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NOTÍCIAS 2002

Clarice Lispector será tema de filme

Há 25 anos morria Clarice Lispector, autora de "Perto do Coração Selvagem", de "A Hora da Estrela" e de dezenas de outras obras antológicas, entre romances, contos e crônicas que permanecem atuais e emocionantes. Traduzida em vários idiomas, cantada (Que mistério tem Clarice...) por gente como Caetano Veloso, citada por Julio Cortazar, Clarice vai virar filme. A homenagem é da cineasta Denise Gonçalves, que se prepara para filmar seu primeiro longa-metragem – o documentário Clarice, sobre a vida e a obra da escritora. Para isso, faltam apenas alguns patrocinadores dispostos a completar a verba necessária para o início as filmagens.

Clarice Lispector

Clarice será realizado em película e digital, e terá duplo formato: uma versão para cinema, de 70 minutos (35 mm) e outra para TV, de 50 minutos. O documentário terá depoimentos (em cores) e dramatizações (em preto e branco), mesclando episódios da vida de Clarice e trechos de suas histórias (o encontro de GH com a barata, a galinha do conto "Uma galinha", a mulher e a menina bebendo o mar).

Entre os depoimentos, já confirmaram participação Nélida Piñon, Benedito Nunes, Nádia Battela Gotlib (biógrafa de Clarice) e Claire Varin (pesquisadora canadense que lançou, recentemente, um livro sobre Clarice). Pessoas próximas, como a amiga Olga Borelli, a cartomante que Clarice consultava, a empregada, o filho, e colegas do tempo do colégio também estarão no documentário, além do depoimento de Caetano Veloso, que inclusive já autorizou o uso de sua música "Clarice". Serão convidados, também, a artista Maria Bonomi e os escritores Lygia Fagundes Telles, Marina Colasanti, Affonso Romano de Santanna e Heléne Cixous (que introduziu a obra de Clarice na França).

O documentário terá locações em Recife, onde Clarice passou a infância, e no Rio de Janeiro, onde viveu a partir dos 12 anos. A tônica será a essência de Clarice, sua pessoa, e o modo como a literatura estava finamente tecida em sua vida. "Minha ação é a das palavras", ela dizia. Para narrar os textos de Clarice já está confirmada a presença de Fernanda Montenegro, admiradora da escritora.

A produção está a cargo da Raiz Produções, de Assunção Hernandez, que produziu "A Hora da Estrela", também baseado na obra de Clarice. O roteiro e direção serão de Denise Gonçalves, que já realizou o curta "Ruído de Passos", a partir de um conto de Clarice. Esse filme participou de diversos festivais no mundo todo (Clermont Ferrand, Toronto, British Short Film Festival, São Francisco e prêmio de melhor atriz em Gramado, em 1996, além do Prêmio Multishow, em 1997).

O projeto está sendo viabilizado por meio das leis federais de incentivo a cultura – Rouanet e Audiovisual – e conta também com a Lei Mendonça. Já tem como parceiros o BNDES, que investiu R$ 146 mil através da Lei do Audiovisual, e está apoiado pelo fundo Ibermedia, que financiou a pesquisa e produção do roteiro.

Clarice Lispector nasceu em 10/12/1925 em Tchetchelnik, na Ucrânica, chegando no ano seguinte a Alagoas e mudando em 1929 para o Recife. Em 1937, seguiu para o Rio de Janeiro, onde em 1940 ingressou no curso complementar de Direito do colégio Andrews, em 1941 entrou na Faculdade Nacional de Direito e começou a trabalhar como redatora na Agência Nacional. Em 1942, passou para o jornal A Noite, como jornalista, casando-se em 1943 com Maury Gurgel Valente. No ano seguinte, terminado o curso de Direito, mudou-se para Berna, na Suíça, e publicou O Lustre. Seguiu para a Inglaterra e os Estados Unidos, publicando novas obras, além de receber diversos prêmios literários. Em 1976, participou como convidada oficial do Congresso Mundial de Bruxaria, em Bogotá, na Colômbia. Faleceu no Rio de Janeiro em 9/12/1977.