as comuns, usadas nos aparelhos de som, não têm essa proteção e emitem radiações perigosas para o micro.

7) Para o bem de sua própria saúde, verifique se o monitor tem baixa taxa de radiação, dentro das normas internacionais para esse caso.

8) Não deixe o monitor aceso e parado por muito tempo. O monitor utiliza geralmente fósforo para formar as imagens, e se ficar horas, dias, parado com a mesma imagem, quando for desligado você continuará vendo para sempre essa mesma imagem, pois esses pontos da tela terão sido mais gastos que os outros. Por isso é que se usa programas salva-telas, que colocam uma imagem qualquer em movimento. Embora, na verdade, o melhor salva-tela é o que deixa a tela totalmente escura, embora o monitor esteja ligado. A propósito, excesso de luminosidade na tela “envelhece” mais rapidamente o monitor.

9) Nada no computador deve depender de esforço físico. Se um conector não está se encaixando no outro, é mais provável que esteja invertido, e a dificuldade é proposital, para alertar o usuário, já que uma conexão invertida pode provocar um curto-circuito ou no mínimo o não funcionamento de um componente. Também não tente forçar um disquete no compartimento, e – a não ser que nos equipamentos especialmente preparados que começam a surgir no mercado – não troque componentes ou instale equipamentos periféricos sem antes desligar o micro.

10) Os computadores mais modernos – todos os da geração Pentium, por exemplo – possuem um pequeno ventilador para resfriar o chip. Repare pelo ruído característico se ele está funcionando, pois em caso contrário o processador esquenta anormalmente e pode se fundir ou no mínimo apresentar falhas graves de funcionamento.

11) Evite trepidações no equipamento. Procure ver as normas de remoção e transporte contidas nos manuais do equipamento. A propósito: exija todos os manuais: até o gabinete da CPU tem um manual, sem o qual fica difícil reconfigurar o display indicador da velocidade do micro. Tenha cuidado especial com o disco rígido, bem mais sensível.

12) Principalmente junto à fonte de energia, ao chip e aos rolos de impressão, tome cuidado com o calor, caso o equipamento tenha sido desligado há pouco tempo. Podem ocorrer sérias queimaduras, principalmente em certos roletes da impressora laser, que funcionam a 180 graus centígrados.

13) Evite bloquear a passagem do ar no gabinete da CPU, atrás do monitor ou em volta da impressora, pois a falta de renovação do ar provoca o superaquecimento e danos nesses equipamentos. E mantenha os equipamentos nivelados.

14) Os cartuchos de tonner das impressoras laser podem estar com o pó todo de um lado, depois de certo tempo de uso. Antes de forçar uma impressão mais escura para compensar (existe um controle para isso, mas o ideal é deixá-lo na posição normal, para evitar maior gasto de tinta ou tonner), tente retirar o cartucho de tonner e fazer pequenos movimentos de forma a redistribuir o pó existente em seu interior; isso vale também quando a impressora emite alerta de fim do tonner: geralmente, esse simples procedimento permite fazer a mensagem desaparecer e – com ou sem ela - possibilita obter mais 50 a 100 páginas impressas. Mas, é evidente que o tonner está acabando, procure ter um cartucho de reserva.

15) Ainda sobre as impressoras a laser, se você estiver obtendo riscos pretos verticais num dos lados do papel (geralmente o direito), ou linhas horizontais por toda a largura da página, pode ser que o cartucho de tonner esteja com o fio corona sujo. Algumas impressoras (HP, Apple, Canon) já vêm com um limpador de fio corona. Veja como fazer a limpeza no manual de instruções de sua impressora.

16) Poucas pessoas sabem que a impressora a laser tem um filtro de ozônio, que serve para eliminar o gás ozônio produzido pela impressora. Com o tempo, partículas de papel, fumaça de cigarro e o próprio ar poluído acabam entupindo este filtro, tornando-o ineficaz. Testes dinamarqueses indicaram que esses filtros deixam de funcionar depois de cerca de um ano, emitindo quantidades de ozônio prejudiciais à saúde, que podem causar problemas respiratórios, náusea, dores de cabeça e envelhecimento precoce da pele. O risco é maior em espaços pequenos e mal ventilados, onde o gás não tem como se dispersar. Cientistas ingleses descobriram que funcionários trabalhando em ambientes onde há copiadoras e impressoras a laser estão expostos a uma quantidade de ozônio dez vezes maior que o nível considerado seguro. Alguns fabricantes de impressoras a laser recomendam a troca dos filtros após 30 mil a 50 mil páginas, e não é um procedimento caro.

