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NOTÍCIAS 2005
O poder do entusiasmo na empresa

Mario Persona [*]

Ontem assisti a um vídeo com uma entrevista minha em um canal de televisão. Foi engraçado lembrar que, pouco depois da última pergunta, o entrevistador começou a dar uns tapinhas em minha perna, fora do campo de visão da câmera, para avisar que o tempo estava esgotado. Precisei reformular rapidamente minha resposta para terminar da melhor maneira possível. O que não deu para responder decidi guardar para uma próxima.

Já estou sentindo 2005 dando tapinhas em minha perna. Você deve estar sentindo o mesmo. É hora de terminar, esquecer o que passou, aproveitar o que ficou e olhar adiante. E é com isto em mente e com as palavras de Paulo, de Tarso, que gostaria de terminar este ano:

"Uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão diante de mim, prossigo para o alvo."

Você tem o mesmo alvo que ele? Que alvo? Aqueles que nasceram de novo saberão responder. Se o seu alvo durar apenas 2006, é melhor buscar algo melhor e maior. Algo eterno. Porque hoje é o fim do ano que dá tapinhas em nossa perna. Amanhã será o fim de nossa carreira aqui. Seria bom se todos terminássemos nossa senda com as mesmas palavras do mesmo Paulo: "Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé."

Deixo aqui registrado meu sincero agradecimento por você ter me acompanhado no ano que termina. Espero ter agregado algo de útil. E, para encerrar, deixo aqui a íntegra do que falei sobre o poder do entusiasmo na empresa, além de mais uma meia dúzia de novas entrevistas no final da coluna do meio em www.mariopersona.com.br.

Boas festas e um feliz ano novo.

Mario Persona


Fui entrevistado pelo Jornal Exclusivo para uma matéria sobre a importância do entusiasmo na empresa. A íntegra do que eu disse você encontra aqui.

Jornal Exclusivo - Como o entusiasmo contamina as pessoas e leva ao sucesso?

Mario Persona - A palavra motivação significa motivo para a ação, uma razão da pessoa realizar algo. Esse motivo pode ser o entusiasmo, mas é preciso que ele tenha um fundamento sólido ou não irá durar. Entusiasmo é como estouro de boiada - um boi corre e todos correm com ele, sem nem mesmo saber a razão. É claro que é possível criar um clima de entusiasmo e até motivar pessoas apenas por estímulos passados pelo ambiente ou pelo contato, mas uma empresa precisa de algo mais do que apenas entusiasmo para motivar. É preciso algo real.

Normalmente somos motivados por dinheiro, prazer e prestígio. É claro que as teorias motivacionais incluem vários desdobramentos disso, ou podem chamar o que chamo de dinheiro por necessidades físicas, de sobrevivência ou algo assim. Dinheiro resume o que precisamos para garantir nossa subsistência. Prazer é outro elemento motivador e pode ter também diversos significados, como conforto, sensações, recordações, por exemplo. Prestígio aparece em algumas teorias como necessidade de auto-afirmação ou de realização, entre outras idéias.

Mas resumindo tudo em dinheiro, prazer e prestígio fica mais fácil de entender e de aplicar numa empresa. Para motivar as pessoas, portanto, é preciso ter em mente que será preciso oferecer uma ou mais dessas coisas como prêmio ou recompensa. Mas antes é importantíssimo fazer um diagnóstico para não oferecer o elemento motivador errado. Por exemplo, às vezes pode parecer que a causa de descontentamento de um colaborador seja seu salário.

A empresa aumenta o salário e ele continua desmotivado, porque ainda que qualquer pessoa goste de ganhar mais, ele não está fazendo o que gosta, não tem prazer no que faz. Em outras situações a empresa promove a pessoa a um cargo de maior destaque, dá mais prestígio, quando ela preferia trabalhar nos bastidores. Portanto, é bom que seja feito um diagnóstico e só então determinar qual será o elemento motivador. Quando isso é feito corretamente, cria-se um entusiasmo que tem fundamento e não é apenas uma emoção momentânea.

É claro que o papel do líder e de sua capacidade de conceituar metas é importantíssimo para gerar isso. Soldados vão à luta com o entusiasmo que o líder passa e a motivação que na maioria das vezes não é nem dinheiro, nem prazer, mas o prestígio gerado por um sentimento de conquista, bravura, coragem e coisas assim.

Jornal Exclusivo - Como a empresa pode evitar que um colaborador descontente e desmotivado contamine os outros integrantes da equipe?

Mario Persona
- É preciso descobrir qual a causa do descontentamento e procurar saná-la. Tudo começa no diagnóstico, como fazem os médicos. Na observação do comportamento, tentando identificar o que está faltando para aquele colaborador. Às vezes é uma questão fácil de resolver, só mudando seu local de trabalho, o tipo de função que exerce ou até mesmo dando a ele as ferramentas adequadas. Lembra-se do prazer do qual falei? Uma pessoa que tem prazer no que faz ou trabalha em um ambiente e com as ferramentas certas será motivada a produzir mais.

