NOTÍCIAS 2002
Nenhuma ponte é longe demais
Mário Persona (*)
Colaborador
Uma ponte. Era isso que John Roebling tinha em mente. Um
caminho que ligasse a ilha de Manhattan ao Brooklyn, em Nova Iorque. Corria o ano de 1863 e os especialistas eram unânimes em
afirmar que aquela seria "a ponte impossível". Roebling acreditava que aquela seria "a ponte milagrosa". Só ele sabia como chegar
lá.
Ele comunicou sua visão ao filho, Washington Roebling, que dava seus primeiros passos na
Engenharia. A mesma visão que movia o pai se transformou na paixão que levaria o filho a suportar as piores dificuldades. "Pior do
que ser cego é não ter uma visão", escreveu Helen Keller, cega, surda e muda desde a infância. Ela é uma das cem pessoas que,
segundo a revista Time, tiveram maior influência na sociedade no último século.
Segundo Chris Widener, "Visão é o espetacular que nos motiva a viver o trivial". Você não
será um líder bem-sucedido se achar que "Visão" é um quadro na parede que todos podem ler, mas que ninguém consegue ver. Visão não é
fórmula para ser decorada. É a centelha que desperta a paixão e produz o empenho para que cada um cumpra sua missão.
John Roebling morreu de tétano após um acidente no início das obras. A ponte cobrou seu
preço também do filho Washington, mudo e paralítico pelas seqüelas causadas por uma descompressão, quando visitava as câmaras
submersas onde eram escavadas as fundações. A equipe ficou sem rumo. Todos podiam ver o outro lado do rio Hudson, mas ninguém sabia
como chegar lá.
Se você acha que não existe nada mais destrutivo para uma empresa do que a incapacidade de
se comunicar com o mercado, é bom ampliar essa idéia. A moeda da comunicação também tem duas faces. Uma falha na comunicação interna
e sua ponte cai. Você fica isolado.
No Vietnã - Fred Smith, fundador da FedEx, disse que aprendeu liderança com um
sargento, quando estava no Vietnã. Ele dizia, "Se quiser liderar suas tropas, lembre-se de fazer três coisas: Atirar, avançar e
comunicar".
Movendo apenas um dedo em virtude da lesão no cérebro, Washington desenvolveu um código para
se comunicar com a esposa. Nos treze anos que se seguiram, sua mulher Emily supervisionou as obras, guiada por sua tenacidade e
pelas instruções do marido, dedilhadas em código em seu braço. A verdadeira comunicação não pára. "Na alegria e na tristeza, na
saúde e na doença".
Uma visão não é apenas comunicada, mas deve ter o poder de comunicar. Deve atrair, motivar a
busca pelo melhor caminho para a viagem, e ser sedutora para que ninguém se distraia com a paisagem. Direção, estratégia e
prioridade. O verdadeiro líder facilita isso conhecendo as limitações de sua equipe e ajudando cada um a enxergar o destino. Assim,
todos seguem na mesma direção, concordam com o caminho e permanecem motivados.
Estrada rural na Irlanda: também ali os
animais têm ao alcance da vista o fim de cada etapa do caminho
Ovelhas - Como faziam os pastores de ovelhas na Escócia. Viajando de carro por uma
região rural, fiquei intrigado com o traçado da estrada. Ladeada por muros baixos de pedra que protegiam os pastos, a estrada seguia
em linha reta por um ou dois quilômetros, fazia uma curva fechada para a direita ou para a esquerda por alguns metros, para retomar
a direção original em linha reta por mais um ou dois quilômetros, antes de uma próxima curva. Numa região plana, sem morros, rios ou
árvores, viajei por retas e curvas que não desviavam de coisa alguma.
Entender aquele zig-zag foi uma das mais importantes lições de liderança que aprendi. A
estrada havia sido construída sobre um antigo caminho, uma rota de viagem dos rebanhos. Ao contrário do vaqueiro, que vai atrás
tocando o gado no berro, o pastor vai à frente, seguido de bom grado pelas ovelhas. Ou caminhando sozinho, se não for um bom líder
ou não entender seu rebanho.
Ovelhas são como os humanos, têm uma personalidade complexa. Para liderá-las, o pastor
precisa conhecer seu comportamento. Para motivá-las, deve entender suas limitações, contornando-as para que não desistam. Quando não
enxergam o fim da estrada, acham que o destino está longe demais e param na primeira sombra. Mas, se vêem o fim do caminho, seguem
trotando, animadas. Os pastores que construíram aquela estrada sabiam disso. Criaram curvas para que as ovelhas sempre enxergassem o
fim do caminho. Que nunca era longe demais.
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Mário Persona é consultor, escritor e
palestrante. Esta crônica faz parte dos temas apresentados em suas palestras. Edita o boletim eletrônico
Crônicas de Negócios e mantém endereço próprio
na Web, onde seus textos estão disponíveis. |