Eletricidade – A parte elétrica também merece cuidados:

17) Nossas linhas elétricas subdesenvolvidas são também um problema sério. Voltagem menor que a nominal, “ruídos” elétricos provocados por motores nas imediações (o liqüidificador da cozinha ou o elevador do prédio) causam danos a longo prazo, enquanto um pico de energia repentino pode queimar o computador, danificar irremediavelmente o disco rígido ou pelo menos interferir com os dados que estão sendo manipulados nesse momento. Se não dispuser de um no-break (que mantém o computador funcionando, mesmo quando falta energia, e geralmente corrige as falhas elétricas), use ao menos um filtro de linha (cuidado: alguns dos “filtros de linha” existentes no mercado são apenas sofisticados benjamins, que apenas dão mais opção para a ligação de outros periféricos).

18) Lembre-se de garantir o aterramento do sistema. Aquele terceiro pino nos conectores elétricos, que muitos simplesmente arrancam para ligar o computador em nossas tomadas, não está ali por enfeite. É a conexão para o fio-terra, que descarrega excessos de tensão na terra, evitando prejuízos ao equipamento. O melhor sistema de filtragem de linha não poderá dar toda a garantia esperada sem estar conectado ao fio-terra. Você até pode dispensar esse terceiro fio, principalmente se está num prédio mais antigo, que não o possui, mas esteja ciente do risco que corre. Ligar o fio-terra à torneira ou a um prego também não é a solução correta, consulte seu eletricista.

19) Se o computador está ligado à rede telefônica, procure instalar um filtro de linha que atenda também à tomada telefônica, pois muitos distúrbios podem ser provocados por “ruídos” elétricos trazidos pelo fio telefônico.

20) Em caso de raios, desligue o computador da tomada e também da linha telefônica. A não ser que confie num bom sistema de pára-raios...

21) Quando precisar mexer dentro do gabinete do computador, desligue-o da tomada e procure usar um bracelete anti-estático. Ou, pelo menos, toque em algum objeto metálico que permita descarregar a eletricidade estática. Andar sobre um carpete, por exemplo, acumula eletricidade estática suficiente para literalmente torrar um microprocessador. Não é exagero, embora alguns técnicos de computação sequer tomem esses cuidados mínimos, e ainda afirmem depois que o problema era o chip queimado...

22) Evite ligar e desligar seguidamente o micro. Em condições normais, ele é preparado para ficar ligado até permanentemente. Ao ligar o micro, uma torrente de elétrons é repentinamente injetada nos circuitos, provocando um certo desgaste. Por isso, modernamente se tem dado preferência a equipamentos que podem ficar ligados em repouso quando não estão sendo usados, com baixo consumo de eletricidade.

Manutenção softBack-ups, desfragmentação de disco rígido, são cuidados importantes, também:

23) Evite desligar simplesmente o computador, sem antes fazer o fechamento dos programas e arquivos que estejam abertos. Nem sempre as informações vistas na tela estão salvas, podem estar apenas na memória de trabalho, que é zerada quando o computador é desligado. Isso pode danificar os arquivos, que ficam perdidos no sistema, ao perderem os vínculos lógicos que possuem. O Windows também tem um procedimento de finalização que deve ser seguido sempre.

24) Devido ao método que o computador usa para arquivar os dados, um programa um pouco mais extenso pode ocupar blocos de memória não contíguos. O primeiro bloco recebe um sinal apontando para o endereço onde está o bloco seguinte, e assim por diante. O usuário nem percebe diretamente esse fato. Mas, com o passar do tempo, essa descontinuidade dos dados provoca um esforço maior do cabeçote leitor de dados no disco rígido, que tem de ser reposicionado  para a leitura dos blocos de dados, ocasionando uma certa demora. No caso de uma falha elétrica, esses vínculos podem ser perdidos. Por isso, é recomendável que uma vez por semana (ou mais, se o uso fôr muito grande) seja acionado o programa desfragmentador de disco rígido. Geralmente, é possível automatizar esse procedimento.

25) Periodicamente, vale conferir o "estado de saúde" do disco rígido e dos disquetes, com um programa tipo Scandisk, que faz uma varredura na estrutura de dados, aponta e corrige os problemas encontrados. Entre esses problemas, pode estar um trecho do disquete ou do disco rígido que tenha perdido a magnetização e, portanto, a capacidade de gravar dados. Este setor pode ser isolado, tornando-se indisponível para futuras gravações, evitando assim uma futura perda de dados.

