AGENCIAMENTO MARÍTIMO
No tempo da gelatina e do cabograma
Depoimento de Elmar
José Braun, presidente do Sindamar
comecei
a trabalhar no setor marítimo em Porto Alegre, em agosto de 1947,
portanto há mais de 50 anos. Naquela época, para se copiar
um texto, podíamos usar algumas folhas de papel carbono, na máquina
de escrever. Havia o mimeógrafo, em que se tinha de fazer a matriz
para depois efetuar as cópias.
Documentos que hoje faço eletronicamente
no computador, naquela época teria de usar a folha de gelatina,
sobre a qual era colocada a matriz para transferir a tinta para as cópias,
e a matriz enfraquecia depois de certo número de cópias,
era preciso fazer outra. E se a matriz fosse mal colocada na gelatina,
se manchasse, perdia-se todo o trabalho.
Hoje, temos a Internet, mas lembro
que naquela época só dispúnhamos do Telégrafo
Nacional, da Western Telegraph e da Rádio Internacional. A Western
servia também internamente, e a Rádio Internacional era para
enviar mensagens ao exterior, por rádio. Ligações
telefônicas de Porto Alegre para Santos e Rio de Janeiro ou para
o exterior, só a partir da cabina da Rádio Internacional,
era preciso marcar horário para se conseguir telefonar.
Quando caía o sistema do Telégrafo
Nacional, eles se assenhoreavam das linhas da Western, que ficava privada
de seu serviço. A Western tinha cabos submarinos ao longo do litoral,
ligando com o exterior, enquanto o Telégrafo Nacional usava fios
aéreos, que às vezes caíam.
A Western tinha estação
em Rio Grande, onde começava o cabo que subia pela costa brasileira.
Então, a empresa era obrigada a colocar as mensagens nos ônibus
de Porto Alegre para Rio Grande, e esses ônibus não eram freqüentes,
além da estrada ser de macadame, com muitos problemas. Era necessário
ainda atravessar dois rios, o Camacuã e o Canal de São Gonçalo,
enfrentando fila na balsa, o que tornava o serviço de telegramas
pelo cabo (cabogramas) ainda mais precário. O atraso podia ser medonho.
Jeitinho – Na área
marítima, ainda tínhamos uma solução. A agência
marítima em que eu trabalhava em Porto Alegre representava a armadora
sueca Johnson Line. Para nos comunicarmos com a agência de Santos,
mandávamos a mensagem via Buenos Aires, pedindo que o agente argentino
retransmitisse via rádio para Santos, e que o agente santista usasse
o mesmo sistema para responder. Como a concessão da Rádio
Internacional era só para ligações com o exterior,
transformávamos assim a mensagem nacional em internacional.
As comunicações eram
tão difíceis que a gente tinha de ter um relacionamento muito
bom com a companhia telefônica, conversar com as chefes de setor,
pois para fazer uma ligação qualquer era preciso tirar o
fone do gancho, chamar a companhia telefônica e fazer o pedido de
ligação, que podia demorar meia hora ou o dia inteiro para
ser atendido. Residi em Porto Alegre durante 14 anos, e nesse tempo todo
fiquei na fila para ter um telefone em minha casa. Não consegui
– em 14 anos!
As modificações só
começaram a acontecer a partir do governo Juscelino Kubitschek,
no final dos anos 1950. Até então, nossa industrialização
era mínima, importávamos produtos primários como arame
farpado ou para fabricação de pregos, chapas de aço
simples para fazer fogões (na maioria eram a lenha, ainda). Não
havia indústria automobilística, ela começou com o
presidente JK. As estradas eram poucas, os navios de cabotagem faziam a
ligação pelo litoral. E, para o contato com os navios, não
havia radiotelefone, como hoje: os tripulantes tinham de mandar mensagem
de rádio para a estação Junção Rádio
(hoje parte do sistema de telefonia móvel da Embratel), perto de
Rio Grande, usando telégrafo e o código morse. Junção
Rádio é que se comunicava conosco para retransmitir a mensagem.
Só no final dos anos 50 começaram a surgir as estações
de terra.
A Italcable, a Western, a Radional,
foram desaparecendo, e o grande passo nas comunicações foi
o aparecimento do telex, já na década de 60. Vim para Santos
em 1961, e só um pouco depois o telex começou a aparecer...
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Quem:
Elmar José Braun
Informação
é agente das mudanças no setor marítimo |