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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 08/22/09 09:31:25

 

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NOTÍCIAS 2009

Sou Tecnobrega

Mario Persona [*]

Veja você, eu era tecnobrega e não sabia! Não sabe o que é tecnobrega? Trata-se de uma grande sacada para a produção, promoção, venda e distribuição de conteúdo artístico e intelectual. Coisa de Brazil com "z" na literatura lá fora.

Junte tecnologia, pirataria, mau gosto e criatividade, bata com muito ritmo, e o tecnobrega está pronto pra inglês ver. O modelo de negócio é citado no livro "Free - O futuro dos preços", por Chris Anderson, editor-chefe da revista Wired e também autor de "A Cauda Longa". A versão em áudio do livro "Free" é... FREE! (link abaixo)

A idéia não é nova. Há dez anos escrevi sobre o que aprendi com Kevin Kelly, co-fundador da Wired, que também entrevistei na época. Funciona assim: quanto mais rara a coisa, mais cara fica. Por outro lado, quanto mais abundante, mais o seu preço tende a zero. ZERO! Respire fundo e você vai entender.

Quando alguns artistas paraenses perceberam que o atual modelo de distribuição de música estava no bico do corvo, decidiram inovar. No passado o artista só ganhava quando tirava a viola do saco, porém a tecnologia permitiu que ele e a viola ficassem em casa, enquanto a música viajava e faturava no som gravado.

E foi nesse céu de brigadeiro que a indústria fonográfica voou enquanto a tecnologia de gravação e distribuição estava restrita a quem podia pagar por ela. Mas alegria de rico também dura pouco, e a abundância tecnológica fez esse custo tender para... ZERO!

Isso mesmo, não custa nada para o carinha copiar a música e passar para trocentos amigos na Internet. A mesma tecnologia que mandou o artista enfiar a viola no saco e ficar em casa, avisou que agora é hora de cair na estrada, como no tempo dos menestréis. É mudar ou morrer.

Tecnobrega é a alternativa viável para os novos tempos. O músico grava seu som num estúdio caseiro ou alugado e entrega o CD para o camelô piratear à vontade. Ok, foi resolvida a questão da gravação e distribuição a preço de banana, mas o que o artista ganha com isso? Nada, mas fica conhecido.

O dinheiro vem das apresentações ao vivo, que também são gravadas em DVDs e CDs e entregues... isso mesmo, ao camelô. A cada volta da roda o artista é mais valorizado e mais solicitado, e pode cobrar mais pelo show. Alguém gravou um vídeo e colocou no Youtube? Maravilha! Tem carinha pirateando o som adoidado na rede? Melhor ainda para o artista tecnobrega!

Sem querer querendo, descobri que também sou tecnobrega. Não toco e nem canto, mas escrevo, e há mais de dez anos incentivo a cópia livre e descarada de minhas crônicas. Meus textos também viram locuções caseiras em vídeo e áudio, além de alguns de meus livros já estarem disponíveis para download. FREE! Onde eu ganho? Na venda de meu trabalho ao vivo e em cores em palestras e treinamentos.

- Alô? Mario Persona? Recebi de um amigo um [texto, vídeo, áudio] de sua autoria. Você pode vir à minha empresa falar sobre aquele assunto?

É claro que vou. Só em 2008 enviei 535 propostas a solicitações assim sem fazer um único "cold call", que é quando o vendedor toma a iniciativa de ligar ou visitar um possível comprador. Este número não inclui solicitações de curiosos, mas só de empresas realmente interessadas, e equivale a enviar uma proposta e meia por dia. Obviamente só envio as propostas inteiras.

Se fechei todas? Nem em sonho. Mas se considerar que não gastei um centavo com propaganda e a promoção foi feita no camelódromo web, posso me considerar um tecnobrega de carteirinha. Porém as semelhanças terminam aí. No mais, que me perdoem os amantes do gênero, eu ainda acho a música tecnobrega cara.
 


Para saber mais:
"Tecnobrega: O Pará reiventando o negócio da música" - Livro grátis para download em http://virtualbib.fgv.br/dspace/handle/10438/2653

"Free - The radical future of prices" - Audiobook grátis em inglês do livro de mesmo nome: http://www.wired.com/techbiz/it/magazine/17-07/mf_freer

[*] Mario Persona  é escritor, palestrante e consultor de comunicação e marketing.