Peru: um país entre a guerra
e a paz
Ação do MRTA
no Peru mostra o ressurgimento desses grupos, agora na Net
Toda
ação terrorista é condenável como crime contra
a humanidade, e inaceitável desde a perspectiva de que os fins,
por mais nobres que sejam, não justificam os meios. Mas, o terrorismo
descobriu a mídia, e embora existam facções empregando
a violência pura e simples, até contra objetivos inocentes,
já existem grupos sofisticados, usando todo o seu poder de convencimento
e sedução para atrair adeptos às suas causas.
Verdade seja dita, muitos de seus argumentos
são corretos, algumas das reivindicações são
justas, até existem grupos bem-intencionados e buscando a paz. Mas,
se o leitor topar com esse pessoal na Internet, deve redobrar seu cuidado:
esses podem ser os mais perigosos. É que justamente uma das técnicas
de convencimento consiste em ressaltar certas verdades, entremeá-las
com meias-verdades e disfarçar ou ocultar as mentiras através
de armadilhas da Lógica, para que sejam aceitas pelos desavisados
como se fossem verdades também.
MRTA - No caso do Movimento
Revolucionário Túpac Amaru - o nome vem de um líder
indígena dos tempos coloniais -, que desde o dia 17 de dezembro
ocupou a embaixada japonesa em Lima, fazendo centenas de reféns
-, todos os detalhes da ação estão em sua homepage.
Nessa página Web, instalada em um provedor dinamarquês e identificada
por um número, eles explicam que sua unidade de forças especiais
Edgar Sanchez “ocupou militarmente” a residência do embaixador do
Japão, numa operação que denominaram “c. Oscar Torre
Condesu” e que tem o lema “Rompendo o silêncio, o povo os quer livres’.
A operação está a cargo do comandante do MRTA, c.Hemigidio
Huerta Loayza (o “c.” é sua abreviatura para “companheiro”).
“Manifestamos que desde a ocupação
militar da residência do embaixador do Japão no Peru foram
tomadas todas as medidas do caso para respeitar a integridade física
e moral das personalidades ali capturadas. Esta ocupação
militar realizamos em protesto
pela ingerência do governo japonês na vida política
de nossa pátria, avalizando em todo momento os métodos de
violação aos DDHH (N.E.: direitos humanos) aplicados pelo
governo do Sr. Fujimori, assim como sua política econômica
que só trouxe consigo maior miséria e fome à maioria
do povo peruano”.
Continua: “De igual maneira, dizemos
a nosso povo que tivemos de tomar esta medida extrema para preservar a
vida de dezenas de militantes e dirigentes de nossa organização
que sofrem prisão em meio a condições infra-humanas
e a uma política carcerária que busca seu aniquilamento físico
e mental, encerrados em verdadeiros cárceres-tumbas - conforme reiteradamente
afirma o Sr. Alberto Fujimori com estas palavras: ‘Ali apodrecerão
e só sairão mortos’, mostrando uma sanha irracional contra
lutadores sociais -, que nos levantamos em armas para lutar pelo bem-estar
de nosso povo”.
Essas declarações estão
no comunicado número 1, colocado na Internet no próprio dia
17 de dezembro, e onde também constam as exigências para a
libertação dos reféns: mudar a política econômica,
libertar todos os presos ligados ao MRTA, traslado de guerrilheiros e parte
dos reféns à zona guerrilheira nas selvas peruanas (onde
seriam libertados), e pagamento de um imposto de guerra.
No segundo comunicado, dia 20, o
grupo anunciou a decisão de libertar incondicionalmente todas as
mulheres e crianças, além de pessoas idosas ou com saúde
debilitada (“incluídos familiares do próprio senhor Fujimori”).
No mesmo dia, foi também colocada na sua página Web uma declaração
dos reféns, citando as precárias condições
enfrentadas e conclamando governo e MRTA a buscarem uma solução
pacífica para o impasse. Desde então, foram emitidos mais
dois comunicados, também via Internet.
Apoios - Além das páginas
em castelhano existentes na Dinamarca, o MRTA conta com uma página
em inglês, a “Voz Rebelde Internacional”, que apesar de sediada num
provedor universitário norte-americano se apresenta como página
oficial do MRTA na Europa. Ali há inúmeros links para
textos e entrevistas publicados em todo o mundo sobre esse movimento, videoclips
do comando guerrilheiro preparando a invasão da embaixada japonesa,
fotos e até a maquete da embaixada, mapa de localização
(assinado pela Associated Press...) e outros detalhes.
Há uma página que analisa
os diversos movimentos guerrilheiros no mundo, em http://dubhe.cc.nps.navy.mil/~gmgoncal/,
e que no momento está sem os links para essas
análises, mas quem acrescentar o sufixo /tupac.htm
conseguirá ver, por exemplo, as informações sobre
o MRTA - “tradicional movimento revolucionário marxista-leninista
formado em 1983 (...) Atividades: bombas, emboscadas, sequestros, assassinatos.
Anteriormente responsável por amplo número de ataques anti-estadunidenses
(...)”.
Um panorama da situação
na América Latina pode ser visto na transcrição de
um documento do Departamento de Estado dos Estados Unidos: “Padrões
do Terrorismo Global, 1995” - disponível no Hellenic
Resources Network. Embora atualizado até abril de 1996, permite
uma visão ampla do problema na região. E quem quiser acompanhar
a situação peruana de um ponto-de-vista local, pode acessar
o jornal diário peruano La
República. Ou pode ver o noticiário internacional da
Cable
News Network (CNN). Na edição do dia 8, por exemplo,
havia até mensagens em vídeo do presidente Fujimori, gravações
de contatos por rádio etc.
Veja também:
Um
festival andino pela paz
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