NOTÍCIAS 2002
Marketing de tirar o chapéu
N.E.: para ser diferente de tantos outros, que tal fazer um artigo ou livro sobre
Mercadologia (o mesmo que Marketing, só que em bom português)?...
Mário Persona (*)
Colaborador
Na infância, fui escoteiro de uniforme, mas sem chapéu. Os
chapéus do grupo eram fabricados em Limeira pela Prada, a mesma que fez o do Indiana Jones. Se no filme o chapéu de Harrison Ford
não saía da cabeça, comigo acontecia o contrário. O chapéu não entrava. Eu era um menino de cabeça grande, desses que a mãe usa o
bonezinho para trazer a melancia da feira. Eu era diferente, e não podia ter um chapéu de feltro como os outros meninos. Não
fabricavam o meu número.
Se na época eu conhecesse um pouco de marketing, saberia que ser diferente é um
privilégio. É o que diferencia da concorrência. Os autores do gênero descobriram isso, pois num universo de quinze mil, trezentos e
cinqüenta e seis títulos - o número de livros de marketing que encontrei na Amazon.com - muitos deles inventaram novos
conceitos de marketing. Ou rebatizaram os velhos.
Há livros sobre marketing direto, um-a-um, de guerrilha, digital, de rede, de
relacionamento, de permissão, essencial, experimental, simbiótico, interativo, viral, de fertilidade, de banco de dados, de
incentivos, de substituição, de nichos... pare para respirar um pouco, que você está ficando azul! Tem até um do contra, o "Marketing
Contra-Intuitivo". O livro Marketing Outrageously ainda não foi publicado aqui, mas deve ser traduzido como "ultrajante".
Isto se não mudarem o título, como fizeram com Gonzo Marketing, aqui Marketing Muito Maluco.
O mais vendido na Amazon.com ainda é o clássico dos clássicos, Marketing Management,
de Philip Kotler. Cento e quinze dólares lá, em inglês, vinte dólares nas livrarias daqui, em português. O marketing
brasileiro ainda sai mais barato. E acredito que seria até mais criativo, se não nos preocupássemos tanto em copiar o acadêmico de
lá. Que tenta recriar o marketing informal e de sobrevivência que temos aqui. Como o do lavador de carros do Rio, que se
livrou da competição dos "Lava-Rápido" abrindo o seu "Lava-Lento".
Kotler fala dos estágios de marketing vividos por uma empresa. Empreendedor, é o
marketing criativo e barato, quando a empresa começa. Depois ela adota o marketing profissionalizado, que tenta recriar o
empreendedor em laboratório. Finalmente, o marketing se torna burocrático, cheio de gráficos, pesquisas, tabelas, cálculos de
retorno de investimento e outros recursos, aplicados às vezes mais para justificar a existência de seu departamento. Marketing
profissionalizado é o que Kotler confessa ensinar na maior parte do livro, pois quanto mais criativo e intuitivo for o marketing,
menor sua possibilidade de codificação literária e transmissão acadêmica.
Com tanta gente lançando seu próprio marketing, vou lançar o meu. "Marketing
Tutti-Frutti", tipo salada de frutas, com um pouco de tudo. Um chapéu de Carmem Miranda, que leve todos os conceitos de marketing
vistos até aqui, no rebolado, e sem deixar nenhum cair. Meu chapéu é grande, não se preocupe. Se não quiser chamar de Tutti-Frutti,
chame de "Marketing Cabeça", que fica do mesmo tamanho. É este o marketing que faço.
Veja minhas crônicas. Falam de negócios sérios, numa linguagem tão informal que beira a
irreverência. Seria isto marketing ultrajante? Envio por e-mail e estimulo a cópia e o reenvio. Uma delas circulou
seis meses pela Internet antes de voltar para mim. Puro marketing viral. Também é marketing de permissão, pois só
recebe quem assina. E de relacionamento - meu boletim semanal é um canal de comunicação permanente com clientes e potenciais. Sites,
jornais e revistas são estimulados a publicá-las como colaboração, numa clara ação de marketing de guerrilha. Até hoje minha
marca já invadiu as páginas de mais de duzentos e cinqüenta veículos. Da Flórida ao Japão.
A variedade de estratégias que levo no chapéu pode não ser um jeito muito acadêmico ou
convencional de se fazer marketing, mas funciona. É o marketing alternativo, caipira, igual à solução que encontrei
também para meu uniforme de escoteiro. Um humilde chapéu de palha. É claro que minha bossa-nova era um verdadeiro desacato ao rigor
do escotismo inventado por Baden Powel, não o da bossa-nova. Fazer o quê, se minha mãe não queria que eu tomasse sol? Mas eu levava
vantagem em termos de marketing. Nas fotos oficiais do grupo reunido sob a bandeira, eu sou o do chapéu de palha. Os outros?
Bem, os outros são todos iguais.
(*)
Mário Persona é consultor, escritor e
palestrante, além de autor dos livros Crônicas de uma Internet de verão,
Receitas de grandes negócios e Gestão de mudanças em tempos de oportunidades. Esta crônica faz parte dos temas
apresentados em suas palestras. Edita o boletim eletrônico Crônicas de Negócios e mantém
endereço próprio na Web, onde seus textos estão disponíveis.
Em 31/8/2002, ao distribuir nova crônica, o autor registrou uma correção:
Em uma semana particularmente cheia, minha crônica sai com a data de
antes tarde do que nunca. E já começo corrigindo um equívoco. Em "Marketing de tirar o chapéu" digo que o chapéu de Indiana
Jones foi fabricado em Limeira, pela Prada. Esta informação obtive do folclore local e de um único site na Internet.
Uma leitora escreveu: "Os chapéus do Indiana Jones não foram
fabricados pela Prada e sim pela Cury de Campinas." Nova busca na Internet revelou que realmente foi a
Cury que fabricou o original. O que faço agora com o chapéu de minha crônica?
Felizmente não escrevo fatos ou notícias, mas crônicas, um estilo que
mistura realidade, ficção e folclore em um mesmo balaio. Lembro o expediente utilizado para filmar biografias. Fábio Massaine
Scrivano, que escreve no site Cineweb, comenta que o roteiro do filme "Uma Mente Brilhante" esconde fatos que poderiam
comprometer o sucesso do filme. "Omite, por exemplo, que Nash abandonou na pobreza um filho que teve antes de casar-se com Alicia,
seus supostos envolvimentos homossexuais e atitudes indecentes.
Tudo explicadinho, vou dar um jeito no texto original, trocando
"fabricados em Limeira pela Prada, a mesma que fez o do Indiana Jones" por "fabricados em Limeira pela Prada, a mesma que fabricava
um modelo igual ao do Indiana Jones." Acho que assim fica tudo resolvido.
Prometo nunca mais misturar ficção e folclore com
realidade. Pelo menos até você começar a ler a crônica de hoje, "Blogterapia". Fala de uma história que
até Indiana Jones vai querer estrelar.
Mario Persona
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