NOTÍCIAS 2002
Um comércio justo e solidário
Uma alternativa de negócios
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Il commercio equo e solidale
"Ademàs que vender un producto, compartimos un proyecto, mil y
miles de artesanos del Sur y voluntarios de las tiendas del Mundo, para una red de comercio justo y solidario".
"Piuttosto che vendere un prodotto, sposiamo insieme un
progetto, le migliaia di artigiani del Sud e i volontari delle botteghe del Mondo, per creare una rete di commercio giusto e
solidale".
(Rigoberta Menchù, Prêmio Nobel da Paz)
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Joana Lúcia Maciel (*)
Colaboradora
Com mais de 30 milhões de dólares/ano, o comércio justo e
solidário (ou comércio equo-solidário) é a nova moda do momento que promove a oportunidade de desenvolvimento para produtores
desfavorecidos (deficientes físicos, marginalizados, mulheres e povos indígenas), além de proteger as crianças da exploração do
processo produtivo; aumentando assim a consciência dos consumidores acerca dos efeitos negativos que o comércio internacional impõe
sobre os pequenos produtores.
O comércio solidário é um negócio social que não visa somente o bem-estar econômico da
globalização do comércio internacional, mas sim, equaciona igualmente a produção sem explorar o pequeno produtor, dando oportunidade
aos pequenos artesãos e produtores de participar da internacionalização dos negócios através de um desenvolvimento sustentável e de
condições comerciais e sociais justas, com uma forte campanha de sensibilização e informação que sustente o respeito pelos direitos
humanos.
Luis Euzébio, responsável pelos projetos da área da América Latina do Consórcio CTM, afirma:
"As pessoas que produzem, em contato com o nosso consórcio, são comunidades organizadas que buscam lógicas de auto-desenvolvimento;
são trabalhadores familiares, cooperativas, associações ou federações das mesmas, pequenas empresas, fundações, entidades sociais e
religiosas, sindicatos etc., que têm como principal objetivo salvaguardar os direitos das categorias sociais desfavorecidas; fazendo
com que recebam pelo seu trabalho uma retribuição justa, que leva em conta o custo de vida em cada situação, que compense o custo da
produção, que garanta a satisfação das necessidades sociais básicas tais como alimentação, saúde, moradia e educação.
O consórcio CTM Altromercato é uma central de
importação sem fins lucrativos, cujos sócios – as chamadas Lojas do Mundo – são empenhadas na promoção e difusão do comércio
solidário na Itália. Os principais produtos distribuídos são os agro-alimentícios e artesanais (cerâmica, têxteis, instrumentos de
música, jóias, objetos de uso pessoal e de decoração), os quais são expressões e valorizações das tradições e da cultura do país de
origem, ecologicamente compatíveis, e suas produções não prejudicam quem produz e nem quem consome.
Com mais de 10 anos de atividade, participou de mais de 150 projetos de produtores presentes
em 40 países da América Latina, Ásia e África. Emprega atualmente mais de 50 pessoas, diretamente ligadas à CTM, sem contar com
empregados das 250 lojas do mundo e voluntários - que, na contagem geral, são em média 3.000 pessoas, entre voluntários e
comerciantes. O principal canal de vendas para os produtores é constituído pelas Lojas do Mundo: associações e cooperativas que
dirigem pontos de venda e informação, graças ao trabalho voluntário.
A CTM representa uma das mais importantes cooperativas do comércio solidário. Associada à
European Fair Trade Association (Efta), que
reúne e coordena a atividade de 12 Organizações de Comércio Alternativo (Alternative Trade Organizations - Atos) de nove países
europeus; além de participar da Federação Internacional de Comércio Alternativo (International
Federation of Alternative Trade - Ifat) reúne e oferece possibilidades de intercâmbio a
organizações do comércio solidário do Sul e do Norte do mundo.
(*) Joana Lúcia Maciel é jornalista, correspondente de
Novo Milênio baseada em Turim, na Itália.
Uma alternativa de negócios
Carlos Pimentel Mendes
Editor
Dados das Nações Unidas indicam que, a cada ano, os países
pobres perdem cerca de US$ 500 milhões por causa da iniqüidade do mercado internacional. Para combater essa injustiça, nos últimos
30 anos têm surgido as organizações de comércio equo-solidário, que objetivam criar um novo relacionamento entre produtores e
consumidores.
Essa rede alternativa de comércio coloca em contato cooperativas de produtores do Hemisfério
Sul com cooperativas de importadores e vendedores do Norte (na Itália, o representante é a Cooperativa Terzo Mondo - CTM - criada
nos anos 1980). Cerca de 50 associações participam dessa rede, comprando produtos alimentares e artesanais para comercialização,
estabelecendo os preços diretamente com os produtores e assim evitando a intermediação devastadora das multinacionais.
Um exemplo citado pelo italiano
Departamento de Ação Social e Relações
Públicas é o do café: a produção de Chiapas (estado mexicano) é comprada a valores mínimos por intermediários que revendem o
café às multinacionais, sobrando bem pouco de renda para os agricultores. Entretanto, um dos primeiros cafés equo-solidários no
comércio provém da Nicarágua, onde alguns agricultores formaram uma cooperativa para produzir o café vendido diretamente a
cooperativas da rede solidária em outros países, como a Itália, sem qualquer intermediação.
Várias páginas já estão disponíveis na Web sobre essa nova forma de comércio
internacional, além das citadas, como a da rede européia de Lojas do Mundo, a italiana
Bottegue del Mondo, a página da Rede Lilliput e a dos
parceiros no mundo desse mercado alternativo. Esse tipo de
comércio é conhecido também como Fair Trade, visando uma nova visão da economia e do mundo,
como explica uma das páginas do site italiano La Cittá Invisible., que também
tem (em italiano e em inglês) a história desse comércio alternativo, os principais endereços internacionais, listas de debates na
Net etc.
Outra página italiana apresenta um
guia temático sobre o comércio alternativo. Uma importante
organização italiana do setor é a Transfair Italia. O site Digilander sobre o tema (Il Commercio Equo e Solidale) destaca, entre outras questões, a da marca de certificação
do produto, com a constituição da Fair Trade Labelling Organizations International (FLO International). Na Europa, essa certificação
tem sido dada pela firma holandesa Max Havelaar. Há também o Istituto
Mediterraneo di Certificazione (Imc). E a Comunidade
Econômica Européia está patrocinando a publicação da revista Cric sobre esse comércio alternativo.
Mais organizações de comércio equo e solidário no mundo:
Les Magasins du Monde Oxfam (Bélgica), Fair Trade
Organisatie (Holanda), Ideas (Espanha),
EZA (Áustria),
Gepa (Alemanha),
Solidar'monde (França),
Claro (Suíça),
Oxfam trading (Reino Unido), Fairtrade (Canadá)
e Fairtrade (Nova Zelândia).
Preço transparente - Geralmente, os produtos do comércio equo-solidário têm o chamado
preço transparente: uma etiqueta que identifica para o consumidor a procedência da mercadoria, a descrição, organismo
certificador de qualidade, nome da comunidade produtora e os elementos (em valor e percentual) componentes do preço: valor pago ao
produtor, custo de transporte e manipulação complementar (torrefação e moagem, no caso do café), ganho do importador e do lojista,
impostos incidentes e preço final.
Ainda no caso do café, o valor pago ao produtor chega a ser três vezes maior do que no
comércio tradicional. Não raro, a etiqueta inclui um dístico, aguilhoando o sistema tradicional: "Made in Dignidade" (ou:
Produzido com Dignidade)... |