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NOTÍCIAS 2002 - COMÉRCIO ELETRÔNICO
O que o futuro reserva para o Brasil? - II

Dailton Felipini (*)
Colaborador

No artigo anterior, fizemos uma previsão de que cerca de 50 milhões de pessoas estarão conectadas à Internet no Brasil até o final desta década, o que é uma excelente perspectiva, na medida que teríamos um grande e qualificado mercado a ser trabalhado. Mas será que a existência do internauta significa necessariamente a existência do consumidor on-line? Essa é uma questão pertinente, principalmente se olharmos com mais profundidade os números da Internet hoje.

Dos 13 milhões de internautas, cerca de metade, 6,5 milhões, são os chamados usuários ativos, aqueles que acessam a Web pelo menos uma vez por mês. Destes, menos de um terço, cerca de 2 milhões, são compradores efetivos, ou seja, atingimos hoje 15% do mercado potencial, sendo que os itens comprados são majoritariamente produtos de baixo valor unitário como livros e CDs.

O foco de nossa análise deixa de estar, portanto, na relação internauta/população e passa a estar na relação consumidor/internauta e, sob esse prisma, as variáveis centrais, no nosso entender, são as seguintes:

O hábito de compra. O ato de comprar, é um ato comportamental. A compra on-line é um comportamento novo, um hábito que não está consolidado, ainda, para a maior parte dos usuários da Web, sendo a aquisição desse hábito um processo dinâmico, que leva algum tempo até ocorrer.

Basta analisar nosso próprio comportamento: a partir do momento que pessoas próximas a nós, as mais ousadas, começaram a realizar compras pela Internet, tivemos um estímulo positivo para fazer o mesmo e, um belo dia, lá estávamos nós arriscando a compra de um livrinho ou CD pela Web. A partir da primeira compra, sentindo a facilidade e a comodidade de comprar pela Internet, fomos aos poucos criando o hábito da compra on-line e nos transformamos em consumidores, aumentando a freqüência de compras e o valor dos bens adquiridos.

Evidentemente, a velocidade desse processo é peculiar a cada indivíduo, e provavelmente tenhamos pessoas que nunca comprarão pela Internet. Mas, tudo indica que o hábito de compra se espalha à medida que mais pessoas se sentem seguras no ambiente virtual, passam a repetir o comportamento da compra e, ao mesmo tempo, as empresas ponto-com ampliam a oferta e a qualidade dos produtos disponibilizados on-line e melhoram o processo de comunicação e comercialização de seus produtos e serviços.

Novas gerações de consumidores. Outro aspecto a ser considerado é que a nossa é uma geração de transição. Presenciamos o nascimento desse mundo virtual chamado Internet e fomos obrigados a nos adaptar a essa nova realidade, num processo nem sempre tranqüilo.

Para as novas gerações que estão surgindo em um mundo já conectado, a realização de transações on-line, como divertir-se, comunicar-se, pesquisar, aprender e comprar serão realizadas com a mesma familiaridade com que hoje nós utilizamos o telefone ou ligamos a televisão. Quem já viu um garoto de sete anos brincando no computador sabe do que estou falando.

O fato é que o processo de integração a essa nova realidade - que para nós pode ser assustador - será para as novas gerações uma grande e divertida brincadeira, de tal forma, que a compra on-line ocorrerá de forma extremamente natural.

Tendências globais. É verdade que esse processo de transformação de internautas em consumidores on-line ocorre  a um ritmo distinto em cada país dependendo de variáveis diversas como nível educacional da população, renda, grau de segurança disponibilizado, desenvolvimento das empresas, entre outras.

Mas o fato concreto indicado pelos dados históricos e pelas pesquisas é que o percentual dos compradores em relação aos usuários aumenta ao longo do tempo em praticamente todos os países.

Basta olharmos para os Estados Unidos, nosso indefectível paradigma da Internet, onde mais da metade dos Internautas compra on-line. Há cerca de dois anos (N.E.: 2000), uma ampla pesquisa realizada pela empresa Ernst Young em 12 países, (ver resumo da pesquisa em e-commerce.org.br) inclusive o Brasil, já apontava, entre outras, três grandes tendências:

Cada vez mais internautas estão comprando on-line.
Os consumidores estão aumentando a freqüência de compras.
Os consumidores estão aumentando a média de gastos.

Associando-se a isso a tendência apontada no artigo anterior, de aumento no número de pessoas conectadas a Internet, chegamos a um cenário muito promissor, no qual visualizamos para o Brasil uma grande quantidade de pessoas conectadas à Internet, das quais uma expressiva parcela realizando compras on-line. Façam suas apostas.

(*) Dailton Felipini é mestre em Administração pela Fundação Getúlio Vargas, consultor e professor de Planejamento e Gestão de Empresas Ponto-com na Universidade Ibirapuera e editor do site E-commerce.org.br. Texto publicado pelo autor em 15/04/2002.