NOTÍCIAS 2002
Questionada a segurança do SPB
A certificação digital assegura a autenticidade das transações, mesmo as que foram originadas
por hackers
Marcelo Silva (*)
Colaborador
A entrada do novo Sistema de Pagamento Brasileiro (SPB) retoma
a discussão em torno do velho problema que ameaça as corporações da economia digital: a questão da segurança da informação. Depois
dos bancos, os correntistas pessoa jurídica passarão a efetuar operações bancárias a partir de R$ 5 mil por meios eletrônicos já a partir do segundo
semestre de 2002, pelas previsões do Banco Central (Bacen). Entretanto, as corporações em geral ainda têm pouca noção de como usar
SPB e dos prejuízos incalculáveis que a falta de uma política de proteção de dados mais elaborada pode causar neste processo.
De fato, as operações via SPB chegam para assegurar o mercado financeiro e os correntistas
contra eventuais perdas causadas pela quebra de uma instituição bancária, a exemplo do que ocorreu com os bancos Marka e Fonte
Cindam, em 1999. Com o SPB, se o banco não tiver reserva suficiente para cobrir o crédito de imediato, a transação simplesmente não
acontece e o Banco Central deixa de cobrir o rombo proveniente das operações de crédito mal-sucedidas. Para implementar um sistema
de transação automatizado e seguro, os bancos investiram em média US$ 1 milhão em infra-estrutura tecnológica, além de mobilizar um
batalhão de técnicos para ajustar a plataforma dentro dos padrões do Bacen.
Mas, no ambiente usuário-banco, a situação tende a se tornar crítica, justamente pelo
despreparo das corporações. Um recente estudo da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo comprova que 57% das indústrias
paulistas nem sabem como utilizar o SPB. Soma-se isso aos dados revelados pelos institutos de pesquisa. Segundo o Gartner Group, as
corporações brasileiras investem apenas 2% da verba de tecnologia com segurança, metade da média das americanas. Já um levantamento
da e-Consulting mostra que 38% das empresas não possuem nenhum plano de ação formalizado em caso de ataques e 23% não têm clara essa
definição. A situação torna-se ainda mais agravante, uma vez que cerca de 85% das fraudes e ataques à rede são feitos por
funcionários insatisfeitos, de acordo com o IDC. Os números refletem a realidade do dia-a-dia: 75% das grandes companhias não
utilizam sequer sistema de detecção de intrusos.
Há um consenso que nenhum sistema é suficientemente seguro aos ataques e invasores.
Dependendo do grau de vulnerabilidade de uma rede, basta ter um simples PC ou laptop com Internet e programado com CD-ROMs
que vêm nas revistas de informática, para um hacker iniciar a sua escalada em qualquer sistema. Uma vez na rede, o ladrão
cibernético tem acesso a todos os diretórios da empresa, inclusive aos códigos das chaves de criptografia, números de documentos e
cartões de crédito, senhas e outras informações necessárias para comandar as movimentações financeiras.
Até hoje, os bancos contornavam facilmente casos de estorno e golpes por meio de solicitação
escrita ou verbal. Mas, com o SPB, cada transação é autenticada pela assinatura digital própria, uma espécie de documento eletrônico
com validade jurídica, e sem possibilidade de repúdio. Ou seja, uma ordem de pagamento ou transferência de recurso emitida não pode
ser cancelada e tanto o banco quanto o correntista não têm como negar que a enviou. Dessa forma, como comprovar fraude numa ação
eletronicamente certificada?
O SPB substitui os paradigmas de confiança, entre as instituições financeiras e entre bancos
e clientes, por garantias baseadas em comprovações. E as empresas precisam acordar para esta nova realidade. Os investimentos em
segurança da informação, mais do que nunca, devem ser revistos e priorizados.
(*) Marcelo Silva é diretor da True Access São Paulo. |