NOTÍCIAS 2002
Segurança e privacidade
Marcelo Schneck Paula Pessôa (*)
Colaborador
Estima-se que, anualmente, os prejuízos causados por falhas de
segurança da informação ultrapassem cifras na ordem de US$ 140 milhões. As principais fraudes constatadas são relacionadas a roubo
de informações privadas, sabotagem, invasões, vírus e acesso não autorizado. A microinformática tornou essa situação ainda mais
crítica, pois os sistemas operacionais dos computadores pessoais geralmente são muito frágeis quanto à segurança de acesso. A
Internet também abre um flanco para a invasão, porque tem a característica de permitir a interligação de praticamente qualquer
máquina ao redor do mundo.
Para resolver esses problemas, existem muitas técnicas que, em linhas bem gerais, controlam
o acesso a dados e sistemas ou codificam a informação para evitar sua leitura (criptografia). Essas técnicas são muito dinâmicas e
funcionam como uma brincadeira de espionagem e contra-espionagem. Na máquina é colocada uma proteção, mas logo alguém descobre uma
maneira de quebrá-la e novamente o fornecedor aparece com uma versão atualizada, mais robusta que, após algum tempo, também é
violada. Veja o caso dos programas antivírus, com versões semanais.
Ética - Esse é um lado da questão. Existe outro, bem menos discutido, que é o aspecto
do comportamento, da ética. É a denominada Privacidade da Informação, que pode ser definida como a "preservação do sigilo dos dados
pessoais identificáveis do usuário". As organizações precisam possuir um Sistema da Privacidade, similar ao sistema da qualidade
definido pela ISO 9000.
A visão de processo para essa atividade é muito apropriada, pois leva as organizações a não
se preocuparem apenas com equipamentos e programas de segurança, mas com o sistema completo. Este sistema envolve, além dessa parte
técnica, a definição de uma Política da Privacidade, de métodos e procedimentos referentes à privacidade e treinamento de todos os
envolvidos.
Desta forma, o controle de acesso perde toda a eficácia se o usuário divulgar sua senha.
Informações sigilosas deixam de sê-las, se não forem tratadas com cuidado pelos responsáveis. Um vazamento de informação pode
comprometer uma empresa se não forem tomadas atitudes de correção e esclarecimento por parte do usuário.
Uma organização que possui um Sistema da Privacidade aborda de maneira mais global esses
aspectos e, no primeiro exemplo acima, gera uma campanha para que o usuário não divulgue sua senha (que realmente os bancos fizeram)
e, no segundo caso, treina as pessoas para que elas fiquem atentas e tenham atitudes como não deixarem documentos à vista. Todos
estes procedimentos evitarão grandes problemas, que hoje comprometem a segurança de empresas, organismos governamentais e pessoas
físicas.
Normas - É absolutamente natural que uma nova tecnologia como a Internet - que era
praticamente um clube de professores e pesquisadores aficionados - tenha de ajustar seu uso pelo grande público, por meio de um
código de ética que exija comportamentos adequados, como ocorre, por exemplo, com a publicidade nos veículos de comunicação, que é
auto-regulamentada pelo (Conar), ou com a informação jornalística, para a qual há, no Brasil, a Lei de Imprensa.
É uma cultura que precisa ser estabelecida e respeitada. Há diversas situações pelas quais a
confiança e o sigilo são condição básicas para o negócio, como nos bancos e na medicina. Até na área de diversão isso acontece.
Interessante que, nesses casos, já existe uma cultura pela qual todos respeitam o sigilo das informações.
(*) Marcelo Schneck Paula Pessôa é especialista
eTecnologia de Informação, professor do Departamento de Engenharia de Produção da Escola Politécnica da USP, e presidente da
Fundação Vanzolini. |