NOTÍCIAS 2002
O líder na panela de pressão
Mais que autocontrole, você precisa manter uma pressão saudável sobre o seu time
Sérgio Buaiz (*)
Colaborador
Quem nunca ouviu falar em válvula de segurança e válvula de
escape? Todos os equipamentos que trabalham em alta pressão devem possuir uma válvula que regula a liberação do vapor, para evitar
que um grande estrago aconteça quando a pressão máxima for alcançada.
Um exemplo bem simples desse mecanismo é a panela de pressão, inventada pelo físico francês
Denis Papin. Em 1861, ele publicou uma descrição do equipamento que batizou como "digestor". Na época, Papin demonstrou que o seu
invento reduzia ossos a gelatina comestível, diante de uma platéia curiosa de cientistas da Royal Society.
Após essa descoberta, o digestor começou a ser empregado para muitas finalidades além das
tarefas domésticas que conhecemos. Seja para esterilizar melhor o material cirúrgico nos hospitais, seja para cozer polpa de madeira
e soltar suas fibras na indústria de papel, seja para eliminar o maior número de bactérias e garantir a melhor preservação dos
alimentos nas fábricas de conservas, o digestor é realmente um sucesso!
Mas afinal, o que podemos aprender com isso? O que faz um digestor ou panela de pressão?
Como o líder pode se aproveitar desses conhecimentos? Em primeiro lugar, você sabia que, ao nível do mar e num recipiente aberto, a
água ferve a 100º C? Sabia que, uma vez alcançada essa temperatura, aumentar a chama serve apenas para desperdiçar o gás e evaporar
a água mais rápido? Sabia que, depois que a água já está fervendo, a temperatura permanece constante em 100º C??! Ou seja, não
importa quanto tempo isso leve e nem a quantidade de gás "investida", o que estiver dentro da água levará sempre o mesmo tempo para
cozinhar.
Entretanto, Papin descobriu que em um recipiente fechado como o digestor, é possível
conservar o calor e aumentar a pressão, de modo que a temperatura pode chegar até 120º C. Com isso, a carne, batata, feijão ou
qualquer outro alimento cozinham muito mais depressa!
Pressão corporativa - Traduzindo isso para o ambiente corporativo, faz sentido
imaginar que alguma “pressão” pode fazer uma equipe render mais que a “fervura” normal? Pense bem: não é verdade que, em situações
extremas, você demonstra mais atenção, objetividade e desempenho que no trabalho rotineiro de todos os dias? O que faz um atleta
extrair o máximo de sua capacidade física e mental em competições importantes como olimpíadas ou mundiais?! Um artista experiente
costuma fazer suas melhores apresentações para 10, 500 ou 100.000 pessoas?
Repare que a pressão se manifesta de várias formas e não deve ser necessariamente ruim. No
caso da água, é apenas a limitação do espaço e a concentração de vapor que aumentam sua temperatura. Da mesma forma, a pressão que
você pode exercer sobre a sua equipe também deve ser positiva e estimulante.
Não é preciso usar de ameaças de corte, competitividade desleal, vigilância exagerada,
rigidez de horários e um ambiente de trabalho desagradável para comandar o seu time a uma vitória. Pelo contrário, as vitórias serão
mais freqüentes se você desenvolver outras formas de pressão mais saudáveis, com motivação, reconhecimento e resultados.
Liderança - Ser líder é saber
extrair o máximo de cada integrante da equipe. É saber identificar pontos fracos desses integrantes e aprimorá-los a cada dia. É
garantir as condições e o estímulo necessário para que cada participante desempenhe o seu papel da melhor forma possível, através de
um esforço contínuo em busca da excelência.
Nenhuma equipe solta produzirá tanto quanto uma equipe liderada e motivada diariamente, com
metas específicas e o olhar atento de um treinador. Entretanto, elogios são mais importante que as críticas. Prêmios são melhores
que castigos!
O líder pode e deve “pressionar” sua equipe a se mover, mas ninguém gosta de críticas e
castigos. A pressão precisa ser positiva. Todos devem superar seus limites dia após dia, em cada detalhe do seu desempenho. Um
resultado igual ao do dia anterior não traduz a necessidade de melhoria contínua, exigida em um mercado competitivo e em constante
transformação. É preciso instigar e provocar a instabilidade positiva. Nada pode ficar parado no mesmo lugar, estacionado ou
esquecido.
Não estamos falando de vigilância, ordens e desmandos de um chefe. Estamos falando de
estímulo e motivação permanentes, em que todos buscam o mesmo resultado coletivo;
Tampa e válvula - Entretanto, é necessário que o líder compreenda o seu papel de
"tampa" nessa panela de pressão. É ele quem regula o ar e a concentração de vapor dentro da panela, com o objetivo de manter o
desempenho da sua equipe em estado da arte, a 120º C. É ele quem controla a válvula, garantindo um respiro sempre que necessário,
quando as condições dentro da panela forem adversas ou extremas.
Da mesma forma que o pino da válvula sobe e libera o calor quando a pressão dentro da panela
alcança o limite, o líder precisa valorizar o descanso, organizar eventos sociais de integração e descontrair sua equipe sempre que
possível. Oferecer ginástica, cursos, passeios, palestras, atividades esportivas e culturais são boas formas de respiro que fazem
bem à equipe e promovem a união de todos.
A comemoração ostensiva de cada vitória também serve como respiro e estímulo ao mesmo tempo.
Toque a sirene, bata um sino ou abra champagnes sempre que uma meta importante for alcançada. Faça com que todos saibam do
progresso coletivo e se contagiem desse astral para darem continuidade ao bom trabalho.
O líder precisa entender como funciona uma panela de pressão para extrair o máximo de sua
equipe com segurança. Só assim ele poderá exercer corretamente o seu papel de tampa e válvula, sempre que necessário.
Se a panela não tiver tampa ou ela estiver pouco vedada, a temperatura da água e sua equipe
ficarão em 100º C. Por outro lado, se a vedação da tampa estiver correta, mas a válvula não funcionar de acordo, a panela de pressão
estoura e compromete os resultados, queimando todos a sua volta.
Por isso, é necessário que o líder esteja sempre muito atento à temperatura da água,
entendendo que 100º é pouco e 120º C é o máximo a que sua equipe pode alcançar. Se deixar a coisa solta, terá resultados medianos e
fracos em relação à concorrência. Se apertar demais, todos correrão um risco desnecessário.
Lembre-se: o excesso de calor produzirá apenas a evaporação mais rápida da água.
Se a equipe estiver acomodada demais ou começar a debandar, reflita sobre a tampa e a
válvula que tem sido até agora e mude o quanto antes. Afinal, quanto melhor for a sua panela, melhor serão as batatas!
(*)
Sergio Buaiz é
publicitário e escritor, autor do livro "Marketing de Rede - A Fórmula da Liderança", diretor de Projetos da
Comunidade BeFriends, membro do conselho editorial da revista
Vencer! e embaixador da Universidade do Sucesso. |