NOTÍCIAS 2003
O futuro da cadeia de abastecimento
Roberto Matsubayashi (*)
Colaborador
Imaginem um portal nos supermercados, em que todos os produtos
contidos no carrinho
sejam registrados automaticamente, sem qualquer manuseio por parte do consumidor e do profissional do caixa. Esta cena será
rotineira no futuro, resultado de uma nova revolução na identificação de produtos, com impacto direto no cotidiano das pessoas e nos
processos logísticos de toda a cadeia de abastecimento. Trata-se da tecnologia de identificação por radiofreqüência, a RFID (Radio
Frequency Identification, também conhecida internacionalmente como Intelligent Tag ou Smart Tag).
A leitura das identificações de cada produto é feita por antenas, que energizam as etiquetas
de radiofreqüência. Estas transmitem as informações já gravadas, que são decodificadas e registradas. Uma característica desta
tecnologia é permitir a leitura sem o contato visual direto.
A tecnologia de radiofreqüência não é nova. Já se pode observá-la em sistemas de controle de
acesso e pedágios. A sua aplicação revolucionária na cadeia de abastecimento é que representará a grande novidade. Porém, ainda há
sensíveis desafios a serem vencidos para a sua adoção em larga escala. O primeiro é o custo alto, que hoje ainda encareceria os
produtos. As etiquetas de radiofreqüência — apesar de seus custos já terem diminuído para cerca de cinqüenta centavos de dólar e
haver projeções de que cheguem a cinco centavos — ainda são onerosas, em especial nos produtos de baixo valor.
O segundo desafio crucial é a padronização, principal fator do sucesso do código de barras
em todo mundo. A linguagem praticamente universal do código EAN/UCC facilitou a integração de todas as cadeias produtivas, de
indústrias, atacadistas, distribuidores e varejistas, culminando com o consumidor, para o qual o lado visível de todo esse processo
tecnológico traduz-se pela agilidade, mais conforto e segurança na hora da compra. A radiofreqüência, porém, ainda enfrenta
dificuldades para sua padronização internacional: é necessário determinar o espectro de freqüências de operação, fator que depende
de órgãos regulatórios de cada país; padrão para a especificação técnica da interface de leitura entre a leitora e o registro; como
os dados serão organizados no registro, fator importante para a interface com os programas aplicativos.
Já existem iniciativas mundiais, em fóruns como a ISO, EAN (projeto GTAG) e ePC do AutoID
Center, voltadas ao estudo da padronização. Em paralelo, há vários grupos estudando e desenvolvendo modelos conceituais de
aplicação.
Grande potencial - Solucionadas as questões relativas ao custo e à padronização, a
revolução da radiofreqüência na cadeia de abastecimento irá desencadear-se progressivamente. Algumas atividades identificadas como
aquelas de alto potencial com a continuidade da pesquisa e desenvolvimento são:
Eliminar a contagem
e recontagem de produtos na cadeia de suprimentos. Depósitos, caminhões, áreas de retaguardas e gôndolas podem ter instalados
antenas que podem automática e continuamente rastrear os produtos e manter a verdadeiro controle perpétuo de inventário.
Monitoramento
contínuo do estoque de produtos a cada ponto na cadeia de suprimento que pode virtualmente eliminar a falta de estoques gerando
reposições automaticamente. Esta monitoração permitirá também medir anomalias na cadeia, o que aumentará significativamente a
habilidade de identificar a subtração ou a introdução de produtos falsificados.
Facilitar a
localização de produtos em processos de recall.
Permitir a compra
pelo consumidor em caixas automatizados que não necessitam de descarga e carga do carrinho de compras após identificar e superar
todos os obstáculos que ainda necessitam ser superados.
Além dos benefícios diretos para o consumidor, para as empresas nas operações de compra e
venda, na entrega da indústria para atacadistas, distribuidores e varejistas, operações com produtos que requeiram cuidados
especiais (temperaturas extremas – frio ou quente, tóxicos, que necessitem de ambiente inerte etc.) poderão contar com o benefício
de ser identificados à distância, dentro dos compartimentos que os isolam.
Uma segunda onda poderá ocorrer com o barateamento das leitoras de radiofreqüência,
estendendo os benefícios desta tecnologia até mesmo às casas. Alguns exemplos de funcionalidades com a incorporação desta
tecnologia: geladeiras que controlam o estoque; toucador que indica diariamente sobre o remédio que se deve tomar, a posologia e
alerta caso a pessoa pegue o medicamento errado; o armário que irá identificar a roupa e sugerir alguma outra peça, de acordo com a
agenda da pessoa e/ou as previsões meteorológicas...
A terceira onda será o desenvolvimento de novos campos de aplicação, como a combinação da
radiofreqüência com sensores. Estes dispositivos podem ser construídos para monitorar uma ou várias variáveis ambientais, garantindo
a integridade dos produtos diante da variação de temperatura, umidade relativa do ar e níveis de poluição. Também será possível
estabelecer parâmetros para registrar armazenagem ou transporte em temperaturas muito altas ou baixas, exposição a produtos tóxicos,
reagentes etc.
Como ocorreu com a Internet, a revolução da radiofreqüência será gradual e progressiva. As
empresas irão experimentar modelos, processos, alternativas logísticas e investir nos sucessos. Nesse processo, a grande prioridade
— essencial e indiscutível — é construir uma ponte segura entre a realidade atual e o cenário futurístico da cadeia de
abastecimento. A EAN — entidade multissetorial, sem fins lucrativos, voltada à disseminação das tecnologias de automação — tem
trabalhado na edificação desta ponte, buscando garantir a compatibilidade dos sistemas atuais com os novos. Este trabalho leva em
conta a relação custo-benefício dos investimentos já realizados na tecnologia atual. Afinal, não se pode avançar ao futuro sem um
firme compromisso e responsabilidade com a realidade presente.
(*) Roberto Matsubayashi é gerente de solução de
negócios da EAN Brasil. |