NOTÍCIAS 2002
Logística: como enfrentar a concorrência dos Correios
Investir na capacidade de planejamento é o caminho
Glauber Luiz Della Giustina (*)
Colaborador
Muito se tem falado no ingresso da Empresa Brasileira de
Correios e Telégrafos (ECT) no mercado de serviços logísticos. As especulações em torno do assunto são muitas, até porque algumas
empresas que fecharam as portas apontam a concorrência dos Correios como principal causa do seu fracasso, relatando práticas de
subsídios para viabilizar determinadas operações que estão entrando no mercado onde atua a iniciativa privada, usando recursos
obtidos nos negócios que proporcionam melhores margens de lucro.
A estrutura e o conhecimento da ECT colaboram para sua entrada no novo negócio. Os números
são impressionantes. Seu faturamento é dez vezes maior do que o faturamento de toda a indústria de transporte expresso, entregando
trinta e dois milhões de correspondências e pacotes por dia.
Apesar de toda esta estrutura, que sem dúvida proporciona uma grande vantagem competitiva
para a ECT, não vejo sua concorrência como única razão da falência de grandes empresas de entrega expressa.
Se houvesse um planejamento estratégico, feito de forma a focar as oportunidades de mercado,
a área e forma de atuação da empresa, e principalmente analisando a concorrência como uma das variáveis deste planejamento, talvez o
resultado fosse menos catastrófico.
Por outro lado, também se discute o que irá ocorrer daqui para frente. A nova Lei Postal (PL
1.941/99) que está em tramitação na Câmara dos Deputados, é a grande vilã, segundo as empresas privadas do setor. Por exemplo:
conceitos como "serviços essenciais" e "carta" não estão bem definidos e são tratados subjetivamente no texto da lei. Mercadorias
que, segundo propõe o projeto, são de exclusividade dos Correios.
Outro ponto questionado no Projeto de Lei é a criação de um tributo adicional para os
operadores de serviços postais, o que subsidiaria o funcionamento de uma empresa de capital misto, como a ECT.
O que deve efetivamente ser buscado é um contrapeso onde todos possam ser competitivos. Como
uma empresa pública, cabe aos Correios zelar pelo bem-estar do cidadão e da sociedade. Buscar o monopólio não é posição de um
governo no qual a democracia e a igualdade de oportunidades deve prevalecer.
Os diferenciais de competitividade e liderança de mercado devem ser adquiridos: pelo
conhecimento, pela capacidade de planejamento, pela competência da estrutura de Recursos Humanos e pela prestação de serviço de alto
nível para o cliente, e não por protecionismo legal.
Para as empresas de capital privado, cabe a consciência de que é necessário se adaptar às
mudanças que o mercado exige. Processos operacionais bem definidos e estrutura de tecnologia de informação que proporcione a
funcionalidade destes processos levarão à redução de custos, aumento de margens, preços competitivos e melhoria do nível de serviço.
Tudo isto deve ser planejado e executado com muita cautela, analisando o cenário
macroeconômico, principalmente neste momento de incerteza de como a legislação e a política irão tratar a questão ECT-Empresas
privadas, pois se o passo dado for maior que as pernas outras empresas irão tropeçar e o mercado não perdoa. Nem a ECT.
(*)
Glauber Luiz Della Giustina é
consultor da Kom International – ABPL & Associados (consultoria canadense especializada em logística). |