NOTÍCIAS 2002
ISPs: receita virá do vídeo e não do acesso
Fio de cobre ou satélite? A Internet é uma só
Suzana Loureiro (*)
Colaboradora
Apesar do inegável sucesso da opção ADSL para evitar a velha
síndrome de world waide wait da Internet via linha discada, o fato é que a limitação de banda continua a ser o grande entrave para
que a Web se torne, para valer, uma via universal e convergente de conteúdos multimídia. Sem querer esgotar o assunto, daremos, ao
final desta argumentação, uma pista de que a resposta mais tangível, lógica e duradoura para esta questão é hoje a conexão da
Internet com as transmissões via satélite.
De fato, se o ADSL satisfaz, em grande medida, o usuário doméstico, o mesmo não se pode
dizer quanto às exigências do assinante corporativo, cuja necessidade de banda para cópia intensiva de dados ultrapassa enormemente
a capacidade deste sistema. Outro fator decepcionante em relação ao ADSL é a sua pequena capacidade de disseminação - restrita a
alguns pontos metropolitanos do Brasil.
Por sua vez, as opções mais recorrentes de banda larga baseadas em redes terrestres esbarram
não só na questão do mas têm suas vantagens anuladas pela própria heterogeneidade e dos diversos pontos de congestionamento
existentes nesta rede. Tudo isto somado, a impressão que se tem é de que o mercado de conteúdos ricos tem um osso duríssimo para
roer antes que se torne viável e se transforme numa fonte de receitas para os provedores de serviços. De que maneira, os satélites
poderão abreviar este suplício?
Simplicidade - Para responder a esta questão, analisemos a situação atual. Uma
vantagem inegável da conexão discada está na sua incrível simplicidade. Não fosse o retardo crônico na recepção dos dados, este
modelo de conexão seria o caminho natural do desenvolvimento da Internet. Mas vamos considerar o seguinte: os longos tempos de
espera observados na conexão via modem de 56 K ocorrem pela simples razão de que os arquivos baixados do provedor para o
usuário final são excessivamente pesados para esta largura de banda. Só que a experiência mundial comprova que a recíproca
não é verdadeira. Os níveis de envio de dados utilizados pelo assinante médio de um provedor de serviços Internet (ISP) estão, em
geral muito abaixo, desses 56 K disponíveis.
Ora, se não existe, portanto, uma congestão nas duas vias, a questão que se coloca para os
ISPs é resolver o problema do usuário do ponto de vista do tráfego na recepção de dados (incoming data). Imaginemos, então,
uma solução de conexão na qual o assinante mais trivial, com seu modem de 56K possua, em contrapartida, uma capacidade de
incoming de 400 Kbps, totalmente livre de pontos de congestão ou de choque. Capacidade esta que habilitaria o seu provedor de
serviços a uma diversificada oferta de novos produtos, tais como vídeo em movimento pleno; áudio com qualidade de CD;
teletreinamento e grandes massas de dados de missão crítica.
É isto que a conexão com satélite pode garantir hoje a custos relativos altamente
competitivos. E a tecnologia para tanto é simples e composta de poucos e eficientes elementos; ou seja: os roteadores de mídia de
última geração e as plataformas de gerenciamento de distribuição de conteúdo associados ao novo conceito de mineração de banda de
passagem (os Null Packet Optimization ou NPO, uma tecnologia patenteada recentemente pela SkyStream Networks), que otimiza a
capacidade de transmissão de multimídia em sistemas de banda larga.
Numa configuração típica deste modelo, o provedor instala em suas premissas um sistema SMR (source
media router), cuja finalidade é rotear, encapsular e concentrar conteúdos tipicamente distribuídos via satélite. Na ponta do
usuário, um roteador de borda (o EMR ou edge media router) se encarrega de receber estes conteúdos, sem que eles necessitem
acessar a rede física terrestre. Eles simplesmente descem pelo ar, sem qualquer atrito, até alcançar a rede local (LAN), a
rede metropolitana da empresa ou o PC corporativo, os quais continuam, no entanto, ligados ao provedor por fio de cobre ou fibra
para efeito de envio de dados.
Sonho - Com o apoio da nova tecnologia EVR (edge video router), uma solução
desta natureza completa o sonho do provedor: a total integração do ISP com a totalidade dos provedores de conteúdo e com qualquer
tipo de dispositivo com capacidade de recepção em multimídia: diga-se; aparelhos de TV, cinemas domésticos e computadores
convencionais.
Associado a uma plataforma de gerenciamento de distribuição como a tecnologia zBand - hoje
já bastante disseminada -, este aparato tecnológico permite que um ISP desenvolva emissoras fechadas de TV por satélite (utilizando
uma estratégia semelhante à das redes privadas virtuais - VPNs) ou faça a distribuição de conteúdos em regime de broadcasting,
inclusive com contratos de Qualidade de Serviço (QoS), uma prerrogativa comercial e técnica hoje restrita apenas às TVs por
assinatura.
Em todo o mundo, grandes provedores de serviços e operadoras já utilizam ou realizam trials
com as conexões de satélite e, com a progressiva desregulamentação dos mercados de Vídeo e TV, começam a se preparar para abocanhar
o seu filão no promissor segmento de conteúdos ricos. Entre os exemplos estão Dotcast, EchoStar Communications, iBlast, Gilat,
Granite Broadcasting, Loral Cyberstar, Microsoft TV, Pacific Convergence Corporation, Speedcast e Telefonica. No Brasil o movimento
nesta direção é igualmente intenso. E deve se acelerar consideravelmente a partir do segundo semestre, quando as regras para a TV
digital e para a distribuição de TV via Internet estiverem plenamente definidas.
Suzana Loureiro
(*)
Suzana Loureiro é diretora da
SkyStream Networks para a América Latina. |