Você confiaria sua empresa nas mãos de uma adolescente
de 15 anos? Você a usaria para atender seus clientes, trabalhando 24x7 sem direito a férias? E um menino de 5 anos, você usaria para
promover seus serviços? Eu uso um menino. E uma adolescente também.
Espere! Não me denuncie por exploração de trabalho infantil e escravo. A adolescente, que acaba de completar 15 anos no Brasil,
chama-se Internet. E o menino, que ajuda a promover meus serviços, chama-se Youtube. Ele tem
só 5 anos.
Sem a Internet eu não poderia trabalhar como trabalho: em home-office, sem visitar prospects para vender, sem
impressos, catálogos ou DVDs para mostrar o que faço, e até sem meu fax, agora aposentado.
Em 1995 eu já usava a Internet. Naquele tempo, conseguir acesso era como fazer interurbano via telefonista. O Youtube veio dez anos
depois, aparecendo para o público no final de 2005. Eu só iria criar um canal ali no
dia 22 de março de 2006.
Quando pensei em criar um podcast para publicar mensagens em áudio, meu filho sugeriu que eu partisse logo para o vídeo,
prevendo a popularização da banda larga. Inspirado por aqueles telefones infantis de lata e barbante, batizei meu canal de
TV Barbante. Ele seria literal e deliberadamente "amarrado com barbante".
Depois de meu primeiro vídeo ir ao ar, um colega consultor me alertou: aquilo iria prejudicar minha imagem profissional. Na sua
opinião, eu deveria contratar um estúdio e produzir vídeos de qualidade, mas expliquei que minha intenção não era tentar ser uma TV
convencional.
Não demorou um mês, e vi que estava no rumo certo: um jornalista do Estado de São Paulo me ligou pedindo uma
entrevista. A matéria era sobre a nova tendência do vídeo na
Internet e minha TV Barbante acabou ganhando destaque em um box de um quarto de página. Sabe quanto custa um quarto de página
no Estadão? Eu também não.
Hoje meus vídeos ajudam a conquistar novos clientes. Recentemente uma pessoa que viu um vídeo em um curso de inteligência
estratégica entrou em contato e acabei contratado por sua organização. A história é sempre de alguém que viu, recebeu um link ou
ganhou uma cópia informal. Sim, meus vídeos podem ser copiados, emprestados e distribuídos à vontade e de graça. Não ganho com eles,
mas eles me ajudam a ganhar.
Foto: captura de tela, por
Mario Persona
Os únicos vídeos com restrições são os de um canal não profissional, "O Evangelho em 3 Minutos", que mantenho nas horas vagas. É vedado seu uso em igrejas,
organizações religiosas, rádios e TVs, para evitar que algum pregador picareta ganhe dinheiro às minhas custas. Mas se ele for
picareta, será que vai respeitar minhas restrições?
Hoje vejo que meu colega consultor estava enganado. Minha carreira não foi prejudicada, muito pelo contrário. Mas se o Youtube não
representou um risco para minha carreira, o mesmo eu não posso dizer em relação à minha vida.
Numa visita aos meus filhos nos Estados Unidos, decidi fazer um vídeo de mim
mesmo enquanto falava e caminhava numa praça em Filadélfia, perto do City Hall. De repente, do nada, apareceu um sujeito que
achou que eu estava apontando a câmera para ele. O cara começou a gritar dizendo que ia atirar em mim se eu continuasse gravando.
Ele estava vestido com uma capa longa, dessas de agente secreto. Fiquei apavorado.
O que aconteceu depois? Bem, eu estou aqui, não estou? Mas, se não tivesse baixado minha câmera, talvez tivesse conquistado uma
notoriedade maior do que a TV Barbante consegue me dar com mais de 1,6 milhão de views desde 2006. Na comemoração dos 5 anos
do Youtube eu estaria sendo homenageado como sua primeira vítima fatal.