Clique aqui para voltar à página inicial  http://www.novomilenio.inf.br/ano02/0208a006.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 08/01/02 18:26:54
Clique na imagem para ir ao índice de Notícias 2002

NOTÍCIAS 2002

País precisa redirecionar inovação tecnológica

É necessário destinar recursos para o setor produtivo, gerando maior competitividade e conquista de mercados

Sem investimento expressivo do Produto Interno Bruto (PIB) em Ciência e Tecnologia, um país não pode crescer no mundo globalizado. Mas não basta aplicar em tecnologia, é preciso canalizar esses recursos para o setor produtivo. O alerta foi feito no dia 29/7/2002 pelo presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Luiz Carlos Delben Leite, durante palestra na Escola Superior de Guerra (ESG), no Rio de Janeiro.

Com o tema “A Tecnologia Industrial como Fator de Desenvolvimento no País”, ele mostrou que o problema do Brasil não é tanto o quanto mas como investir em pesquisa e desenvolvimento. "Nos Estados Unidos, por exemplo, além do grande dispêndio nesta área, mais de 70% desse gasto está nas mãos das empresas. No Brasil, além do investimento muito menor, a quase totalidade dos recursos é destinada apenas às universidades e não às empresas".

Como resultado, complementa o presidente da Abimaq, o PIB brasileiro praticamente não cresceu nos últimos anos e o país tem que importar tecnologia, contribuindo para o déficit da balança comercial. "Por outro lado, Estados Unidos, Coréia, Japão e Taiwan viram suas riquezas internas crescerem entre duas e quatro vezes em menos de 20 anos e exportam várias vezes mais do que o Brasil", afirmou o empresário.

Daejeon, na Coréia do Sul

Exemplos - Durante sua palestra, Luiz Carlos mostrou que a opção coreana de política de pesquisa foi muito diferente da brasileira. Em vez de investir os poucos recursos de que dispunha na criação de uma pós-graduação, como fez o Brasil, a Coréia preferiu destinar os recursos para a formação de institutos de pesquisa desvinculados da universidade. "A cidade tecnológica de Daejong é um exemplo dessa política de suporte direto às pesquisas do setor produtivo empresarial, financiada essencialmente com recursos públicos".

O resultado foi evidente, disse o empresário: "Aos poucos, na medida em que as próprias inovações geradas produziam retorno pelo aumento da competitividade e a conquista de mercados, o setor produtivo foi assumindo o papel de executor das pesquisas e do seu financiamento. Hoje, sua participação se aproxima dos 75%, ou seja, do perfil típico dos países já desenvolvidos e líderes do processo inovativo".

A mesma política de usar o componente produtivo do gasto de pesquisa e desenvolvimento como tração do crescimento é exercida tradicionalmente por Taiwan e, mais recentemente, pela China. O crescimento do PIB de Taiwan é da mesma ordem de magnitude que o da Coréia, mas o componente do setor produtivo do dispêndio com pesquisa e desenvolvimento é cerca de dois terços acima da taxa do PIB.

O Brasil, ao contrário, dirigiu esforços para a criação de institutos de pesquisa dedicados exclusivamente à formação de recursos humanos altamente qualificados, para a expansão das universidades e a criação de seu sistema de pesquisa científica. Adotou o modelo linear de pesquisa ou inovação, cuja percepção era de que a pesquisa acadêmica geraria conhecimentos que, naturalmente, se transformariam em inovação tecnológica.

Nesse modelo, segundo o palestrante, não se reconhece a diferença do processo de pesquisa científica, um ato tipicamente acadêmico, da pesquisa de inovação tecnológica, uma ação econômica essencial. Tanto que países como a Índia e da Europa Oriental, caso da Rússia, mostram fortes indícios de mudança nesse processo, passando a geradores de inovações em algumas áreas, tais como programas de computador.

Luiz Carlos Delben Leite

"A Índia está dando um exemplo de como a formação maciça de recursos humanos dentro de um modelo dinâmico da inovação pode transformar rapidamente o quadro econômico setorial. Em apenas dez anos, as exportações indianas de programas de computador aumentaram em mais de 30 vezes", afirmou o presidente da Abimaq.

Segundo ele, a melhor forma de comparar os resultados entre Coréia, Taiwan e o Brasil e políticas de pesquisa e desenvolvimento para inovação tecnológica é avaliar o desempenho das patentes registradas nos Estados Unidos. "Em 2001, 95% das 166 mil patentes outorgadas pelo U.S Patent and Trade Mark Office (USPTO) foram originadas em apenas 12 países, entre os quais apenas dois emergentes: Taiwan, o quarto, e Coréia, o oitavo. Os demais são os do G-7 (grupo dos sete países mais desenvolvidos do mundo) e três países dos mais ricos – Suécia, Suiça e Holanda", afirmou.

Outro indicador relevante, a seu ver, é o de exportações. Em 2001, a Coréia exportou US$ 150 bilhões, com saldo de US$ 20 bilhões, contra uma exportação de menos de US$ 55 bilhões do Brasil e saldo de menos de US$ 2 bilhões. "O êxito coreano decorre diretamente da criação de inovações tecnológicas próprias, de elevada competitividade, configurando uma tecnologia nacional e propiciando a ampliação de mercados, essencial num mundo globalizado".

O presidente da Abimaq ressalta que esses valores ficam ainda mais expressivos quando se sabe que em 1966 a exportação coreana era da ordem de ínfimos US$ 40 milhões, dezenas de vezes menor que a exportação brasileira na época.