Porém há situações em que o problema não é nem mesmo de motivação. Há casos de colaboradores que ganham relativamente bem, trabalham nas melhores condições e representam uma marca ou atuam em um posto que lhes dá o prestígio que muitos gostariam de ter. Ainda assim são pessoas que vivem se queixando, gerando desavenças entre os colegas, criticando a empresa e seus superiores, gerando conversas a boca pequena nos cantos e recônditos da empresa. É claro que uma pessoa assim está minando os ânimos e a capacidade produtiva dos outros.

Quando isso acontece, o problema está no caráter e na atitude e pode ser que essa pessoa não sirva para trabalhar nem ali nem em lugar nenhum. Esse tipo de câncer deve ser extirpado de uma equipe. Nem todas as pessoas são capazes de trabalhar de forma harmônica em uma equipe pois, ainda que tragam toda a bagagem técnica ou de conhecimento necessária, não são pessoas que têm uma atitude para com o trabalho na forma como a empresa deseja que seja desempenhado.

Às vezes a empresa precisa buscar ajuda externa para motivar sua equipe ou mesmo injetar idéias novas. Um dos grandes perigos que a empresa corre é de estagnação de sua força de trabalho, quando ela permanece a mesma ou é reduzida, sem a entrada de sangue novo ou a interferência de consultores externos trazendo novas idéias.

Pense naquelas famílias reais da antiga Europa, cujos membros só se casavam entre si, sangue real com sangue real. Era grande o número de pessoas feias ou com problemas causados pela consangüinidade. O mesmo princípio é conhecido entre criadores, que buscam inseminadores de fora para fortalecer o plantel. A inseminação com idéias vindas de fora é importantíssima para a empresa não correr o risco de ficar andando em círculos sem enxergar o que está acontecendo de novo no mercado.

Jornal Exclusivo - Quais os cuidados que o líder deve ter para não deixar a equipe desmotivada?

Mario Persona
- Primeiro deve liderar pelo exemplo. Muitos ainda lideram dentro do estilo "vaqueiro", tocando a boiada aos berros, quando o melhor estilo e que traz melhores resultados é o estilo "pastor", que caminha na frente de seu rebanho mostrando o caminho.

Outro cuidado é com a transparência. O líder não pode querer uma equipe de mentirosos que mintam para clientes e fornecedores e, ao mesmo tempo, de pessoas leais e honestas, que só falem a verdade dentro da empresa. Se criar uma cultura de mentira irá sofrer as conseqüências dessa cultura na própria pele da empresa.

Por sinal, o melhor caminho para criar uma equipe de mentirosos é fazendo repreensões e humilhando seus colaboradores diante de toda a equipe. Com o tempo todos aprendem a ser desonestos, malandros e mentirosos, mascarando resultados, escondendo a verdade como forma de evitar o vexame de uma reprimenda pública.

Com o achatamento da pirâmide de comando, para a redução dos custos, diversos níveis gerenciais e de liderança estão sendo eliminados e maior poder é dado à base da pirâmide para tomar decisões. Nem todas as empresas estão prontas para isso, mas é preciso se preparar para uma difusão horizontal e lateral do comando.

Para entender melhor isso, imagine que o comando parta do topo da pirâmide descendo verticalmente até apenas um ou dois níveis, mudando então seu rumo horizontalmente. Então cada colaborador recebe sua carga de "empowerment" ou delegação de poder de ação e decisão, tornando-se um líder quase que informal em seu círculo de relacionamento.

Delegar é a palavra de ordem em uma organização assim, e os líderes que não se sentirem à vontade para delegar provavelmente ficarão de fora dessa configuração que é adotada por um número cada vez maior de empresas. O líder verdadeiro deve se ocupar das tarefas que acionem outras e gerem um efeito dominó envolvendo muitas pessoas e processos, delegando o resto.

Jornal Exclusivo - Que dicas daria para o colaborador desmotivado? Por que?

Mario Persona
- A primeira dica é que comece a enxergar seu empregador como seu cliente. O próprio termo "colaborador", cada vez mais utilizado em lugar de empregado ou funcionário, é coerente com uma nova configuração do ambiente de trabalho, onde as atividades são cada vez mais terceirizadas a ponto de você não saber mais quem é empregado e quem é terceirizado em uma equipe trabalhando dentro de uma mesma empresa.

O terceirizado tem bem claro em mente que a empresa para a qual trabalha é cliente e ele será substituído caso não dê resultado. Todos deveriam enxergar a coisa assim. Quando você tem isso em mente, começa seu trabalho de investir em sua própria carreira como um autônomo investiria na sua ou um fabricante em seu produto. O objetivo é cativar o cliente para não perder seu lugar no mercado.

[*] Mario Persona é escritor, palestrante e consultor de comunicação e marketing. Texto disponível em seu site.