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Matéria originalmente publicada pelo editor de Novo Milênio 
no caderno Informática do jornal santista A Tribuna, em 14/1/1997.
Publicado em Novo Milênio em (mês/dia/ano/horário): 10/13/01 23:17:48
Peru: um país entre a guerra e a paz 

Ação do MRTA no Peru mostra o ressurgimento desses grupos, agora na Net

Toda ação terrorista é condenável como crime contra a humanidade, e inaceitável desde a perspectiva de que os fins, por mais nobres que sejam, não justificam os meios. Mas, o terrorismo descobriu a mídia, e embora existam facções empregando a violência pura e simples, até contra objetivos inocentes, já existem grupos sofisticados, usando todo o seu poder de convencimento e sedução para atrair adeptos às suas causas.

Verdade seja dita, muitos de seus argumentos são corretos, algumas das reivindicações são justas, até existem grupos bem-intencionados e buscando a paz. Mas, se o leitor topar com esse pessoal na Internet, deve redobrar seu cuidado: esses podem ser os mais perigosos. É que justamente uma das técnicas de convencimento consiste em ressaltar certas verdades, entremeá-las com meias-verdades e disfarçar ou ocultar as mentiras através de armadilhas da Lógica, para que sejam aceitas pelos desavisados como se fossem verdades também.

MRTA - No caso do Movimento Revolucionário Túpac Amaru - o nome vem de um líder indígena dos tempos coloniais -, que desde o dia 17 de dezembro ocupou a embaixada japonesa em Lima, fazendo centenas de reféns -, todos os detalhes da ação estão em sua homepage. Nessa página Web, instalada em um provedor dinamarquês e identificada por um número, eles explicam que sua unidade de forças especiais Edgar Sanchez “ocupou militarmente” a residência do embaixador do Japão, numa operação que denominaram “c. Oscar Torre Condesu” e que tem o lema “Rompendo o silêncio, o povo os quer livres’. A operação está a cargo do comandante do MRTA, c.Hemigidio Huerta Loayza (o “c.” é sua abreviatura para “companheiro”).

“Manifestamos que desde a ocupação militar da residência do embaixador do Japão no Peru foram tomadas todas as medidas do caso para respeitar a integridade física e moral das personalidades ali capturadas. Esta ocupação militar realizamos em protesto pela ingerência do governo japonês na vida política de nossa pátria, avalizando em todo momento os métodos de violação aos DDHH (N.E.: direitos humanos) aplicados pelo governo do Sr. Fujimori, assim como sua política econômica que só trouxe consigo maior miséria e fome à maioria do povo peruano”.

Continua: “De igual maneira, dizemos a nosso povo que tivemos de tomar esta medida extrema para preservar a vida de dezenas de militantes e dirigentes de nossa organização que sofrem prisão em meio a condições infra-humanas e a uma política carcerária que busca seu aniquilamento físico e mental, encerrados em verdadeiros cárceres-tumbas - conforme reiteradamente afirma o Sr. Alberto Fujimori com estas palavras: ‘Ali apodrecerão e só sairão mortos’, mostrando uma sanha irracional contra lutadores sociais -, que nos levantamos em armas para lutar pelo bem-estar de nosso povo”.

Essas declarações estão no comunicado número 1, colocado na Internet no próprio dia 17 de dezembro, e onde também constam as exigências para a libertação dos reféns: mudar a política econômica, libertar todos os presos ligados ao MRTA, traslado de guerrilheiros e parte dos reféns à zona guerrilheira nas selvas peruanas (onde seriam libertados), e pagamento de um imposto de guerra. 

No segundo comunicado, dia 20, o grupo anunciou a decisão de libertar incondicionalmente todas as mulheres e crianças, além de pessoas idosas ou com saúde debilitada (“incluídos familiares do próprio senhor Fujimori”). No mesmo dia, foi também colocada na sua página Web uma declaração dos reféns, citando as precárias condições enfrentadas e conclamando governo e MRTA a buscarem uma solução pacífica para o impasse. Desde então, foram emitidos mais dois comunicados, também via Internet.

Apoios - Além das páginas em castelhano existentes na Dinamarca, o MRTA conta com uma página em inglês, a “Voz Rebelde Internacional”, que apesar de sediada num provedor universitário norte-americano se apresenta como página oficial do MRTA na Europa. Ali há inúmeros links para textos e entrevistas publicados em todo o mundo sobre esse movimento, videoclips do comando guerrilheiro preparando a invasão da embaixada japonesa, fotos e até a maquete da embaixada, mapa de localização (assinado pela Associated Press...) e outros detalhes. 

Há uma página que analisa os diversos movimentos guerrilheiros no mundo, em http://dubhe.cc.nps.navy.mil/~gmgoncal/, e que no momento está sem os links para essas análises, mas quem acrescentar o sufixo /tupac.htm conseguirá ver, por exemplo, as informações sobre o MRTA - “tradicional movimento revolucionário marxista-leninista formado em 1983 (...) Atividades: bombas, emboscadas, sequestros, assassinatos. Anteriormente responsável por amplo número de ataques anti-estadunidenses (...)”.

Um panorama da situação na América Latina pode ser visto na transcrição de um documento do Departamento de Estado dos Estados Unidos: “Padrões do Terrorismo Global, 1995” - disponível no Hellenic Resources Network. Embora atualizado até abril de 1996, permite uma visão ampla do problema na região. E quem quiser acompanhar a situação peruana de um ponto-de-vista local, pode acessar o jornal diário peruano La República. Ou pode ver o noticiário internacional da Cable News Network (CNN). Na edição do dia 8, por exemplo, havia até mensagens em vídeo do presidente Fujimori, gravações de contatos por rádio etc.

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