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*Publicado originalmente pelo editor de Novo Milênio no caderno Informática do jornal A Tribuna de Santos, em 18/11/1997.
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 05/20/00 22:39:22
AGENCIAMENTO MARÍTIMO
No tempo da gelatina e do cabograma 

Depoimento de Elmar José Braun, presidente do Sindamar

comecei a trabalhar no setor marítimo em Porto Alegre, em agosto de 1947, portanto há mais de 50 anos. Naquela época, para se copiar um texto, podíamos usar algumas folhas de papel carbono, na máquina de escrever. Havia o mimeógrafo, em que se tinha de fazer a matriz para depois efetuar as cópias.

Documentos que hoje faço eletronicamente no computador, naquela época teria de usar a folha de gelatina, sobre a qual era colocada a matriz para transferir a tinta para as cópias, e a matriz enfraquecia depois de certo número de cópias, era preciso fazer outra. E se a matriz fosse mal colocada na gelatina, se manchasse, perdia-se todo o trabalho.

Hoje, temos a Internet, mas lembro que naquela época só dispúnhamos do Telégrafo Nacional, da Western Telegraph e da Rádio Internacional. A Western servia também internamente, e a Rádio Internacional era para enviar mensagens ao exterior, por rádio. Ligações telefônicas de Porto Alegre para Santos e Rio de Janeiro ou para o exterior, só a partir da cabina da Rádio Internacional, era preciso marcar horário para se conseguir telefonar.

Quando caía o sistema do Telégrafo Nacional, eles se assenhoreavam das linhas da Western, que ficava privada de seu serviço. A Western tinha cabos submarinos ao longo do litoral, ligando com o exterior, enquanto o Telégrafo Nacional usava fios aéreos, que às vezes caíam.

A Western tinha estação em Rio Grande, onde começava o cabo que subia pela costa brasileira. Então, a empresa era obrigada a colocar as mensagens nos ônibus de Porto Alegre para Rio Grande, e esses ônibus não eram freqüentes, além da estrada ser de macadame, com muitos problemas. Era necessário ainda atravessar dois rios, o Camacuã e o Canal de São Gonçalo, enfrentando fila na balsa, o que tornava o serviço de telegramas pelo cabo (cabogramas) ainda mais precário. O atraso podia ser medonho.

Jeitinho – Na área marítima, ainda tínhamos uma solução. A agência marítima em que eu trabalhava em Porto Alegre representava a armadora sueca Johnson Line. Para nos comunicarmos com a agência de Santos, mandávamos a mensagem via Buenos Aires, pedindo que o agente argentino retransmitisse via rádio para Santos, e que o agente santista usasse o mesmo sistema para responder. Como a concessão da Rádio Internacional era só para ligações com o exterior, transformávamos assim a mensagem nacional em internacional.

As comunicações eram tão difíceis que a gente tinha de ter um relacionamento muito bom com a companhia telefônica, conversar com as chefes de setor, pois para fazer uma ligação qualquer era preciso tirar o fone do gancho, chamar a companhia telefônica e fazer o pedido de ligação, que podia demorar meia hora ou o dia inteiro para ser atendido. Residi em Porto Alegre durante 14 anos, e nesse tempo todo fiquei na fila para ter um telefone em minha casa. Não consegui – em 14 anos!

As modificações só começaram a acontecer a partir do governo Juscelino Kubitschek, no final dos anos 1950. Até então, nossa industrialização era mínima, importávamos produtos primários como arame farpado ou para fabricação de pregos, chapas de aço simples para fazer fogões (na maioria eram a lenha, ainda). Não havia indústria automobilística, ela começou com o presidente JK. As estradas eram poucas, os navios de cabotagem faziam a ligação pelo litoral. E, para o contato com os navios, não havia radiotelefone, como hoje: os tripulantes tinham de mandar mensagem de rádio para a estação Junção Rádio (hoje parte do sistema de telefonia móvel da Embratel), perto de Rio Grande, usando telégrafo e o código morse. Junção Rádio é que se comunicava conosco para retransmitir a mensagem. Só no final dos anos 50 começaram a surgir as estações de terra.

A Italcable, a Western, a Radional, foram desaparecendo, e o grande passo nas comunicações foi o aparecimento do telex, já na década de 60. Vim para Santos em 1961, e só um pouco depois o telex começou a aparecer...

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Quem: Elmar José Braun
Informação é agente das mudanças no setor marítimo