NOTÍCIAS 2002
A urgência inútil e contraproducente
Como o tempo precioso é desperdiçado com interrupções inúteis, alarmes falsos, idéias tolas,
boatos e problemas insolúveis
Sérgio Buaiz (*)
Colaborador
Até que ponto vale a pena correr contra o tempo? Até que ponto
a tecnologia é importante e quando ela começa a atrapalhar sua vida?
A evolução dos meios de comunicação chegou a um limite em que se faz necessário repensar a
relação entre pessoas e máquinas, antes que a humanidade entre em colapso e comece a viver uma nova era: a do desperdício.
Ao mesmo tempo em que as máquinas nos obrigam a desenvolver novas capacidades para
acompanhar a velocidade de raciocínio e das mudanças, começamos a prejudicar nossa produtividade pelo senso de urgência burra que
está contagiando todo mundo.
Não há mais tempo a perder, certo? Ok! Mas isso deveria ser melhor interpretado. Afinal,
agir com afobação pode ser muito pior que ficar estacionado no mesmo lugar. Temos visto as pessoas correndo, estressadas,
workaholics trabalhando dia e noite para "aproveitarem o tempo", interrompendo seus afazeres a cada cinco minutos para atenderem
celulares, enfim, temos visto pessoas emburrecerem de uma hora para outra, tornando-se reféns da tecnologia, da comunicação e do
ruído.
O potencial de toda essa parafernália é maravilhoso, mas o excesso de informações circulando
está criando um permanente estado de interrupção nos seres humanos. Concentração, repouso e tranqüilidade estão se tornando palavras
caducas em nosso vocabulário. Tendem a desaparecer, se não houver um esforço para salvá-las.
Sem pensar - O celular virou uma praga. Estar acessível 24 horas por dia é um convite
a ser interrompido com inutilidades a qualquer momento. As pessoas não têm discernimento sobre quando e por que ligar. Pior: estão
perdendo o hábito de pensar antes de agir!
Não importa o que aconteça, a primeira reação é ligar para alguém contando a novidade. Na
maioria dos casos, a tal novidade não é tão importante que justifique a interrupção da outra pessoa, que perde a concentração
no trabalho, nos estudos ou no trânsito. Há poucos anos, a mesma novidade poderia ser revelada pessoalmente, em um momento mais
oportuno, sem a necessidade de interromper quem quer que seja, na hora errada.
Agora, logo que surge uma idéia, corre-se ao telefone para compartilhar a nova pérola. Quase
sempre é uma pérola inacabada ou que se mostra menos valiosa poucas horas depois. Muito melhor seria se o autor pudesse refletir
mais sobre a tal pérola, antes de incomodar os outros com assuntos inúteis.
Uma ligação também serve como desculpa para não assumir responsabilidades. Assim, um pequeno
problema pode ser passado de mão em mão, como se fosse uma batata quente, até queimar a mão de alguém no caminho da informação.
Também é comum usar o telefone para avisar outras pessoas sobre problemas que elas não podem
resolver. É só uma forma de adiar a resolução do mesmo, prejudicando o estado emocional do outro desnecessariamente.
Hora certa - De que adianta incomodar os outros com tantas inutilidades? Por que
subutilizar a tecnologia e atrapalhar seus colegas de trabalho, parentes e amigos com assuntos que poderiam ser tratados em um
momento mais oportuno? Se você está disponível, não significa que o outro esteja. Ter celular e estar acessível não quer dizer que é
uma boa hora de receber uma ligação!
Tanta urgência em comunicar bobagens torna contraproducente o uso da tecnologia. Afinal, o
tempo que nos é tão precioso acaba sendo desperdiçado com interrupções inúteis, alarmes falsos, idéias tolas, boatos e problemas
insolúveis.
Por isso, antes de usar qualquer tecnologia para se comunicar com alguém, procure refletir
se a informação é realmente importante. Ela precisa ser transmitida naquele exato momento ou pode esperar a melhor oportunidade?
Este é o melhor meio de comunicar? Você precisa interromper a pessoa ou deixar um recado é suficiente?
Quando aprendermos a agir com mais bom senso, a tecnologia será sempre bem-vinda.
(*)
Sergio Buaiz é
publicitário e escritor, autor do livro "Marketing de Rede - A Fórmula da Liderança", diretor de Projetos da
Comunidade BeFriends, membro do conselho editorial da revista
Vencer! e embaixador da Universidade do Sucesso. |