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NOTÍCIAS 2002

O capital

Dailton Felipini (*)
Colaborador

Ao escrever o titulo deste artigo, me veio à mente o famoso livro do velho Karl Marx. A primeira vez que apareci com esse livro na casa de uma tia, com quem morava nos tempos de estudante, notei um olhar desconfiado percorrendo o semblante de toda a família. “Será que esse garoto virou comunista!!” deve ter sido o pensamento coletivo.

Na verdade, a leitura era apenas o dever de casa exigido pela professora de Sociologia. A única coisa de comunista que tive na vida foi uma namorada, estudante de Economia da Unicamp, que tentou durante mais de um ano me convencer, sem sucesso, da necessidade premente dos trabalhadores pegarem em armas para se libertar da opressão dos capitalistas. Como era de se esperar, não tiveram sucesso, nem a dita revolução, nem o meu namoro dialético.

Na verdade, hoje soa até anacrônica essa estória toda. Mas, voltando aos tempos presentes, a palavra "Capital" sempre teve um certo peso, um quê de coisa perigosa ou daninha demais, principalmente em países de formação predominantemente católica como o nosso.

Tive esses pensamentos, entre uma palestra e outra de um evento sobre Capital
de Risco organizado recentemente pela Endeavor. Um dos objetivos do evento era aproximar candidatos a empreendedores do Capital, aquele recurso sem o qual qualquer bom projeto se mantém eternamente apenas como uma boa idéia.

Diversos estudos indicam que uma das grandes dificuldades dos empreendedores no Brasil, aliada à falta de formação e às incertezas econômicas, é a dificuldade de alavancar capital - principalmente na fase inicial dos projetos, quando a idéia ainda não saiu do papel ou, se saiu, ainda não começou a produzir resultados expressivos.

Capital, no Brasil, não é uma mercadoria facilmente acessível aos pequenos investidores. É uma mercadoria cara e para a qual não dispomos de uma oferta regular, isso devido principalmente à ausência de mecanismos eficientes de aproximação entre candidatos a empresários e investidores de capital de risco. E é esse, no meu entender, um ponto fundamental: a aproximação entre o empreendedor motivado, entusiasmado com um bom projeto na mão, do investidor com recursos e disposto a correr riscos, desde que presumivelmente compensadores.

Ambos possuem os componentes fundamentais para a equação final que pode resultar em sucesso: conhecimento, motivação, uma boa idéia e os recursos para colocá-la em prática. A associação de ambos possibilita o lucro, a geração de emprego, renda e benefícios para ambos e para toda a coletividade através da incorporação de parte da receita para os cofres públicos.

O citado evento teve como mérito facilitar essa aproximação, mas ainda é um exemplo isolado e, obviamente, em termos quantitativos, sequer arranha a enorme massa de empreendedores buscando uma pequena quantia de capital para dar o empurrão inicial ao seu projeto.

Eu diria que a grande maioria desses empreendedores busca, na verdade, mais apoio estratégico que grandes volumes de recursos. É nesse contexto que ganham importância iniciativas desenvolvidas por entidades diversas como Sebrae, BNDES, Finep; organizações como as incubadores de empresa que têm se expandido muito no Brasil (ver a página incubadoras.htm); além de sites como o E-commerce e diversos outros, que procuram disseminar conhecimento qualificado de forma a facilitar o surgimento de novos casos  de sucesso.  O Brasil já ocupa lugar destacado no ranking quantitativo de empreendedores, nossa missão agora, é expandir o número de bons projetos que conseguirão se transformar em negócios viáveis e lucrativos e que gerarão benefícios para toda a sociedade.

(*) Dailton Felipini é mestre em Administração pela Fundação Getúlio Vargas, consultor e professor de Planejamento e Gestão de Empresas Ponto-com na Universidade Ibirapuera e editor do site E-commerce.org.br. Texto publicado pelo autor em 16/05/2002.