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NOTÍCIAS 2002

É um pássaro? É um avião?
Não! É o Multitarefa!

Mário Persona (*)
Colaborador

Wagner Barbosa tinha que ser rápido. A visita do governador a Limeira estava terminando e o jornalista ainda precisava de boas fotos para publicar em sua revista Expressão Regional. Prestes a embarcar no helicóptero que o levaria a uma outra inauguração, em um parque temático a uns oitenta quilômetros dali, Mário Covas também tinha pressa. O difícil era conseguir se livrar da lente daquele jornalista insistente.

E como insistia! "Governador, mais uma ao lado do empresário fulano", pedia. "Agora esta, com o vereador sicrano", insistia. "O senhor não vai embora sem uma foto com o prefeito beltrano, não é governador?", suplicava. O click da última foto ainda ressoava no ar quando o helicóptero decolou, jogando areia na pose de quem ficou. Para o jornalista, o desafio seguinte seria cobrir a chegada do governador ao parque temático. Só se fosse mais rápido que o helicóptero. Ou tivesse um clone.

Um clone é o que muita gente quer ter, mas ninguém ainda teve tempo suficiente para fazer. A solução está em ser multitarefa, como os computadores. Mas será que existe gente multitarefa? Se não existisse, não teríamos as empresas que temos hoje. Muitas delas mantidas por pessoas que sabem cobrar o escanteio e ainda correr para cabecear para o gol. Gente que consegue estar em mais de um lugar ao mesmo tempo. Para quem assobiar e chupar cana não tem graça, se não estiver escovando os dentes.

No currículo - Uma expressão que começa a aparecer nos currículos é a do multitask worker, o trabalhador multitarefa. Um anúncio que vi buscava um profissional "multitarefa, analítico e atento aos detalhes, com excelente comunicação verbal e escrita, habilidades no uso do computador e no atendimento ao cliente, e flexível para mudar de ambiente e pronto para tomar decisões". Não querem nem pássaro, nem avião. Querem um multitarefa.

Normalmente é este o perfil de alguém com uma especialidade ou habilidade central, mas capaz de bater um bolão também na periferia de seu campo de ação. Gente que sabe que aquilo que hoje é marginal, amanhã pode ser sua atividade principal. Além disso, entende de marketing pessoal o suficiente para saber que o crescimento que chama a atenção da corporação não é o do organismo interno, mas o que ultrapassa sua circunscrição. Como o pneuzinho que infla a cintura.

Esta invasão das áreas limítrofes é importante para a carreira do profissional e para a conservação da base de conhecimento de uma empresa. As áreas estanques e monopolistas são grandes focos de problemas quando perdem um profissional. Daí estarem cada vez mais valorizados os camaleões, sempre prontos e dispostos a mudar de cor, teor e setor.

Sem rigidez - A melhor analogia que encontro para este profissional é a esponja. Sim, o profissional ideal é uma esponja. Cheio de furos? Sim, cheio de furos, buracos e espaços vazios. Nunca está totalmente fechado àquilo que vem de fora. Tem sempre uma vaga para assimilar o novo porque sabe espremer o velho. Mas não me interprete mal, esponjas não são moles. São flexíveis. Se fossem rígidas, nunca conseguiriam trabalhar sob pressão e de nada adiantaria receberem um sabão.

Esta relação entre flexibilidade e espaço vazio é o que dá qualidade à esponja. E ao profissional que quiser ser multitarefa. Além, é claro, de uma boa dose de multipresença, o que ninguém consegue a contento se não tiver uma boa rede de relacionamentos. Pelo menos enquanto não inventarem alguém que corra mais do que um helicóptero ou que tenha clones seus espalhados por aí. Um problema que o jornalista conseguiu resolver, mas sem jamais imaginar o susto que daria no governador.

A solução foi pedir a seu irmão, Valmir Barbosa, quase gêmeo de corpo e voz, que fotografasse a chegada do governador ao parque temático. Mal abriu a porta do helicóptero, Mário Covas foi logo ouvindo uma voz da qual pensava ter escapado: "Governador, posso tirar uma foto do senhor ao lado do empresário fulano?" Estupefato, Mário Covas não podia crer no que via. Entre o susto e a incredulidade, só conseguiu exclamar: "Rapaz, como foi que você conseguiu chegar aqui mais rápido que o helicóptero?!"

(*) Mário Persona é consultor, escritor e palestrante, além de autor dos livros Crônicas de uma Internet de verão, Receitas de grandes negócios e Gestão de mudanças em tempos de oportunidades. Esta crônica faz parte dos temas apresentados em suas palestras. Edita o boletim eletrônico Crônicas de Negócios e mantém endereço próprio na Web, onde seus textos estão disponíveis.