NOTÍCIAS 2002
Euforia e depressão na indústria de TI
Francisco Benzi (*)
Colaborador
Assolada por uma crise financeira, mas também de identidade, a
indústria de Tecnologia
da Informação (TI) vem patinando, há alguns meses, em busca de um novo gás que lhe devolva o viço e, por que não dizer, a deliciosa
euforia de três, quatro anos atrás. Os motivos da crise financeira todos sabem: a desaceleração americana girou a engrenagem do medo
na direção oposta à da engrenagem da Internet; esgotou-se - por decurso de prazo - o combustível que alimentava a corrida contra o
Bug, no último ano do milênio que passou.
E, quanto ao ERP (planejamento de recursos empresariais - este movimento radical de
reestruturação nas bases do TI, que ajudou a movimentar toda a indústria de informática), este parece ter atingido o ponto de
saturação, nas maiores empresas mundiais, e hoje encontra sérios obstáculos para atingir o chamado small medium business.
Para completar, alguns promissores suspiros, como as "ondas" do CRM, eRM e similares, continuam ainda hoje no ansioso plano da
promessa.
Estes, em linhas gerais, os traços da crise financeira. A crise de identidade, por sua vez,
é uma crise de decisão e é questão de se saber: quem era a indústria de TI antes da crise econômica e quais as suas condições de
prosperidade neste tempo de vacas magras? Trata-se de um quadro novo e inusitado para um setor que, em 20 anos, saiu dos
restritos nichos do CPD corporativo para se tornar fenômeno de massas, com taxas de crescimento de, digamos, 30% até 3000% ao ano.
Identidade - Sem querer partir para a abordagem psicanalítica, resolver este ponto do
quem sou talvez possa ser muito útil para retirar a indústria de TI das vacilações que a acometem.
De fato, desde o boom da microinformática e das redes locais, no início dos anos 80,
até a explosão das ponto.com (cujo estertor ainda se escuta), a comunidade de TI viveu uma espécie de embriaguez, semelhante à da
corrida do ouro. Sua justa prosperidade tinha explicação num fato incontestável, que foi a corrida das empresas, de todos os
setores, em direção às novas ferramentas de produtividade, que a informática impôs e que, rapidamente, se cristalizaram como
condição de ingresso no futuro.
Posicionada na vanguarda desta corrida, a indústria de TI teve a prerrogativa de ditar, por
20 anos, a direção do investimento das empresas, o que fez com a competência e a ousadia que lhe devem ser reconhecidas. Mas
entregou-se, amiúde, a certos excessos imperdoáveis, como a luxúria de esnobar eficiências não modernas ou de propor a adesão
a modas, gostos, novas gerações de sistemas.
Quem não se lembra, por exemplo, da insistente e ruidosa campanha pelo down-sizing,
pela qual a indústria de TI propunha que as corporações largassem mão de todo o seu legado de tecnologia para aderir às novas redes
de PC, muito mais ágeis, abertas etc etc etc. E muito disto deu no fracasso que todos nós já conhecemos.
No novo quadro, portanto, o que a indústria de TI precisa perceber é que, acima de seus
interesses e sua capacidade de inovar, existem as exigências do negócio das corporações. Se antes, a indústria de TI ditava a
tecnologia, hoje é o interesse corporativo que dita necessidades e manda os técnicos estudar. E entre estas necessidades, não raro,
está a de cortar investimentos justamente em tecnologia. E haja Freud, meu Deus, para fazer frente a tanta angústia!
Daí que o profissional de TI deve abrir mão do velho vício de encarar o legado
tecnológico das empresas como um inimigo a ser denunciado em seu aspecto antiquado e precário (ou como um obstáculo para a venda
de suas soluções de último tipo).
Ao invés de apontar o legado como um fardo a ser inevitavelmente absorvido na estratégia
nova, que tal se a indústria de TI passar a reconhecê-lo como um ativo a ser explorado em suas potencialidades? E a saída para esta
garimpagem produtiva está, de fato, ao alcance das boas soluções de TI.
É este, ao que tudo indica, o caminho de possível retomada para o setor. Se quiséssemos
resumi-lo numa única expressão, esta seria amadurecimento; ou respeito às premissas de negócios (que vêm antes das de
TI). A velha euforia não deve voltar mais; mas a depressão do setor, esta também é passageira; é só uma questão de tempo e de
recolocar as idéias no lugar.
Francisco Benzi
(*)
Francisco Benzi é presidente da
Grow Technology in Business. |