NOTÍCIAS 2009
A crise existe ou estamos esperando por ela?
As oportunidades trazidas por períodos adversos devem ser
aproveitadas para dar impulso aos negócios
Dieter Kelber [*]
Desde o último trimestre de 2008, os brasileiros têm
tido três tipos de sensação em relação à crise: 1 - estamos entrando nela; 2 - ela já faz parte de nosso cotidiano; 3- fatalmente
ela chegará até nós. Os otimistas, em número menor cada vez menor, afirmam que a turbulência não atingirá o País. Na realidade, já
vimos este filme outras vezes e as conseqüências foram sempre as mesmas: diminuição da atividade econômica, redução da força de
trabalho e empresas fechando as portas ou sendo absorvidas por outras. Os números estatísticos atuais mostram uma conjuntura muito
parecida.
Não importa a origem e a complexidade da crise, as formas de combater suas conseqüências são bastante conhecidas, especialmente para
os executivos, que desde o início dos anos 80 vêm passando por todas elas. Com inflação ou sem ela, com juros altos ou baixos, com
recessão ou não, ações imediatas devem ser tomadas para não colocar em risco a sustentabilidade das corporações nos próximos anos.
As oportunidades trazidas por essas ocasiões devem ser aproveitadas para dar impulso aos negócios. Ora, se o mercado está em franca
mudança, nada mais lógico e necessário que um ajuste no modelo de negócio, na estratégia e nos processos operacionais.
Toda crise tem uma resistência própria, diferente em cada país. O ano de 2009, pela situação de liquidez financeira mundial
apertada, terá alguns sobressaltos no mundo inteiro. Mas não sucumbiremos. Afinal, as reservas cambiais nos ajudarão na medida do
possível e, se olharmos para 2010, ano de eleições, veremos que historicamente sempre há otimismo e incremento nos negócios com o
governo. O lado ruim, entretanto, é que provavelmente em 2011 teremos outro aperto financeiro (algo corriqueiro desde a volta das
eleições livres).
Estaremos, nós executivos, preparados para aproveitar as oportunidades de negócios nascidas nessas
épocas de oscilação econômica? Estarão os modelos de negócios, estratégias e processos ajustados e prontos para abocanhar novas
fatias de mercado? Estarão as organizações (inclusive no que tange ao capital humano) e sistemas aptos a reagir e operar de forma
aderente com os processos otimizados para a nova situação?
Temos acompanhado a reação de várias empresas do País, e as ações são sempre bastante ortodoxas. Começam sempre com uma redução de
custos, como se tal ação não fosse importante mesmo em tempos de bonança. Dentro da prática comum, são cortados custos linearmente,
independentemente da produtividade de cada processo onde se aplica o corte. Cancelam-se treinamentos, eventos, viagens, novas
contratações, promoções, aumentos salariais, investimentos, ações de mercadologia etc., sem uma análise mais seletiva e profunda nos
processos de negócios.
É evidente que otimizar custos deve ser uma preocupação sempre, e não só em momentos de crise.
Também devemos sempre pensar nos valores que podem ser vistos e sentidos pelos clientes. De nada adiantam ações de
redução de custos se, concomitantemente, não houver uma análise do modelo de negócio, da estratégia e dos processos.
Enquanto diversas empresas optam por reduzir investimentos, outras, atentas às oportunidades em novos (ou velhos) mercados,
aproveitam os baixos preços de ações, equipamentos e serviços, adequando-se corretamente ao novo modelo de negócios ou estratégia
para o curto e médio prazo. A competição continua e só sobreviverão os melhores. Não importa o tamanho. A história sempre mostra que
grandes empresas mal administradas quebram tanto quanto as pequenas. Apenas com mais barulho e maior dano à sociedade como um todo.
Afinal, em qual crise você se encontra no momento? A do passado, a do presente ou do futuro?
A globalização não tende a acabar, pelo contrário, ela se tornará cada vez mais intensa em todos os sentidos, mas principalmente na
vertente dos mercados, ou seja, de uma economia globalizada em que todos contribuem para o equilíbrio e o desequilíbrio
simultaneamente.
Ter um modelo de negócio e uma estratégia que não leva isso em consideração é correr um grande
risco. A correta opção entre um caminho ortodoxo ou heterodoxo fará a diferença para alcançar-se o sucesso.
Independentemente da escolha, lembre-se de que, nos dias de hoje, inovar e mudar são premissas
básicas para uma possível possibilidade de sobrevivência. Não confie na vida eterna da sua empresa. Inovação e atualização farão a
real diferença.
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Dieter Kelber é pesquisador,
consultor e Diretor Executivo do Grupo Insadi, treinamentos e consultoria em gestão
empresarial.
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