NOTÍCIAS 2009
Sou Tecnobrega
Mario Persona [*]
Veja
você, eu era tecnobrega e não sabia! Não sabe o que é tecnobrega? Trata-se de uma grande sacada para a produção, promoção, venda e
distribuição de conteúdo artístico e intelectual. Coisa de Brazil com "z" na literatura lá fora.
Junte tecnologia, pirataria, mau gosto e criatividade, bata com muito ritmo, e o tecnobrega está pronto pra inglês ver. O modelo de
negócio é citado no livro "Free - O futuro dos preços", por Chris Anderson, editor-chefe da revista Wired e também
autor de "A Cauda Longa". A versão em áudio do livro "Free" é... FREE! (link abaixo)
A idéia não é nova. Há dez anos escrevi sobre o que aprendi com Kevin Kelly, co-fundador da Wired, que também entrevistei na
época. Funciona assim: quanto mais rara a coisa, mais cara fica. Por outro lado, quanto mais abundante, mais o seu preço tende a
zero. ZERO! Respire fundo e você vai entender.
Quando alguns artistas paraenses perceberam que o atual modelo de distribuição de música estava no bico do corvo, decidiram inovar.
No passado o artista só ganhava quando tirava a viola do saco, porém a tecnologia permitiu que ele e a viola ficassem em casa,
enquanto a música viajava e faturava no som gravado.
E foi nesse céu de brigadeiro que a indústria fonográfica voou enquanto a tecnologia de gravação e distribuição estava restrita a
quem podia pagar por ela. Mas alegria de rico também dura pouco, e a abundância tecnológica fez esse custo tender para... ZERO!
Isso mesmo, não custa nada para o carinha copiar a música e passar para trocentos amigos na Internet. A mesma
tecnologia que mandou o artista enfiar a viola no saco e ficar em casa, avisou que agora é hora de cair na estrada, como no tempo
dos menestréis. É mudar ou morrer.
Tecnobrega é a alternativa viável para os novos tempos. O músico grava seu som num estúdio caseiro ou alugado e entrega o CD para o
camelô piratear à vontade. Ok, foi resolvida a questão da gravação e distribuição a preço de banana, mas o que o artista ganha com
isso? Nada, mas fica conhecido.
O dinheiro vem das apresentações ao vivo, que também são gravadas em DVDs e CDs e entregues... isso mesmo, ao camelô. A cada volta
da roda o artista é mais valorizado e mais solicitado, e pode cobrar mais pelo show. Alguém gravou um vídeo e colocou no
Youtube? Maravilha! Tem carinha pirateando o som adoidado na rede? Melhor ainda para o artista tecnobrega!
Sem querer querendo, descobri que também sou tecnobrega. Não toco e nem canto, mas escrevo, e há mais de dez anos incentivo a cópia
livre e descarada de minhas crônicas. Meus textos também viram locuções caseiras em vídeo e áudio, além de alguns de meus livros já
estarem disponíveis para download. FREE! Onde eu ganho? Na venda de meu trabalho ao vivo e em cores em palestras e
treinamentos.
- Alô? Mario Persona? Recebi de um amigo um [texto, vídeo, áudio] de sua autoria. Você pode vir à minha empresa falar sobre aquele
assunto?
É claro que vou. Só em 2008 enviei 535 propostas a solicitações assim sem fazer um único "cold call", que é quando o vendedor
toma a iniciativa de ligar ou visitar um possível comprador. Este número não inclui solicitações de curiosos, mas só de empresas
realmente interessadas, e equivale a enviar uma proposta e meia por dia. Obviamente só envio as propostas inteiras.
Se fechei todas? Nem em sonho. Mas se considerar que não gastei um centavo com propaganda e a promoção foi feita no camelódromo
web, posso me considerar um tecnobrega de carteirinha. Porém as semelhanças terminam aí. No mais, que me perdoem os amantes
do gênero, eu ainda acho a música tecnobrega cara.
Para saber mais:
"Tecnobrega: O Pará reiventando o negócio da música" - Livro grátis para download em
http://virtualbib.fgv.br/dspace/handle/10438/2653
"Free - The radical future of prices" - Audiobook grátis em inglês do livro de mesmo nome:
http://www.wired.com/techbiz/it/magazine/17-07/mf_freer
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Mario Persona é escritor, palestrante e consultor de comunicação e marketing.
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