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NOTÍCIAS 2004

Mensagem a um formando

P R E Z A D O   L E I T O R

Meu filho acaba de concluir seu curso de Ciência da Computação e parte para uma nova etapa em sua vida. Como nesta época do ano muitos jovens estão passando pela mesma experiência, decidi juntar uns conselhos de quem vai chegando perto de meio século de vida.

Bem, ainda falta um ano para os cinqüenta, mas falar em meio século parece dar mais peso à idade, não? A tônica do que quero dizer é que o fim de um curso é apenas um novo começo. Espero que o que digo a meu filho sirva também para o seu, ou para os jovens que conhecer. Que tal enviar uma palavra de encorajamento a tantos que empenharam bons anos de suas vidas nos estudos? Eles merecem parabéns pelo esforço.

Mário Persona (*)
Colaborador

Meu filho,

Você acaba de decolar de seu pequeno planeta acadêmico para uma viagem através do imenso universo profissional. Da atmosfera previsível do ensino formal, você parte para uma odisséia de descobertas nas galáxias do aprendizado informal.

Sua formatura foi a plataforma de lançamento, o ingresso em nova carreira, mais dinâmica, mais veloz. Seu diploma é apenas o zero de sua contagem regressiva. Se olhar pela escotilha, verá outros viajando ao seu lado. É melhor acelerar.

Profissionalmente, você acaba de nascer, mas nunca terminará de crescer. E não apenas de crescer, mas também de mudar. Ao sair da faculdade irá descobrir caminhos que antes nem imaginava trilhar. Serão melhores? Sim, se você estiver disposto a sempre aprender novas maneiras de caminhar.

Comigo foi assim, você sabe. O diploma da faculdade de arquitetura e urbanismo foi parar na gaveta enquanto executava planos movidos a ideais. Foram três anos no interior de Goiás, lecionando numa escola que me ensinou muitas coisas que eu precisava aprender. Só depois é que voltei a ser o arquiteto da formação, o que também não durou muito.

Virei vendedor, profissão que todo profissional deveria ter. Por que será que há faculdades que não ensinam a vender? Depois fui comprador, negociador e editor. Enquanto você crescia fisicamente, eu crescia profissionalmente até chegar à atual configuração de escritor, palestrante, professor e consultor. Tornei-me multitarefa, como você poderá um dia vir a ser.

Agora você tem muitos desafios pela frente. O conselho que lhe dou, como pai e como amigo, é que seja um porquinho na forma de pensar. Estou falando daquele porquinho do antigo comercial de um frigorífico na TV. Quando lhe perguntavam, "o que você quer ser quando crescer?", o porquinho respondia alegremente: "Salsicha!"

Parecia um absurdo responder com tamanha motivação, já que aquilo significaria seu sacrifício. Ele precisava morrer para aquela vida de porco antes de se transformar em algo útil. Sei que você já captou a mensagem.

Se não estiver disposto a se sacrificar, jamais será alguém útil, para si, para o próximo ou para Deus. É preciso estar disposto a sacrificar continuamente o que você é, o que sabe e o que faz, antes que consiga transformar seu ser, seu saber e seu fazer em algo de valor. Mesmo porque, tudo o que você é, sabe ou faz não são coisas estáticas, mas dinâmicas, que estão sempre a mudar. Se começar a se orgulhar muito do que é, sabe e faz, é provável que não queira mudar.

Mas espere! Não leve o exemplo ao pé da letra. Não permita que a vida e as circunstâncias o transformem numa salsicha qualquer. Salsichas são todas iguais, têm todas elas o mesmo gosto e vivem amarradas umas às outras. Não seja assim.

Não se deixe amarrar por compromissos que comprometam suas crenças e seus ideais. Jamais permita que negociem seu caráter, ou levará uma vida de cachorro quente. Seja diferente, mantenha seus princípios, custe o que custar. Ouse viver assim, se quiser deixar um exemplo. Lembre-se de que reputação é algo que custa uma vida para ganhar e alguns minutos para perder.

Nunca perca seu lado infantil. Continue sendo a criança que existe em você. A criança que sonha, que acredita, que vê um futuro brilhante pela frente. Seja assim, mesmo naqueles momentos quando se sentir pequeno diante dos desafios. Por esta razão, além da disposição para o sacrifício, quero que se lembre mais uma vez do diálogo do porquinho do comercial da TV: "O que você quer ser quando crescer? Salsicha!" Percebeu? Bem-humorado, ele acreditava que podia crescer. Você também.

(*) Mário Persona é consultor, escritor e palestrante, além de autor de livros sobre comunicação e mercadologia. Esta crônica faz parte dos temas apresentados em suas palestras. Edita o boletim eletrônico Crônicas de Negócios e mantém endereço próprio na Web, onde seus textos estão disponíveis.