NOTÍCIAS 2010
Leu o livro? Vi.
Mario Persona
[*]
Assim como o disco há muito não gira na vitrola, o
livro convencional pode virar página virada. No atual andar da carruagem eletrônica, logo deixaremos de ler em papel para ler
e-papel. Mas não se preocupe. O livro impresso, que você gosta de tocar, folhear e cheirar, continuará existindo. Como aconteceu
com o disco de vinil.
Ele continuou girando mesmo depois da invenção da fita cassete. E esta ainda girou um bocado com o CD ao lado. Agora o CD convive
com os iPods e iPobres de MP3. Exceto no meu carro. Troquei o tocador de CDs por um tocador de cartões de memória.
No Natal de 2009 o e-reader Kindle foi o presente mais presenteado do site da Amazon. No mesmo período a empresa vendeu mais
e-books para serem lidos no mesmo Kindle, do que livros impressos no mesmo papel. A coisa está mudando mesmo.
Talvez você não esteja entre os mais saudosistas, que gostam de cheirar cola, tinta e papel. Seu argumento é mais racional, tipo "o
Kindle é caro". Sim, ele custa hoje nos EUA o mesmo que uns 25 livros de papel, e a Amazon vende o livro digital por quase o preço
do impresso.
Mas, apesar de eu e você não sabermos ler o chinês, o chinês sabe ler essa tendência e não vai demorar para você encontrar um
e-reader na caixa de sucrilhos (N.E.: marca de flocos de milho açucarados). De graça, contanto que
você não se importe de ter uma animação do personagem da marca virando a página para você.
O e-reader tem um imenso potencial como plataforma promocional. Os e-books poderão ser baixados a preço irrisório ou
até de graça, patrocinados por alguma marca. É claro que entre um capítulo e outro o fabricante irá inserir um comercial em texto,
áudio ou vídeo.
Quer mais? Que tal ler um romance ambientado na Itália enquanto escuta o Andrea Bocelli? Já pensou se a página que descreve os
apaixonados na praia vier com som de ondas e gaivotas? O autor poderia economizar toda a tinta que gasta para descrever os sons de
cada cenário.
Agora aguente, pois quando começo a viajar na maionese, tentar me impedir é debalde. Feche os olhos e deixe que o e-reader
leia para você na voz de seu artista predileto. O futuro do livro é voltar à sua essência de contador de histórias. Aperte o botão "Fast-Forward"
e seu e-reader do futuro irá interpretar o texto como o seu cérebro hoje faz.
Quando você pensa no livro que leu, não é do texto que você se lembra, mas das imagens e sensações que o seu cérebro criou em sua
tela mental. Acaso não é a mesma coisa que o seu videogame faz? Ele lê um texto - a linguagem de programação - e cria as cenas. O
e-reader de amanhã transformará um mero texto em uma história visual tão realista quanto "Avatar".
Impossível? Não creio. O problema é que avaliamos as coisas por nossos paradigmas atuais. As novas gerações podem pensar de um modo
muito diferente. Imagine a Dona Escolástica, com as mãos ressecadas de giz, tentando ler para seus alunos no Kindle que ganhou do
bisneto.
Péssimo! - comenta ela. - Muito pior do que o livro impresso!
Aí o aluno todo emo, que nunca leu um livro impresso na vida, lê algumas linhas através de uma fresta de seu cabelo, e exclama:
- Meu! Que maneiro! Muito melhor que a tela de meu notebook!
A velha geração compara com o papel, a nova com a tela. O que é interessante para a Dona Escolástica pode não interessar meu neto de
dois anos, e vice-versa.
Outro dia, em um zoológico dos EUA, o garoto esteve frente a frente com dois ursos enormes. Apenas alguns milímetros de vidro à
prova de balas separavam a criança das garras dos animais, em um ambiente que custou milhares de dólares para entreter grandes e
pequenos.
Ao contrário dos adultos, meu neto ficou o tempo todo olhando para um ventilador que girava preguiçosamente no teto do lugar.
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Mario Persona é escritor, palestrante e consultor de comunicação e marketing.
Amazon Kindle.
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