26) Verificar os arquivos – principalmente os que estão sendo colocados no sistema pela primeira vez – com um programa antivírus é cada vez mais de importância fundamental para evitar a perda de dados. Por outro lado, mesmo um programa oficial mas com falhas de programação pode trazer problemas. Se o seu computador não pode parar, não arrisque a instalação de um programa desconhecido, prefira localizar um outro micro em que o teste possa ser feito sem problemas. Verifique os manuais antes da instalação, em busca de recomendações do fabricante quanto à configuração mínima do equipamento.

27) Faça vários conjuntos de cópias dos arquivos (back-ups), revezando-os. Não basta todo fim de tarde copiar os arquivos para uma mesma fita ou para um disquete, pois com o tempo a mídia magnética se desgasta e você só vai descobrir o problema quando precisar realmente da cópia. O ideal é revezar as cópias, de forma a que uma tenha os dados mais atualizados, a segunda esteja defasada de um dia, a terceira defasada de dois dias etc. A freqüência das cópias vai depender do uso dos dados e da quantidade de alterações feita. 

Algumas empresas adotam o procedimento de uma cópia para cada dia da semana, de forma que na pior hipótese (todas as demais cópias apresentarem falhas) percam no máximo uma semana de trabalho. E, no caso de uma alteração de dados não percebida de imediato, podem fazer uma auditoria nas últimas versões, para descobrir quando a alteração ocorreu e até restaurar a informação correta original.

Segurança física – Não basta ter um bom conjunto de cópias, é preciso que elas estejam em segurança. Pesquisa feita em 1994 pela National Computing Centre do Reino Unido indicou os principais perigos para o hardware, pela ordem de importância: incêndio; parada do sistema; roubo/furto; falta de força; defeitos de rede; sabotagem; raios e enchentes. Para os dados: vírus; erros de software; uso inadequado do computador; erros do usuário; hackers.

28) Não deixe todos os ovos no mesmo cesto, conforme o velho conselho popular. Mantenha em local distante um conjunto de cópias back-up dos arquivos, para que um acidente envolvendo os arquivos originais não se estenda também às cópias de segurança.

29) Na feira de informática Comdex, realizada em agosto na capital paulista, um expositor (a empresa Aceco) mostrou de forma dramática o risco que as empresas podem correr: colocou no estande um grande computador todo queimado, com efeitos de som e luz para parecer que ainda existiam focos de incêndio. Manuais, disquetes, tudo destruído.

Ela resumiu o caos: o superaquecimento pelo fogo expele o cloro do PVC da decoração, da mobília e dos equipamentos. Gases e fumaça preta e tóxica corroem os equipamentos e os meios magnéticos; um bloco de 1 m³ de concreto, submetido por 10 minutos a até 600 graus centígrados, libera vapor correspondente a 140 litros de água cristalizada; a temperatura de 100 graus centígrados transforma a água cristalizada em vapor, que destrói mídias e componentes; mesmo sem chamas, o calor pode destruir equipamentos e dados; há que considerar ainda o impacto de escombros, poeira, gases corrosivos, vandalismo, radiações, explosão, magnetismo.

Mais: enquanto por norma (NB-1344 da Associação Brasileira de Normas Técnicas/ABNT), a mídia papel deve suportar 175 graus centígrados; o microfilme suporta 110 graus; o cartucho 3480, só 75 graus; disquetes, fitas DAT e Streamer e CD-ROMs, 55 graus. O custo médio da reposição de 1 MB de dados é de US$ 1.266. Para o equivalente a um disco rígido de 1,35 GB, fica em US$ 1.750.000,00.

30) Analise: até que ponto seus dados são importantes para merecerem uma proteção especial? Sabendo que a perda dos dados de faturamento dos clientes, por exemplo, pode significar a própria falência da empresa, pode ser oportuno adquirir um cofre para a colocação de disquetes e fitas de cópia, de forma a ficarem protegidos contra fogo, inundação, explosões etc. Já existem cofres assim por menos de R$ 800,00. Em casos mais específicos, como em indústrias onde existe grande interferência eletromagnética, podem ser instaladas salas especiais que funcionam como gaiolas de Faraday, protegendo o que estiver em seu interior contra tais interferências.