NOTÍCIAS 2002
Timbuctu, um centavo por minuto...
Carlos Pimentel Mendes (*)
Durante a Copa do Mundo, e agora em meio à corrida das
operadoras de telefonia para conquistar ou manter o mercado da última milha (aquele trecho que liga seu escritório, sua casa, você,
à central telefônica mais próxima), a cada dia uma empresa bombardeia seus olhos e ouvidos com mensagens sobre tarifas mais baratas.
Coréia e Japão, mais barato que na concorrente, que por sua vez, das 0 às 6 lhe oferece uma tarifa maravilhosa para você falar à
vontade com seu vizinho por telefone...
Bem, toda essa promoção esconde uma informação que poucos empresários têm: a de que o
mercado nacional de telecomunicações ainda se regula mais pelos impulsos do coração do que pelos pulsos da telefonia. Responda
rápido: quem decide na sua empresa qual operadora usar, a cada ligação feita? Seu funcionário? Como ele decide isso? Pela propaganda
na TV?
Se a resposta for afirmativa, comece a se preocupar. Você participa de um clube composto por
mais de metade das empresas brasileiras, que muda de operadora a cada aparição nas telas da modelo da novela ou do super-telefonista
verde-abacate. Um clube que joga muito dinheiro pela janela (aquele mesmo dinheiro que no anúncio quase afoga o felizardo vencedor
do concurso promovido por uma operadora).
O truque - Pois
é: as operadoras descobriram o truque dos supermercados: atraem o cliente com uma super-oferta que fica lá no fundo, e para chegar
até ela o cliente vai percorrendo as prateleiras cheias de produtos mais lucrativos. E seu carrinho de compras vai enchendo. Tanto
que quando o cliente enfim coloca as mãos na super-oferta, as demais compras já compensaram de longe o desconto oferecido.
Em telefonia, o dado relevante é que, em função da campanha de descontos para Timbuctu,
muitas pessoas e empresas passam a fazer todas as suas ligações para os demais lugares do planeta - inclusive os telefonemas para o
mesmo bairro - usando a mesma operadora. Sem notar que, usando a concorrente, obteriam uma conta final bem menor. Exceto nas
ligações para Timbuctu.
No final dos anos 70, este jornalista fazia uma pesquisa de preços semanal nos principais
supermercados. Depois, somava os valores de uma hipotética compra, igual para todos eles. E mostrava aos leitores como era bem
enganadora a percepção que eles tinham sobre qual o mais barateiro entre os estabelecimentos pesquisados. Na semana seguinte, nova
pesquisa, os gerentes reduziam os preços daquela lista de produtos apresentada no jornal, tentando enganar o jornalista. Que,
entretanto, chegava com uma lista de produtos diferente, surpreendendo sempre os supermercadistas. E os leitores.
Faça o mesmo. Tente saber quanto custa cada ligação, em operadoras diferentes, para o mesmo
destino, com a mesma duração e no mesmo horário. Inclua os pacotes especiais de descontos, mas verifique se eles representam
economia efetiva para sua empresa. Afinal, se sua empresa não tem clientes, fornecedores ou filiais em Timbuctu, por quê você opta
por uma operadora pelo simples fato de ela facilitar suas ligações para o Mali, aquela
simpática república africana sem indústrias, sem recursos minerais, sem agricultura - mas com um imenso deserto... o Saara?
(*)
Carlos Pimentel Mendes é jornalista, editor do jornal eletrônico
Novo Milênio. Nunca precisou telefonar para Timbuctu. |