NOTÍCIAS 2002
O pacto da eficiência
Milton Mira Assumpção Filho (*)
Colaborador
O engajamento no pacto social proposto pelo presidente eleito,
Luiz Inácio Lula da Silva, é importante no sentido de que a sociedade brasileira possa vencer com menor dificuldade os problemas
estruturais e conjunturais da economia. Simultaneamente, porém, as empresas devem fazer grande esforço interno no sentido de impedir
que as dificuldades presentes as desviem da meta de crescer e progredir ininterruptamente. Sobreviver à crise é fundamental, mas
garantir a longevidade, com planejamento e constante inovação, é a meta do verdadeiro empreendedor.
Assim, é importante uma reflexão sobre o comportamento de muitas empresas em tempos de
crise. A transição política, a insegurança do mercado, com um simples boato derrubando a Bolsa e elevando abruptamente o risco-país
do Brasil, a estagnação econômica de 2002, os reflexos internos de problemas econômicos internacionais, a alta do dólar e dos juros
constituem, de fato, um conjunto de dificuldades que atinge todos os setores produtivos nacionais. Empresas revêem metas de
crescimento e estudam medidas de redução de custos. Todos procuram redimensionar o tamanho do mercado, levando em conta esses
problemas, a sensível queda do nível de atividades desde 2001 e uma pitada de incerteza quanto a 2003.
A meta é chegar a uma equação, absolutamente empírica, para garantir a sobrevivência
imediata em mais um momento de dificuldades. Em momentos como esses, o planejamento, as ações de médio e longo prazo, o aporte
tecnológico e as soluções inovadoras de gestão, mercadologia, produção e logística são totalmente esquecidos. Todos os esforços e
energias concentram-se no enfrentamento da crise, sempre com medidas paliativas e de resultado prático imediato, nem sempre
saudáveis em termos futuros.
Emerge, nesse cenário, uma reflexão importante: repete-se, no ambiente empresarial, um
antigo erro do setor público brasileiro, no qual jamais se consegue desenvolver uma ação integrada e planejada de longo prazo para a
solução efetiva dos problemas nacionais.
Sem contrapartida - O Estado brasileiro é um dos que mais arrecada impostos em todo o
mundo. Em contrapartida, oferece muito pouco à sociedade. Obras, inclusive de infra-estrutura, emperradas pela burocracia estatal
agravam o seu custo para os contribuintes, que pagaram - e muito - para ter aquele benefício, mas não têm.
Exemplos assim são numerosos. Quem passa pela avenida Doutor Arnaldo, em São Paulo, vê, há
anos, no complexo do Hospital das Clínicas, o esqueleto de um gigantesco prédio, que deveria ser o Instituto da Mulher; na Marginal
do Pinheiros, também na Capital paulista, há outro "fóssil", o edifício que abrigaria a sede da Eletropaulo, à época em que era
estatal. Quanto custou para a sociedade brasileira o retardamento das operações da sucata nuclear de Angra dos Reis? Qual o ônus do
atraso de obras de numerosas hidrelétricas e de modernização dos sistemas de transmissão e distribuição de energia? E a corrupção —
cuja presença em larga escala também é fruto da incompetência estatal de apurar, prender e julgar — quanto custa para o
contribuinte?
Ou seja, a obra e/ou serviço público mal planejado ou não concluído e as verbas desviadas ou
mal aproveitadas agravam o ônus do imposto pago pela sociedade. Trata-se de situação idêntica a uma empresa que investe milhões em
um equipamento e o deixa desligado durante anos. O imposto brasileiro é um investimento quase sempre sem retorno, o que o transforma
em prejuízo. No caso, as conseqüências são gravíssimas e atingem toda a sociedade. O problema do Estado é de gestão ineficiente, com
raras e honrosas exceções.
Mesmos erros - Na iniciativa privada, não se pode repetir esses velhos erros. Porém,
em numerosas empresas assiste-se ao recrudescimento desses vícios exatamente nos mais inoportunos momentos, em especial quando a
crise bate na porta.
Os profissionais do setor operacional nunca têm tempo de buscar o novo, pois estão sempre
cuidando do imediato; o pessoal administrativo concentra-se nas contas a pagar, no recebimento das faturas, manutenção... e assim
por diante.
Todos têm suas prioridades; ninguém tem tempo de se dedicar à essência da empresa eficiente,
com futuro garantido, que é a permanente busca do novo, das informações atuais, das soluções e tecnologias da eficiência e
competitividade. Quanto de novidade, em termos de máquinas, equipamentos, software, processos de gestão e soluções existe em
outros países e ainda não chegou ao Brasil? Muita coisa, por incrível que possa parecer nesta era da globalização e da informação.
Não se pode admitir que, na iniciativa privada, o problema esteja na falta de talento e
vocação dos gestores, como ocorre, via de regra, no setor público. Partindo-se dessa premissa, é necessário aproveitar, de forma
focada, a capacidade de cada profissional, de cada executivo, para que possa apresentar altas performances. As empresas precisam,
mesmo em momentos como o atual, investir no gerenciamento de informações, tarefa que não pode ser coadjuvante no rol de
responsabilidades de um executivo, divisão ou departamento. A empresa desatualizada tende ao sucateamento, inclusive de idéias.
O guru norte-americano Tom Peters — criador do conceito de excelência na administração —
afirma que "os grandes administradores são o cimento de uma organização", ou seja, devem ter visão ampla para cumprir com eficiência
sua missão de garantir o sucesso e sobrevivência do negócio. E, como se estivesse analisando, mesmo, o atual momento brasileiro,
pondera: "É verdade que há épocas de verdadeiro perigo corporativo, em que ninguém consegue fazer o que é preciso".
Entretanto, independentemente das turbulências e problemas conjunturais, é imprescindível
fazer o necessário para garantir o futuro. Afinal, as crises passam, mas os maus hábitos e vícios administrativos persistem,
corroendo — mais do que as adversidades conjunturais — as engrenagens das empresas.
E não se deve esquecer: quanto mais eficaz, atualizada e ágil for uma empresa, mais
preparada estará para enfrentar os caprichos de uma economia sempre incerta como a brasileira. Por isso, é imprescindível que cada
organização faça consigo própria um pacto de eficiência, tornando-se mais competitiva, produtiva, moderna e, portanto, eficaz e
capacitada a realizar a sua parte no processo de desenvolvimento do País.
(*)
Milton Mira Assumpção Filho, editor,
é diretor de Mercadologia e Distribuição da CBL, "Homem de Marketing" (1991) pela Fundação Getúlio Vargas e "Marketing Expert"
(1999). |