POR DENTRO
DO COMPUTADOR - 15
O modem e as portas de comunicação
Modems
da Bell/AT&T, lançados em 1960
Foto: The
Computer Museum Network - Boston/MA-EUA
Zeros
e uns: o código binário é a linguagem do computador,
e toda informação por ele processada deve estar nesse padrão
digital. Mas, tradicionalmente, as formas utilizadas pela humanidade para
a comunicação à distância são do tipo
analógico, ou seja, têm analogia (semelhança) com a
forma da própria voz humana.
Isto é,
as informações sonoras vão em ondas, como as formadas
na água do lago por uma pedra nele atirada. O que fazemos é
alterar a freqüência com que as ondas passam ou a sua altura,
para assim transmitir as informações desejadas. As ondas
hertzianas, usadas pelas emissoras de televisão e rádio,
são assim. E o sistema de telefonia geralmente é analógico,
mesmo os atuais celulares (no próximo ano, começam a aparecer
os celulares digitais, e já existem trabalhos para digitalização
da radiofonia e da telefonia, mas é algo que ainda demora um pouco).
Por essa razão,
os computadores digitais tiveram que se adaptar à realidade analógica,
para a transmissão de dados. Surgiram os aparelhos MOduladores/DEModuladores,
batizados com a sigla formada pelas primeiras letras dessas palavras, modem.
Sua função é apenas converter (modular) o sinal digital
do computador em analógico e injetá-lo na linha telefônica,
e converter o sinal analógico vindo por essa linha para a linguagem
binária (ou seja, demodular).
Acoplador
acústico para transmitir sinais do computador para a linha telefônica
Foto: Museu
da Computação da Universidade de Virgínia/EUA
E
isso é exatamente tudo o que faziam os primeiros modems. Em 1960,
a AT&T Dataphone lançou no mercado o primeiro modem para uso
comercial. Em 1964, a American Airlines colocou em funcionamento o sistema
Sabre de reservas de passagens aéreas, com 2.000 terminais em 65
cidades ligados a um par de computadores centrais. Os primeiros modems,
inclusive, nem eram ligados diretamente à linha telefônica:
desenvolvidos em 1966 no Instituto de Pesquisas da Universidade de Stanford
por John Van Geen, os modems acústicos transformavam o sinal digital
e som audível, e o alto-falante era encaixado nos bocais de um telefone
comum.
Depois, surgiram
os aparelhos de telefax, que juntavam o modem a um scanner para digitalizar
as imagens do papel e a uma impressora térmica para colocar em papel
sensível ao calor as imagens que chegassem pela linha telefônica.
Nos anos 70, os modems começaram a chegar aos computadores pessoais,
ainda na versão externa, depois na forma de placas com microcircuitos,
instaláveis dentro do gabinete principal dos computadores.
Novas funções
-
Quantas vezes a linha cai, bem no meio da conversa, ou então
a voz do interlocutor fica mais baixa, surgem terceiros interlocutores
(linhas cruzadas) e outros problemas de comunicação? Por
ser do tipo analógico, a comunicação telefônica
tradicional está sujeita a todo tipo de interferências eletromagnéticas,
não sendo portanto muito confiável.
Modem Hayes
para 1200 bps, de 1977
Foto: Museu
da Computação da Universidade de Virginia/EUA
Para
resolver esses problemas, surgiram pequenos truques executados pelos modems
e/ou pelos programas de comunicação de dados. Por exemplo,
somar todos os bits de um bloco de dados e enviar esse número para
o modem de destino, que deve conferir se todos os bits foram recebidos
e sem alteração, caso contrário deve automaticamente
solicitar a retransmissão.
Também,
para diminuir o tempo de transmissão, começaram a ser usadas
técnicas de compressão de dados: através de certos
métodos matemáticos (os algoritmos), todos os dados repetidos
eram transformados num código, diminuindo o volume de informação
a transmitir. Para que um modem entendesse os códigos transmitidos
pelo outro, surgiram os protocolos de comunicação.
Velocidade
- Por isso, tanto no aparelho de fax como no computador, antes da transmissão
começar efetivamente, existe uma espécie de diálogo
entre o modem transmissor e o receptor. Nesse diálogo, eles estabelecem
a velocidade (medida em bits por segundo - bps ou seu múltiplo kbps
- ou em bauds) com que o modem do destino consegue receber os dados, o
algoritmo que será utilizado na compressão desses dados,
o parâmetro para verificação e correção
de erros. Um dos padrões básicos é o padrão
de códigos Hayes para a comunicação do computador
com o modem, enquanto o RS-232C foi definido em 1969 para as conexões
elétricas entre computador e linha telefônica.
A velocidade
do modem pode ser medida em bits por segundo (bps) ou seu múltiplo
kbps. Outra forma de calcular a velocidade é em bauds, medida de
velocidade física que inclui outros sinais e símbolos, além
dos bits. O resultado em bauds é um número superior ao superior
ao de bps, por isso é que se recomenda que no Windows (que utiliza
bauds) o modem seja configurado com a maior velocidade possível.
A negociação
automática entre o modem transmissor e o receptor começa
pela maior velocidade determinada e vai baixando para a maior velocidade
possível. Registre-se ainda que há modems que operam em velocidades
diferentes para cada função, podendo alguns transmitir dados
em 28.800 bps e fax em até 14.400 (o normal hoje é 9.600
bps), e alguns transmitem com velocidade maior do que podem receber os
dados.
Os modernos
modems podem trabalhar com diferentes protocolos, inclusive os padrões
para transmissão e recepção de fax, voz e imagens
em movimento (das câmaras de videoconferência), em alguns casos
simultaneamente. É por isso que se pode passar ou receber fax via
computador, ou até usar o microfone e o auto-falante ligados ao
micro para conversar, como se estivéssemos usando um telefone comum.
Portas -
Os
modems, na verdade, não se comunicam diretamente com o processador
central. Mesmo quando têm a forma de placas instaladas internamente
no computador, eles usam portas de comunicação serial (diferentes
das paralelas, porque na porta serial os dados passam em fila indiana,
um por um, e na paralela - usada principalmente pelas impressoras - passam
diversos bits de cada vez). São basicamente as portas COM1,
COM2, COM3 e COM4.
Devido a detalhes
estruturais dos computadores, essas portas possuem níveis de prioridade
de acesso, conhecidos como IRQs, que devem ser diferentes. Para não
aprofundar muito esta explicação, basta registrarmos que
se dois equipamentos tentarem transmitir ao mesmo tempo e com o mesmo nível
de prioridade, o sistema trava, pois não tem como saber se determinada
informação veio de um ou de outro.
Este é
um dos grandes aborrecimentos dos usuários de computador, que -
devido a essa arquitetura ultrapassada - enfrentam às vezes horas
e dias perdidos em busca de uma configuração que não
apresente conflitos. Até porque as portas também têm
seus padrões (UART), e os modems devem estar adequados a elas.
Num futuro
relativamente distante, todas as comunicações - telefone,
rádio, televisão - serão digitais, e nessa hora os
modems perderão sua função principal, já que
os dados poderão ter comunicação direta com as portas
seriais (ou suas equivalentes no futuro).
Ainda assim,
é possível que um outro tipo de modem sobreviva: o que transforma
os dados digitais em sinais luminosos, para viajarem pelos cabos de fibra
óptica, como os que ligam as redes telefônicas entre São
Paulo e Rio de Janeiro. Embora não seja impossível que, nessa
época, a própria arquitetura interna do computador já
preveja a transmissão dos dados via cabos ópticos, até
entre seus componentes internos... |