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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 08/12/02 21:05:31
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NOTÍCIAS 2002

Exclusão digital e vontade política

Mário Oswaldo Gomes da Silva (*)
Colaborador

A inclusão digital é propagada aos quatro cantos do País. Desde 2001, porém, são arrecadados recursos vultosos junto às operadoras de telecomunicações para a composição do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust). Esse fundo, que hoje conta com quase R$ 2 bilhões, iria subsidiar, entre outros, o programa de acesso à Internet nas escolas públicas. No entanto, 13 mil escolas públicas ainda aguardam os equipamentos.

Mário Oswaldo Gomes da Silva

É difícil aceitar uma situação como esta: há dinheiro, há espaço nas escolas, há demanda, mas não há vontade política em fazer acontecer.

E quanto maior a delonga, mais difícil é estabelecer uma boa perspectiva para estes estudantes no mercado de trabalho. O resultado é que milhares de alunos deixaram as escolas em 2001 - e outros milhares deixarão em 2002 - sem ter e noção do que é um teclado ou um mouse. A estes, está sendo decretado um outro tipo de analfabetismo: o analfabetismo digital. E é a estes novos analfabetos que nossos políticos deverão dar explicações, nos próximos anos - especialmente porque, no período, não se deixou de arrecadar os recursos do Fust junto às empresas de telecomunicações.

Outra exclusão - Mas há uma certa exclusão digital que pode atingir também a outra ponta, lá onde estão aqueles que vivem dentro do ambiente de informática, frente a um mercado de trabalho cada vez mais seletivo em tecnologia da informação. Hoje, quem tem condições financeiras e procura um centro de treinamento, quer a perspectiva de emprego ao final do período de formação. Infelizmente, porém, em boa parte, esta perspectiva se frustra em função da falta de projeção e análise da real necessidade de profissionais no mercado.

Em sua corrida pelo cliente, muitas empresas de treinamento ainda não moldaram adequadamente a postura, de modo a quebrar o paradigma de oferecer somente o treinamento corriqueiro, de critérios apenas pontuais, sem visão de conjunto e sem o mínimo de orientação de postura profissional. Esse tipo de formação já não atende as expectativas. O diferencial para o sucesso, neste tipo de treinamento, é partir para o conceito de escola, implementando-se carreiras dinâmicas, com base em um compromisso com o mercado.

Se, na educação regular, os professores reconhecem que a Tecnologia da Informação é uma ferramenta importante no desenvolvimento do processo educacional de seus alunos, o problema é que, nem sempre, esta ferramenta é explorada no seu conceito mais básico, que é o de capturar e disseminar informações.

Da mesma forma, os centros de treinamento têm que se adequar a estas características, adaptando sua política às necessidades que o mercado lhes demanda. Em outras palavras, é crucial inovar na formação de profissionais da área de tecnologia, pois além de ser uma responsabilidade social, significa reduzir uma exclusão digital cujo manejo vai se tornando cada vez mais estratégico do ponto de vista da economia de longo prazo.

Mário Oswaldo Gomes da Silva

(*) Mário Oswaldo Gomes da Silva é professor da Universidade Católica de Brasília e da Faculdade Euro-Americana, e diretor da EFATEC/Grupo TBA.